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Na Prática

Publicado em

07/03/2023

Iniciativas promovem liberdade de expressão e acesso a informações

Por Maria Victória Oliveira

Grupo da IV Oficina de Formação da Rede Wayuri, reunido em São Gabriel da Cachoeira (AM). Foto: Diana Gandara / ISA

Somente nos sete primeiros meses de 2022, houve 66 registros de agressões graves a jornalistas, um crescimento de 69,2% se comparado ao mesmo período do ano anterior, segundo dados da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).

A esse cenário de ataques a comunicadores, soma-se uma verdadeira enxurrada de informações falsas, movimento que ganhou força durante a pandemia de Covid-19 com a divulgação de fake news envolvendo a vacina e a real intenção de governos por trás da aplicação do imunizante e questionando, até mesmo, a existência do coronavírus. De acordo com a pesquisa As Fake News estão nos deixando doentes?, realizada pela Avaaz, quase sete em cada dez brasileiros (67%) acreditaram em, pelo menos, uma declaração factualmente imprecisa sobre vacinas.

Além da possibilidade de serem enganados por meio de mensagens falsas, o estudo Juventudes e Democracia na América Latina, realizado com jovens de 16 a 24 anos de Argentina, Brasil, Colômbia e México, aponta o receio da juventude diante do contexto de intensa polarização no país, principalmente nas eleições de 2022. Houve, inclusive, divergências sobre o período da ditadura militar, encarado por alguns como um “regime militar de proteção do povo brasileiro diante das ameaças comunistas, e não uma ditadura militar.”

Os três desafios têm um ponto comum: a comunicação. Não é possível falar em democracia sem uma sociedade civil forte, capaz de se articular, acompanhar e cobrar deveres e responsabilidades do poder público. Para isso, entretanto, se faz necessária uma imprensa livre, a proteção e a garantia de direitos aos profissionais de comunicação, bem como uma população capaz de navegar e analisar de forma crítica todos os tipos de informação que circulam no mundo online.

Diversas iniciativas têm sido desenvolvidas, nos últimos anos, para superar essas barreiras, por meio de cursos e formações, por exemplo, para que os educadores saibam ensinar seus estudantes a consumir e produzir conteúdo na internet com responsabilidade, assim como projetos para proteger aqueles que dedicam seu trabalho à divulgação de informações confiáveis. Confira algumas práticas e participe:

Formação para professores em educação midiática

A competência geral número 5 da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) aponta que estudantes devem compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.

Pensando em apoiar educadores do Ensino Fundamental na propagação da educação midiática enquanto conjunto de habilidades para acessar, analisar, criar e participar de maneira crítica do ambiente informacional e midiático em todos os seus formatos – dos impressos aos digitais -, o Instituto Palavra Aberta criou o EducaMídia – Programa de Educação Midiática.

O projeto, que conta com apoio da Google.org, visa difundir o tema e fornecer suporte e ferramentas para que crianças e jovens possam desenvolver habilidades necessárias para consumir informações de forma segura e responsável.

Para que os alunos possam ler criticamente, escrever com responsabilidade e participar ativamente, é importante que a educação midiática seja trabalhada transversalmente não em uma, mas em todas as disciplinas da escola. O portal oferece planos de aula com roteiros detalhados, seleção de cursos e materiais didáticos, um glossário e uma biblioteca com artigos, colunas e outras referências sobre o tema.

Rede Nacional de Proteção a Jornalistas e Comunicadores

O cenário de violência torna indispensável a existência de iniciativas como a Rede Nacional de Proteção de Jornalistas e Comunicadores. Coordenada pelo Instituto Vladimir Herzog e pela Artigo 19, a Rede foi criada a partir de uma articulação entre organizações da sociedade civil com jornalistas e comunicadores de todo o Brasil.

A iniciativa tem como objetivo promover maior engajamento e conexões mais eficientes para combater o avanço de ataques e ameaças à liberdade de expressão e violências contra jornalistas e comunicadores a partir de um tripé composto por:

articulação entre organizações, coletivos e pessoas que desejam atuar em defesa da liberdade de expressão;
formação – encontros, oficinas e cursos – para jornalistas e comunicadores sobre temas como segurança digital, estratégias de autoproteção, orientações para cobertura eleitoral e de manifestações;

denúncias de casos de ameaças e ataques a jornalistas e comunicadores.

Com apoio da organização Repórteres sem Fronteiras, do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social e da Associação Profissão Jornalista (APJor), a Rede divulga notícias sobre o tema, bem como disponibiliza cartilhas, relatórios e documentos em defesa da liberdade de expressão.

Comunicação independente e alternativa

Diversas experiências de mídia independente ou alternativa, ou seja, veículos que não são mantidos por conglomerados ou grandes grupos de mídia, têm se espalhado pelo país, o que é fundamental para a garantia de ampliação de vozes, diversidade de olhares e, é claro, de informação que seja ainda mais próxima dos cidadãos. É nesse sentido que surgiram, nos últimos anos, por exemplo, veículos de comunicação produzidos pelos povos indígenas do Brasil, como:

Podcast Copiô, parente: Apresentado por Ester Cezar e Cristian Wariu, o Copiô, parente é o primeiro podcast feito para povos da floresta no Brasil. Produzido semanalmente pelo Instituto Socioambiental (ISA), traz uma gama de notícias relacionadas aos povos indígenas, bem como decisões políticas que afetam e têm relação com os direitos dos povos tradicionais. Até hoje, já foram produzidos e divulgados mais de 260 episódios. Ouça:

Mídia Índia: Com 185 mil seguidores no Instagram e mais de 9 mil postagens, a Mídia Índia – A Voz dos Povos é um canal para divulgação de pautas e temas de interesse dos povos indígenas, que vão desde a garantia de direitos básicos, conservação e preservação da biodiversidade, representatividade na política, conquistas e avanços, participação de representantes dos povos tradicionais em congressos e eventos nacionais e internacionais e outros assuntos.

Foto: Divulgação Rede Wayuri

Rede Wayuri: Criada em 2017, a Rede Wayuri de Comunicadores Indígenas atua no Rio Negro e é formada por cerca de 30 comunicadores de 11 etnias diferentes.

Wayuri, inclusive, quer dizer trabalho coletivo ou mutirão, uma verdadeira força-tarefa para manter 70 comunidades de 23 povos indígenas da região bem informadas.

A Rede conta com um podcast e produção de áudios e vídeos sobre política, economia, cultura, educação, saúde, juventude, mulheres, direitos e outros temas.

Formação para lidar com a desinformação: Com uma linguagem jovem, o curso Vaza Falsiane foi criado para promover a compreensão, a identificação e o combate de notícias e informações falsas, manipuladas, fraudadas ou fora de contexto. A formação é organizada em 4 módulos e 26 subtópicos. É possível seguir a ordem indicada ou escolher quais conteúdos mais interessam.

Entre os principais assuntos abordados, estão: conceitos relacionadas à informação e à desinformação, o mundo entre a verdade e a mentira, o mercado lucrativo de notícias falsas, como identificar e se aprofundar na descoberta de fake news e as ferramentas de diálogo para combatê-las, desinformação e política, sabotagem no combate à pandemia, entre outros.

Todo final de módulo conta com um vídeo-resumo, bem como PDF do conteúdo na íntegra e questionário de avaliação. Quem seguir a ordem proposta do curso recebe, ao final, um certificado de
conclusão
. O portal traz, ainda, conteúdos como entrevistas, notícias e memes, todos com a missão de acabar com a desinformação.

Outros conteúdos:

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Saiba como se proteger na internet na nova página a Escola da Ativismo sobre segurança digital

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24/08/2022

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