Publicado em
13/02/2023
Compilado de reportagens mostra consequências da presença e ação de garimpeiros, que vão desde a destruição da floresta, aumento de doenças à exploração sexual de meninas e mulheres.
por Maria Victória Oliveira
Garimpo no Rio Uraricoera, Terra Indígena Yanomami, em janeiro de 2022. Foto: Divulgação Instituto Socioambiental (ISA)
“Não estamos conseguindo contar os corpos.” Foi com essa chamada que a Agência Samaúma divulgou, em janeiro, que entre 2019 e 2022, 570 crianças de até cinco anos morreram de doenças evitáveis na Terra Indígena (TI) Yanomami, um aumento de 29% em relação a 2015 e 2018. A denúncia foi um dos motivos pelos quais a crise humanitária ganhou novo destaque nos últimos dias, com a divulgação de indígenas de todas as idades em situação de extrema desnutrição.
Ao contrário do que pode parecer para quem só entrou em contato com a pauta no último mês, não se trata de uma situação recente. A chegada do garimpo às TI Yanomami tampouco é novidade, é uma realidade que os indígenas enfrentam há décadas. A presença de garimpeiros na região ocasiona uma série de consequências, que vão desde a destruição da floresta, contaminação das águas, exploração sexual de meninas e mulheres, aumento de doenças infectocontagiosas como gripe e pneumonia e aliciamento de indígenas são apenas alguns dos graves problemas que a mineração acarreta.
Desestruturação da saúde
Segundo dados do Ministério dos Povos Indígenas, só em 2022, 99 crianças de um a quatro anos morreram por desnutrição, pneumonia e diarreia. Já reportagem da Agência Pública traz dados da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), como as oito mortes por malária de crianças com menos de cinco anos entre 2019 e 2021, sendo que, no total, 12 morreram por complicações da doença.
Reportagem do Instituto Sociambiental (ISA) aponta que, apesar de sempre apresentar deficiências, o quadro da saúde na TI Yanomami piorou com a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, devido, principalmente, à má gestão de recursos e o aparelhamento político – nomeação de pessoas sem conhecimento e experiência para cargos importantes -, o que contribuiu para criar um cenário de desorganização, escassez de equipamentos, mão de obra, medicamentos e outros insumos.
Outras questões contribuíram para piorar o cenário já delicado da saúde dos yanomami:
A tudo isso, soma-se a postura adotada pelo então governo federal de não demarcação de terras, desmonte de órgãos de fiscalização, desestruturação de políticas públicas, entre diversos outros pontos.
Nova administração
Em janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou Roraima para acompanhar de perto e avaliar a crise na TI Yanomami. O resultado da viagem foi a edição de um decreto, publicado no Diário Oficial da União (DOU) do dia 31 de janeiro, que determina:
“Para enfrentamento da Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional em decorrência de desassistência à população Yanomami e combate ao garimpo ilegal, ficam os Ministros de Estado da Defesa, da Saúde, Desenvolvimento Social e Assistência Social, Família e Combate à Fome e dos Povos Indígenas autorizados a efetuar as requisições de bens, servidores e serviços necessários”.
Além disso, o decreto também autorizou o Comando da Aeronáutica a criar a Zona de Identificação de Defesa Aérea (ZIDA) sobre o espaço aéreo sobrejacente e adjacente ao território Yanomami durante o período que durar Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional, com o objetivo de controlar o espaço aéreo, muito utilizado por garimpeiros, e evitar todos os tipos de tráfego aéreo suspeito de ilícito.
Presidente Lula visita indígenas yanomami em Boa Vista, Roraima, em janeiro de 2023. Foto: Ricardo Stuckert /PR
Fique por dentro:
Leia na íntegra as reportagens citadas nesta matéria e saiba mais sobre a crise humanitária na Terra Indígena Yanomami:
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