Publicado em
20/09/2024
Bate-papo online contou com a participação de Vanessa Hasson, advogada e doutora em Direitos da Natureza e Thalia Silva, ativista e educadora ambiental.
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A terceira edição do Diálogos Casa Comum, realizada no dia 17 de setembro, foi palco do lançamento da 10ª edição da revista, que pautou: Somos Natureza: a necessária conversão ecológica.
O bate-papo online, transmitido no Instagram da Revista Casa Comum, contou com a participação de Vanessa Hasson, advogada, fundadora da OSCIP MAPAS, mestre em direito ambiental e doutora em Direitos da Natureza, e Thalia Silva, educadora ambiental, coordenadora do Lab Comunicação da Rede e de Relações Políticas da Coalizão Nacional de Juventudes pelo Clima e Meio Ambiente.
Para aquecer o debate, Vanessa contou sobre o que ela tem feito a nível individual para cuidar do meio ambiente a sua volta e, de alguma forma, contribuir positivamente para o planeta: cuidar do lixo, cuidar de si mesma, cuidar da água e plantar árvores.
São pequenas atitudes, mas ações concretas, que fazem a diferença frente esse modelo econômico perigoso, que é o capitalismo. Entrevistados(as) e especialistas ouvidos(as) pela equipe da Revista Casa Comum alertam para o perigo que esse sistema oferece não só à Natureza e aos biomas do Brasil e do mundo, mas também aos seres humanos.
“Tudo vira recurso, tudo vira coisa apropriável. Essa denominação ‘recurso’ é utilizada de uma forma tão normalizada, se é que podemos chamar assim, que até mesmo seres humanos, para o capitalismo, são recursos: ‘vá lá falar com os recursos humanos’. Temos apenas esse valor econômico para esse desenvolvimento eterno, que nunca tem fim nesse sistema de acumulação”, comentou Vanessa.
A conversão ecológica, chamada da 10ª edição, se apresenta, portanto, segundo Vanessa, como uma reconsideração dessa premissa de que tudo tem valor econômico.
“A conversão ecológica está no fato e na ação sobretudo de darmos um passo atrás e relembrar que nós somos Natureza com os demais seres, que todos integram esse grande sistema Terra e que somos interdependentes. Se o rio que mora perto da minha casa está bem, eu também estarei bem, bebendo água, podendo brincar e ser feliz”, analisou.
Atuação e potência das juventudes
“A gente enquanto jovem, já pega um problema enorme que não foi a nossa geração que causou. Constantemente falamos que estamos vivendo um apocalipse, mas que não podemos perder a esperança.”
Foi com essa provocação que a ativista climática Thalia Silva contou como começou a lutar pela defesa do clima e diante da emergência climática com 14 anos, quando se entendeu como uma pessoa que vive na Amazônia.
Thalia citou a Pesquisa Juventudes Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (JUMA), realizada pelo Em Movimento e a Rede Conhecimento Social, que aponta que o meio ambiente é um dos três assuntos que mais interessa às juventudes. Ou seja, os jovens se preocupam com a temática e têm consciência de que algo precisa ser feito.
“A emergência que a gente vive é tão grave, que se não fizermos nada, as pessoas que estão há muito tempo no poder não vão fazer por nós. Tudo o que eu aprendi sobre mudanças climáticas eu trago para meu território para processos de formação para outras jovens do Ensino Médio, por exemplo.”
Apesar de existir uma preocupação grande dessa geração, Thalia entende que é necessário mais incentivo governamental para “fazer todo esse rolê acontecer”.
Direitos da Natureza e o papel de populações tradicionais e originárias
Mestre em direito ambiental e doutora em Direitos da Natureza, Vanessa comentou sobre a interconexão, complementaridade, reciprocidade e solidariedade que a Natureza ensina e que é colocado em prática por povos tradicionais, originários e indígenas, devido a sua integração ancestral profunda com aquele espaço e território por tradição.
Entretanto, uma violação e ironia é o fato de que aqueles que menos contribuem com as mudanças climáticas em seus modos de vida, de produção e consumo são os que mais sofrem com seus efeitos.
São populações tradicionais, ou seja, indígenas, quilombolas, ou mesmo as camadas em situação de vulnerabilidade dos grandes centros urbanos, que enfrentam violações constantes de seus direitos, de suas casas e terras, mas que, mesmo assim, continuam com suas formas particulares de se relacionar com a Natureza e com o espaço que ocupam.
Para Thalia, ainda falta educação ambiental e climática, em um contexto onde o racismo ambiental na Amazônia acarreta o baixo acesso à saúde e educação, além da pobreza energética.
“O estado do Pará é um dos maiores produtores de energia, mas tem diversos bairros hoje dentro da minha cidade que estão sem energia. 50% das pessoas dentro da minha cidade não têm acesso a água, e esse é um município com mais de 200 mil habitantes”, comentou Thalia.
A ativista também reforçou a importância de a população ter acesso a debates e a dados que explicam a crise do clima.
“Cada dia que passa a gente entende mais que a Amazônia ainda é muito explorada, mas que as pessoas aqui são muito pobres, numa zona de vulnerabilidade muito grande, e isso tem tudo a ver com as mudanças climáticas, porque o governo não debate esse assunto. Ainda não chegou no nosso território essa temática da crise climática.”
Fique por dentro
A 10ª edição da Revista Casa Comum já está no ar. Acesse a aba edições e fique por dentro das reportagens que pautam a urgência da conversão ecológica diante da emergência climática.
O caminho que se apresenta é a conversão ecológica, ou seja, uma mudança radical na qual, ao invés de explorar o planeta, a Natureza e a vida até a exaustão, é necessário aprender a cuidar da Terra e uns dos outros, em uma lógica de inter-relação, cultivo e cuidado.
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