Publicado em
15/06/2023
Por Matheus Alves
Das dores do cotidiano, a maior talvez seja concluir que não sou visto e, nas poucas vezes que me olham, enxergam a consequência do próprio desprezo. Tamanho é o espanto de ver o legado de sua crueldade, que, num rápido ato, os olhos se fecham, as câmeras mudam o quadro, os assuntos voam embebidos de vinho caro e as consciências, já tão dopadas de dizeres motivacionais, meritocráticos e brancos, adormecem a empatia. É mais fácil cuspir que não sou digno do que entender que eu também mereço ser.
A dor de não ser visto ligeiramente deu lugar ao ódio. Nunca quis esmola ou caridade, pelo contrário, quero fazer parte do clube dos que são vistos, lembrados, exalta?dos e assistidos. Esmola dura pouco e eu, sinhô, quero é sentar à mesa. Vou aprender sua linguagem e sua forma de vestir. Entenderei sua cultura e sua forma de agir. Em troca, quero que minha existência seja vista, minhas von?tades respeitadas e, principalmente, que eu possa cantar com minha própria voz. Ah, e antes que eu esqueça: não cantarei sozinho!
Nas fotografias apresentadas neste ensaio, escancaro todas as formas de vida e de luta para que nossas existên?cias sejam vistas. Agora, não mais pelo estado, mas sim por outras pessoas como nós. Tentaram nos esconder de tantas maneiras, que, às vezes, nem nós conseguimos nos compreender. Chega! Que a Casa nos veja como somos: uma aquarela.
Matheus Alves tem 25 anos, é fotojornalista, militante e um jovem negro que, na ansiedade de querer ser visto em suas contradições, mudou sua postura e decidiu ver sua própria existência. Em seu trabalho, documenta a luta dos povos indígenas e Sem-Terra por terra, trabalho, pão e arte. Fotografa as várias faces da juventude brasileira e sua incidência política no Estado. Em 2019, foi premiado pelo Fundo Brasil de Direitos Humanos no concurso fotográfico “Combater os Retrocessos – Existir e Resistir à Retirada de Direitos”.
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