Publicado em
17/08/2022
Sefras participa de audiência pública sobre a situação de carestia, insegurança alimentar e nutricional e a fome no Brasil
“Não dá para falar de fome sem falar de projeto de país. Não dá para falar sobre projeto de país sem falar de democracia. Um país que passa fome nunca será democrata ou nunca terá uma perspectiva de democracia. Chega de poderes que não governam para as pessoas ou para a vida.”
A fala é de Fábio Paes, coordenador de Advocacy do Sefras, durante audiência pública sobre a situação de carestia, insegurança alimentar e nutricional e a fome no Brasil. Fábio esteve presente no evento, no dia 2 de agosto, representando a Frente Nacional Contra a Fome e Sede.
A iniciativa, lançada em abril durante o Fórum Social das Resistências, realizado em Porto Alegre (RS), é uma resposta da sociedade civil na busca de formas de enfrentamento da fome e sede. A ideia é criar um espaço de educação e organização popular que pretende combater a fome de forma estrutural e emergencial, por meio da construção de um processo permanente de elaboração, convergência, organização e incidência política. Uma forma concreta de intervir na realidade e impactar milhares de pessoas em situação de vulnerabilidade.
“A fome e a sede são escolhas políticas que interferem diretamente no projeto de país que queremos para o nosso povo. É preciso que a sociedade civil, os diversos movimentos e organizações que atuam no combate à fome e à sede se mobilizem para incidir com essas pautas nas Eleições 2022, disputa decisiva para os rumos do Brasil”, aponta trecho de publicação da Frente em sua página do Instagram. Veja na íntegra:
Pandemia e a fome
A pandemia de Covid-19 teve muitos efeitos devastadores além das milhares de mortes causadas pelo novo coronavírus. O aumento da insegurança alimentar e fome no Brasil são os piores deles. Se no final de 2020, primeiro ano da pandemia, 19,1 milhões de brasileiros passavam fome, em 2022 são 33,1 milhões de pessoas sem ter o que comer, ou seja, 14 milhões de novos brasileiros em situação de fome em pouco mais de um ano.
Os dados são do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (II VIGISAN), que mostra que mais da metade da população do país – 125,2 milhões de pessoas – vive com algum grau de insegurança alimentar:
Recortes
O levantamento também mostra que a fome tem: gênero, cor e CEP.
Gênero:
Raça:
Território:
Relatam redução parcial ou severa no consumo de alimentos:
O Inquérito aponta, ainda, que as formas mais severas de insegurança alimentar – moderada ou grave – atingem fatias maiores da população nas regiões norte (45,2%) e nordeste (38,4%).
Papel social
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 1 e 2 são considerados complementares. Isso porque enquanto o primeiro preza pela erradicação da pobreza extrema para todas as pessoas em todos os lugares, o segundo visa, até 2030, acabar com a fome e garantir o acesso de todas as pessoas, em particular os pobres e pessoas em situações vulneráveis, incluindo crianças, a alimentos seguros, nutritivos e suficientes durante todo o ano.
Considerando o tamanho da questão, o tema, portanto, deveria ser de máxima urgência para toda a população: desde governantes e tomadores de decisão até estudantes. Isso porque é possível, com campanhas, doações e engajamento social, amenizar esse desafio que representa uma questão estrutural da sociedade brasileira.
Agenda interseccional: a conexão da fome com outras agendas sociais
O desafio da fome vai muito além de ter ou não o que comer, e engloba também outras pautas urgentes, como o emprego. A insegurança alimentar leve, por exemplo, que diz respeito à incerteza quanto ao acesso a alimentos em um futuro próximo, pode se relacionar com a situação social da pessoa/família. Sem um emprego fixo, aumenta a dúvida sobre o pagamento, o que impossibilita uma garantia sobre quando poderá comprar/acessar comida novamente.
Além das campanhas individuais de arrecadação de recursos, alimentos e kits de higiene – que se espalharam principalmente durante o primeiro ano de pandemia -, inúmeras organizações sociais também desempenham papel fundamental de conectar grandes doações com quem mais precisa e também criar e rodar suas próprias campanhas.
Ação do Sefras
O combate à fome de populações extremamente vulneráveis – idosos sozinhos, imigrantes e refugiados, crianças pobres, população de rua e pessoas com hanseníase – é um dos pilares da atuação do Sefras.
A organização desempenha um papel importante em situações emergenciais como a Covid-19, com a criação de serviços como a Tenda Franciscana, no Largo São Francisco, em São Paulo. Com 200 metros quadrados, o espaço foi criado para receber doações, atendimento de saúde e higienização para a população de rua, formação de voluntários e, principalmente, alimentação à população de rua e desempregada do centro da capital.
Também foi durante a pandemia, devido ao aumento de famílias em situação de rua, que o Sefras montou a Casa Franciscana, no bairro do Glicério (SP), onde foram oferecidas 600 refeições diárias, além de atendimento social a esse grupo. Em 2020, foram distribuídas mais de 33 mil cestas básicas, que contribuíram para a alimentação de mais de 6 mil famílias do entorno dos serviços do Sefras junto a ocupações, comunidades vulneráveis e paróquias.
Mas, além de colocar a mão na massa, o Sefras também desempenha um papel de incidência em articulações e redes que debatem ativamente a questão da fome. “Entendemos nossa atuação em prol dos famintos mais do que a distribuição direta de comida, mas também participando de maneira propositiva pela busca de soluções definitivas e sustentáveis”, defende a instituição.
No fim de junho, por exemplo, o Sefras participou do Encontro Nacional Contra Fome, realizado no Rio de Janeiro e organizado pela ONG Ação da Cidadania, que contou com a participação de diversas organizações da sociedade civil que atuam na temática de segurança alimentar, como CNBB, OXFAM, Frente Nacional Contra a Fome – da qual o Sefras faz parte – e Rede PENSSAN.
“A Fome é resultado de um sistema econômico que desnutre e mata. Debater na perspectiva Franciscana é rever a lógica e o sistema instaurado de exploração e de monetarização da comida”, compartilhou Talita Guimarães, da equipe de Advocacy do Sefras.
A organização participou de discussões e debates sobre combate à fome, inclusão econômica das populações em situação de vulnerabilidade e a defesa de direitos individuais e coletivos como forma de tornar a sociedade mais justa e menos desigual.
Na ocasião, foi lançado o Pacto pelos 15% com Fome, uma ação de doação, voluntariado e divulgação em prol dos 15% da população que não têm o que comer.
Participe!
Para continuar preparando e distribuindo, diariamente, mais de 2 mil refeições, o Sefras precisa de doações, que podem ser feitas pelo site sefras.org.br ou via PIX, com a chave de e-mail: sefras@sefras.org.br.
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