Publicado em
17/09/2024
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Esta edição da Revista Casa Comum surge num contexto de denúncia e de celebração. Denúncia das diversas tragédias e situações de desastres ambientais que ocorreram e ocorrem no dia a dia da realidade brasileira. Aquilo que os estudiosos, ativistas e lideranças sociais e religiosas previam e alertavam já é fato e estatística: cidades naufragadas pelo aumento gritante do curso dos rios e mares, assim como desmoronamento de encostas serranas, regiões inteiras asfixiadas pela fumaça de incêndios em campos e florestas, na sua maioria criminosos. A destruição não é ocasional e espontânea: é um projeto político em curso. Assumir isso é fundamental para a mobilização social e popular.
Por outro lado, não basta apenas saber, é preciso agir. O momento exige não só reflexão, mas aquilo para que o Papa Francisco tem convocado o mundo inteiro: é necessária uma conversão ecológica. Não dá mais para pensar num futuro, imaginar o que pode acontecer, enquanto o presente apresenta a urgência da sobrevivência do que entendemos como o Sistema Terra, o nosso planeta. Isso exige atitudes radicais de mudança de concepção e de modo de ser e relacionar-se com o mundo como algo para além da presença e significado humano. Somos Natureza e precisamos assumir a pedagogia da terra, voltar a conectar-nos com ela, como aponta Ailton Krenak em entrevista exclusiva para esta edição da Revista.
Assumir a realidade em que nos encontramos como planeta e sua condição é concluir que é a intervenção ignorante e equivocada do ser humano e seu projeto de lucrar, custe o que custar, que nos trouxe até aqui. O projeto de financeirização da vida, base da proposta capitalista, colocou-nos em xeque com sua lógica e modo de ser desvinculado do cuidado e defesa de todas as formas de vida. Temos que aprender com o jeito como a Natureza se organiza, silenciosa e gratuita: ela é mantenedora e criativa.
Vivemos numa era de transição de paradigma, mas já é evidente que o novo paradigma a vir-a-ser terá como centro não o ser humano isolado (antropocentrismo), como achávamos que seria, mas a comunidade de vida (ecologia). Não somos sem os outros seres, dos menores aos maiores, dos visíveis aos invisíveis.
Por outro lado, é um momento celebrativo que serve como farol ético, pois comemoramos os 800 anos do Cântico das Criaturas – um poema escrito por Francisco de Assis na Idade Média –, que é motivo de admiração e esperança. Esse cântico é o espelho da experiência de um ser humano com consciência do valor singular e maravilhoso de cada vida deste sistema chamado existência. Só podemos existir no plural, no coletivo e de forma interligada.
Neste contexto desafiador e celebrativo, e em preparação à COP 30 (Conferência das Partes sobre o Clima) que acontecerá em Belém (PA), em novembro de 2025, a Igreja Católica no Brasil definiu como o tema da Campanha da Fraternidade 2025: “Fraternidade e Ecologia Integral”, parceira especial desta edição.
Por isso, o convite que fazemos nesta edição é darmos as mãos, mobilizar corações e agir numa nova lógica integradora de cuidado, amor, respeito e admiração com o fluxo de toda a Natureza, de que somos parte, que é criação. A saída está no nosso papel como indivíduos, sociedade e organizações na mobilização por um mundo em que o código maior seja a busca pela fraternidade com tudo e com todos e todas. Não há outra saída!
Salve Francisco de Assis, poeta daquilo que esquecemos de ser: irmãos e irmãs de todas as criaturas!
Fábio Paes
Coordenador da Revista Casa Comum
Iniciativa da Revista Casa Comum em parceria com o Instituto Perifa Sustentável, websérie tem quatro episódios com o objetivo de debater, de jovens para jovens, sobre a crise climática e a importância de as juventudes de todo o país se engajarem em prol da justiça climática e de caminhos para adaptação e mitigação.
Publicado em
04/08/2024