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Publicado em

02/09/2024

Novo estudo da Escola de Ativismo analisa como organizações da sociedade civil entendem o conceito e práticas de não violência 

Pesquisa ouviu 137 representantes de organizações, movimentos e coletivos, em 19 estados brasileiros, e visa contribuir na ampliação de incidência política e transformação dessas organizações.

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Ao ouvir falar em violência e conflitos, muitas pessoas podem pensar somente no uso da força, em danos físicos ou na intencionalidade de ferir ou machucar. Entretanto, a não violência abarca práticas muito mais abrangentes, que envolvem, por exemplo, a comunicação não violenta. 

A publicação Não violência, princípios e práticas políticas da sociedade civil brasileira, uma iniciativa do Núcleo de Ação e Não-Violência (NANV) da Escola de Ativismo – que desde 2017 atua com produção de conhecimento, apoio e processos de aprendizagem para ativistas, grupos e organizações, com ênfase nos princípios e práticas de não violência – tem como principal objetivo dar uma contribuição no sentido de ampliar a compreensão sobre como se dão as lutas por direitos, democracia e justiça socioambiental no Brasil a partir da abordagem do tema da não violência. 

O estudo buscou explorar: 
– O que a sociedade civil brasileira entende por não violência;
– As duas perspectivas da não violência na sociedade civil;
– Como as organizações da sociedade civil (OSCs) caracterizam as suas práticas: violentas ou não violentas?;
– A violência que as organizações combatem e como elas reagem às violências sofridas;
– A ambiguidade das organizações diante do binômio violência/não violência;
– O posicionamento das organizações diante de práticas mais ou menos “agressivas”.

A pesquisa como um todo foi motivada pelo próprio trabalho da Escola de Ativismo durante uma década. Nesse período, a organização percebeu o uso de estratégias de não violência nas práticas de coletivos, movimentos e organizações parceiras durante processos de apoio e aprendizagem. Entretanto, quando questionadas diretamente sobre essa postura, restavam mais incertezas do que certezas.

Caracterizado como exploratório diante da falta de informações sobre não violência no Brasil, o estudo ouviu 137 pessoas, representantes de organizações, movimentos e coletivos, em 19 estados brasileiros, atuantes em 11 áreas temáticas: Defesa da Democracia; Direito à Cidade; Direitos Indígenas; Educação; Feminismo; LGBTQIAPN+; Movimento Negro e Antirracista; Saúde e Segurança Alimentar; Segurança Pública e Antiproibicionismo; Socioambientalismo; Terra e Território. 

Além das explicações envolvendo a metodologia do estudo, são apresentados capítulos que versam sobre a visão da sociedade civil sobre violência e não violência, a prática política das organizações da sociedade civil e um capítulo dedicado à reflexões a partir dos principais achados da pesquisa. 

Violência versus não violência 

Dois capítulos do estudo são dedicados a explicar e explorar a compreensão por parte das organizações da sociedade civil participantes da pesquisa sobre violência e não violência. 

O estudo analisa que a temática da violência não é uma novidade para as OSCs, como ressalta trecho da publicação: 

“A presença da violência no cotidiano das organizações da sociedade civil se manifesta não só pelas desigualdades econômicas, culturais, sociais e políticas cuja superação dá horizonte e propósito às OSCs, mas também de formas muito concretas no dia-a-dia do trabalho, por exemplo a partir de atores externos, oponentes ou antagonistas que por vezes perseguem e atacam, ferem e matam lideranças, ativistas e pessoas das comunidades. A violência se manifesta ainda nas relações interpessoais e de trabalho dentro do espaço institucional das organizações.”  

Quando questionadas sobre o que é violência, foram muitas as respostas, como o desrespeito à dignidade e à integridade das pessoas, violência física, estrutural, contra o meio ambiente e seres vivos, violência simbólica, econômica e outras.

Já quando questionadas sobre o seu grau de conhecimento sobre a não violência, predominaram as organizações que afirmam ‘conhecer pouco’, com 41,6%; seguidas das que afirmam ‘conhecer bem’, com 29,9%. O estudo também mostrou que há uma grande variedade de visões sobre o fenômeno e sobre a própria natureza do que constitui ou caracteriza a não violência e suas práticas. 

Principais achados 

> Com base na avaliação das organizações sobre suas práticas, princípios e posições políticas, as OSCs, em sua ampla maioria, se entendem e se reconhecem como não violentas.

> Não consta, a partir dos dados levantados pelo estudo, que as OSCs façam uso ativo da violência para a consecução de seus objetivos (o que inclui enfrentar e combater a violência). Nem mesmo em sua própria defesa.

> A interseccionalidade é uma realidade na prática das organizações da sociedade civil. Ou seja, ao analisar o quadro de pautas e temas de atuação dessas organizações, é possível notar que há um entrecruzamento das lutas por direitos e por justiça social, pelo

qual ativistas e organizações potencializam mutuamente seus esforços políticos.

> A consideração da violência é elemento central para a compreensão das práticas políticas das OSCs. Todas as organizações e movimentos entrevistados, com apenas uma exceção, atuam contra a violência. O estudo mostra que as OSCs não só precisam combater a violência, enfrentar a violência, como também são obrigadas a reagir e se defender da violência.

A pesquisa traz outros achados que incentivam debates sobre a não violência. Apesar de as OSCs não fazerem uso da violência nem em sua própria defesa, atos ditos violentos – como a autodefesa – não estão totalmente descartados por elas. O estudo também analisa que, apesar de ser uma minoria, há aquelas que assumem uma posição de rejeição à ideia de não violência. 

Fique por dentro 

Todas as descobertas estão disponíveis no estudo Não violência, princípios e práticas políticas da sociedade civil brasileira, que pode ser acessado online ou baixado no site: naoviolencia.org.br. Clique aqui

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