Publicado em
14/03/2023
Com milhões de brasileiros e brasileiras sem ter o que comer, rede de solidariedade da sociedade civil se desdobra para alimentar, denunciar e propor soluções para a problemática
Por Elvis Marques
Foto: Prefeitura Municipal de Bonito (MS)
O Brasil já havia voltado ao Mapa da Fome, da Organização das Nações Unidas (ONU), quando a pandemia de Covid-19 começou a assolar o mundo, o que aprofundou as desigualdades, o desemprego e as pessoas em situação de vulnerabilidade. Quem não se lembra das enormes filas de pessoas para pegar ossos?
Em 2022, o 2º Inquérito Nacional da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN) evidenciou que mais de 33 milhões de pessoas passam fome no país. Além disso, mais da metade da população brasileira (58,7%) convive com a insegurança alimentar em algum grau – leve, moderado ou grave (fome). “O país regrediu para um patamar equivalente ao da década de 1990”, destaca a pesquisa.
Esse levantamento jogou luz a uma realidade, em partes, visível nas ruas das grandes cidades, debaixo dos viadutos, nas periferias dos centros urbanos. Diante de tais números e rostos, a pauta da alimentação foi e tem sido central na política e em ações como a Campanha da Fraternidade 2023 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
“A emergência sobre o assunto fez com que, pela terceira vez, CNBB assumisse a realização de uma campanha que trouxesse luz ao tema, buscando fomentar ações, em todos os níveis, para minimizar os impactos desta realidade na vida do povo brasileiro”, explica a entidade.
Fraternidade e Fome é o tema da campanha, a qual propõe aos fiéis um caminho de conversão para não ceder à cultura da indiferença frente ao sofrimento humano, conforme pede o Papa Francisco.
O retrato da fome
– No Brasil de 2022, apenas 4 em cada 10 domicílios conseguem manter acesso pleno à alimentação;
– Em números absolutos, são 125,2 milhões de brasileiros que passaram por algum grau de insegurança alimentar, um aumento de 7,2% desde 2020, e de 60% em comparação com 2018;
– No Norte e no Nordeste, a fome atinge, respectivamente, 71,6% e 68% – são índices expressivamente maiores do que a média nacional de 58,7%;
– 65% dos lares comandados por pessoas pretas ou pardas convivem com restrição de alimentos em qualquer nível;
– Nas casas em que a mulher é a pessoa de referência, a fome passou de 11,2% para 19,3%.
Luta incessante contra a fome
Há anos, o Sefras – Ação Social Franciscana atua em ações de combate à fome junto à população em situação de rua, imigrantes e refugiados, crianças e adolescentes pobres, idosos sozinhos e pessoas acometidas pela hanseníase. Pelo menos 4 mil pessoas são atendidas cotidianamente pelos franciscanos.
“Como cidadãos e cristãos, nunca podemos dizer que não temos nada a ver com a fome, com a miséria e com as necessidades dos que mais precisam. Viver com fome é perder a própria dignidade”, manifestou o frei franciscano Alan Maia, durante o lançamento da Campanha da Fraternidade de 2023 pelo Sefras.
A manifestação do frade Alan vai de encontro com um dos principais objetivos da Campanha: renovar a consciência da responsabilidade de todos pela ação da Igreja na promoção humana, em vista de uma sociedade justa e solidária.
Formação
No bojo da Campanha da Fraternidade, uma das ações promovidas pelo Sefras é o curso gratuito de extensão universitária Teias da Solidariedade, que vai tratar do combate à fome no Brasil. Serão realizados cinco encontros virtuais, entre os dias 27 de março e 29 de abril. As inscrições podem ser feitas até o dia 15 de março.
O curso é uma parceria do Sefras com a Universidade São Francisco (USF), Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso Brasil), Conferência da Família Franciscana no Brasil, Serviço Inter-Franciscano de Justiça, Paz e e Ecologia (Sinfrajupe), Frente Nacional Contra a Fome e a Sede e Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação (Abpeducom).
::. Conheça algumas iniciativas de combate à fome:
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