Publicado em
03/06/2022
O evento reuniu cerca de cem pessoas, a maioria do campo da defesa de direitos, no Cine Petra Belas Artes de São Paulo na última quarta-feira (1)
Por Dayse Porto, do Estúdio Cais
Fotos: comunicação Sefras
O projeto de comunicação multiplataforma Revista Casa Comum foi oficialmente apresentado a um público de representantes de diversos movimentos sociais, organizações e profissionais dedicados à construção de estratégias de proteção e defesa do planeta, nossa Casa Comum. Além dos debates conjunturais e das reflexões sobre os desafios colocados no atual cenário brasileiro, o evento contou com uma apresentação detalhada do projeto e participação de convidados.
O evento aconteceu no dia 1º de junho no Cine Petra Belas Artes de São Paulo, palco de diversos atos de resistência na cidade de São Paulo. A iniciativa é do Sefras – Ação Social Franciscana, em articulação com uma série de coalizões, redes, movimentos e coletivos, e a produção editorial é assinada pelo Estúdio Cais.
A Revista pretende atuar como catalisadora de vozes e esforços coletivos em defesa e garantia dos direitos humanos e socioambientais, campo de atuação do Sefras. O tema da primeira edição da publicação já dá o tom do que a organização propõe com o projeto: Resistir e esperançar: desafios para garantir direitos no Brasil de 2022.
A atividade propôs reflexões extremamente necessárias sobre esses temas por meio das falas dos representantes do Sefras, da atriz Letícia Sabatella, do Frei José Francisco, diretor-presidente do Sefras, de Zezé Menezes, da Coalizão pela Vida, Marcha das Mulheres Negras de São Paulo e Coalizão Negra por Direitos, de Laurah Cruz, ativista trans e de movimentos de defesa do povo de rua, de Franklin Felix, coordenador executivo da Abong – Organizações em Defesa dos Direitos e Bens Comuns, e de Yaponã Guajajara, ativista do povo indígena Guajajara.
A diversidade de perfis foi uma aposta dos organizadores do evento para que o lançamento refletisse o propósito do projeto de reverberar vozes plurais do campo dos direitos humanos e socioambientais. “A Revista é uma iniciativa de articulação, informação, mobilização e incidência para os movimentos e dos movimentos frente à defesa dos direitos humanos e socioambientais. É um espaço de convergência e de divulgação das agendas, projetos e reflexões dos grupos que atuam no campo”, destacou Fábio Paes, responsável pela estratégia de advocacy e de produção de conhecimento do Sefras e coordenador do projeto.
“Acho que Casa Comum é o termo mais bonito que podemos usar para nos referir à terra, ao planeta, ao patrimônio ambiental”, disse a atriz Letícia Sabatella durante o evento. Destacando a urgência de resistir para construir “uma casa justa, generosa e compartilhada para todas as pessoas” ela defendeu a necessidade de diminuirmos a nossa arrogância em relação à natureza para que seja possível proteger nossa Casa Comum. “Eu desejo que a revista ecoe e fortaleça toda a resistência que nós temos que ser.”
Franklin Felix, da Abong, citou os casos de agressões contra parlamentares como exemplo das forças conservadoras que temem a cultura, a educação e a mobilização social. Ele ressaltou que, mesmo após o governo atual, vamos precisar confrontar a violência e o conservadorismo para retomar e fortalecer a cultura de proteção aos direitos humanos no Brasil. “É uma construção a longo prazo”. Para ele, é preciso dar passos rumo ao mundo que queremos e ir lidando com a onda de violência e a iniciativa da Revista Casa Comum é uma forma de ir pavimentando esse caminho.
O Frei José Francisco, diretor-presidente do Sefras, afirmou que o contexto em que a Revista Casa Comum nasce já é suficiente para explicar sua relevância. “Surge em um contexto social em que a humanidade deixa um rastro de destruição por onde passa, o que inclui a destruição da natureza e a criação de estruturas para que isso aconteça, com a desinformação, a falta de acesso a direitos básicos e a violência”, disse o Frei.
Para o Frei, sonhar é uma resposta viável para construir um diálogo com atores, movimentos, organizações sobre um sonho coletivo de proteção da Casa Comum, por isso a construção da Revista Casa Comum reflete esse sonho compartilhado por tantas pessoas. “A revista converge com a perspectiva franciscana porque permite nossa apresentação pública enquanto uma organização que não se limita exclusivamente à prestação de serviços. Estamos interessados em participar das questões da sociedade e que atingem sobretudo as pessoas mais frágeis, que são as que encontramos todos os dias em nossos serviços diretos”, afirmou.
Zezé Menezes, ativista do movimento negro, iniciou sua fala lembrando do ato que acontecia na Avenida Paulista, durante o evento, contra a violência policial. Ela citou também os desastres ambientais recentes afirmando que “a chuva cai pra todo mundo, mas só alguns corpos tombam e eles têm gênero e cor”.
Para ela, o Bem Comum nos coloca com uma outra perspectiva que nos desafia a realizar mudanças estruturais em nossa relação com o mundo, o que inclui o meio ambiente e as outras pessoas, nossa comunidade. Por isso é necessário romper com os sistemas que destroem vidas e a nossa Casa Comum.
Ainda durante o evento, o ativista indígena Yaponã Guajajara lembrou que “resistir e esperançar é um valor antigo para os povos indígenas” e que é essa população a grande responsável, em nível mundial, pela proteção da nossa Casa Comum. “Os indígenas são os principais guardiões das florestas. Somos apenas 5% da população mundial, mas somos os responsáveis por preservar 82% de todo o nosso planeta”, destacou citando dados da ONU.
A artista e ativista Laurah Cruz também participou do evento contando sua história como beneficiária do serviço de apoio à população em situação de rua do Sefras, no centro da cidade de São Paulo, e reafirmando a importância de proporcionar oportunidades de recuperação para pessoas em vulnerabilidade.
Além da revista impressa, que tem novas edições a cada três meses, o projeto conta com uma multiplataforma que reúne os conteúdos em diversos formatos, redes sociais e produtos audiovisuais, além de um boletim informativo digital. Tudo isso para ampliar o debate em torno dos temas e dar visibilidade às ações de grupos que atuam nas pautas urgentes do contexto Brasil.
Distribuir e adequar a comunicação ativista a diferentes públicos e canais é o caminho que o Sefras, apoiado pelo conselho consultivo e o comitê editorial da Revista Casa Comum, apostou para gerar conhecimento e incentivar o engajamento e a mobilização social em torno de temas como soberania alimentar, economias transformadoras, enfrentamento às diversas violências e ecologia integral. Veja mais detalhes no vídeo:
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