Publicado em
24/04/2025
Realizada no Dia do Jornalista, a cerimônia contou com debates sobre a importância da comunicação em um mundo onde a desinformação cresce a cada dia e o papel fundamental de jornalistas e comunicadores comprometidos com boas histórias.
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O dia 7 de abril foi uma data especial para a Revista Casa Comum. O Dia do Jornalista foi marcado pela cerimônia do 3º Prêmio MOL de Jornalismo para a Solidariedade, realizado no MASP, em São Paulo.
A reportagem “Solidariedade e resistência marcam a luta por reassentamento após maior tragédia climática no Rio Grande do Sul”, assinada pela jornalista Isadora Morena, da Revista Casa Comum e do Estúdio Cais, foi uma das seis finalistas na categoria Jornalismo Tradicional – Texto, competindo ao lado de produções de grandes veículos da imprensa tradicional, como o jornal O Globo e o programa Globo Esporte.
Apesar de a Revista não ter sido premiada dessa vez, a alegria de estar ao lado, enquanto finalista, de excelentes profissionais e comunicadores da imprensa brasileira trouxe muitos aprendizados e combustível para novas produções, sem contar nas inúmeras novas conexões realizadas no âmbito da premiação.
“Foi muito emocionante e enriquecedor ser finalista do Prêmio MOL. Tive contato com comunicadores de todo o Brasil, desde jovens universitários super talentosos a jornalistas muito experientes que compartilharam sua rica bagagem. Juntos, não só celebramos o jornalismo numa noite linda de premiação, mas pudemos pensar juntos como fazer com que nosso ofício seja ainda mais comprometido com a realidade do nosso povo, contribuindo para um mundo socialmente mais justo enquanto uma ferramenta poderosa de cuidado da nossa Casa Comum”, compartilha Isadora.
Daniele Próspero, editora da Revista, também valoriza a experiência de ser finalista ao lado de outros veículos da imprensa tradicional e também de iniciativas comunitárias de comunicação. “O nosso trabalho é pautado num jornalismo comprometido com os direitos humanos e ambientais. Toda a nossa produção tem um olhar atento às diversidades (de gênero, raça, geográfica etc.), valorizando as diferentes vozes, perspectivas e realidades do povo brasileiro, com narrativas que chamam a todas e todos a exercerem sua cidadania ativa, apresentando espaços possíveis de atuação, participação e engajamento em iniciativas da sociedade. Podermos mostrar isso, por meio da premiação, é muito bom, pois amplia o acesso da sociedade a reportagens e produções qualificadas e pautadas na busca por uma sociedade mais justa, menos desigual e mais solidária.”
Sobre a reportagem finalista
O conteúdo finalista integra a série Crise socioambiental: um desafio de todos(as), uma iniciativa da Revista Casa Comum que aprofunda a história e trajetória de cinco pessoas, uma de cada região do país, que contam como a crise socioambiental afetou suas vidas. O grupo foi inicialmente apresentado na reportagem Em Destaque da 10ª edição da Revista, que pautou o tema “Somos Natureza: a necessária conversão ecológica”, elaborada em parceria com a Campanha da Fraternidade 2025.
Uma dessas pessoas é Daniel Audibert, agricultor familiar de 57 anos, de Eldorado do Sul (RS). Em setembro de 2024, completou um ano das grandes chuvas que começaram a assolar o Rio Grande do Sul ainda em 2023. Em maio de 2024, a catástrofe deixou milhares de desabrigados, com famílias que perderam tudo.
Apesar de ter perdido toda a produção agrícola com as demais famílias do assentamento Integração Gaúcha, Daniel e sua família não deixaram de colaborar com os(as) demais afetados(as) e também grupos em maior situação de vulnerabilidade, apoiando as cozinhas solidárias organizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
“Por mais que não tivéssemos alimentos para doar, porque a água cobriu as nossas hortas, nós estávamos lá nas cozinhas ajudando a cozinhar, a fechar marmitas e mandar para essas pessoas que necessitavam”, contou Daniel à Revista.
Sobre o Prêmio
O Prêmio MOL de Jornalismo para a Solidariedade é uma iniciativa do Instituto MOL com o objetivo de reconhecer o trabalho de jornalistas, comunicadores populares e estudantes de comunicação que contribuem para fortalecer a cultura de doação, a solidariedade e a atuação das organizações da sociedade civil, destacando a importância dos temas para o exercício da cidadania no país.
Em sua terceira edição, contou com três categorias de premiação: Jornalismo tradicional – que se subdivide em áudio, vídeo, foto e texto impresso ou digital -; Jovem jornalista, para estudantes ou recém-formados que tenham publicado reportagens em veículos acadêmicos; e a nova categoria Jornalismo Comunitário, destinada a jornalistas, comunicadores populares de periferia, comunidades quilombolas ou indígenas.
Neste ano, além da seleção dos três primeiros lugares de cada categoria por um grupo de jurados(as), o público também pôde participar votando em suas produções favoritas. As três mais votadas foram anunciadas e reconhecidas durante a cerimônia. Ao todo, foram 115.224 votos.
Cerimônia de premiação
A cerimônia de premiação foi uma celebração do fazer jornalístico, seja a partir do jornalismo em grandes veículos de comunicação da chamada mídia tradicional, ou o jornalismo de base, comunitário, feito nos, pelos e para os territórios.
A condução do evento ficou a cargo do ator e roteirista Marcos Oli, que, com descontração, apresentou os quatro momentos da cerimônia. No primeiro deles, Mariana Campanatti, diretora executiva do Instituto MOL, compartilhou um pouco sobre a missão da organização de incentivar que empresas e cidadãos doem mais, melhor e com propósito, inspirando doadores de todos os portes e causas.
Mariana citou, ainda, o World Giving Index, uma pesquisa global realizada pela organização britânica Charities Aid Foundation (CAF), que, anualmente, mede o grau de generosidade das nações ao redor do mundo ao questionar se, no último mês, as pessoas realizaram uma das ações: ajuda a um desconhecido, doação em dinheiro a uma organização social ou voluntariado. No ranking geral, o Brasil fica com a 86ª posição, de um total de 142 países pesquisados na edição 2024 da pesquisa.
O empenho e comprometimento da imprensa é fundamental, portanto, na comunicação e realização de reportagens que atestem a importância de uma sociedade doadora e solidária.
Em seguida, em uma participação especial, o jornalista Caco Barcellos dividiu com os presentes o processo de encontrar – e contar – histórias de relevância pública e as decisões envolvidas na profissão de comunicadores(as). E citou exemplos em diferentes temáticas, como saúde, educação – as dificuldades que crianças enfrentam para frequentar a escola em localidades de difícil acesso -, e, sobretudo, as profundas e múltiplas desigualdades que marcam a vida de brasileiros em todo o país. Para ele, uma dica valiosa é, na realização de reportagens, sempre lembrar dos extremos que marcam a sociedade brasileira.
Além disso, cita que um dos melhores aspectos da profissão de jornalistas e comunicadores é a oportunidade que ela dá de conhecer uma pessoa nova todos os dias. “Quero sempre saber quem eu vou conhecer hoje.”
O painel Jornalismo de Causas debateu as temáticas de raça, gênero e território a partir das experiências de Marília Moreira, diretora do Instituto AzMina; Juliana Albuquerque, indígena do povo Baré (localizado no interior do Amazonas) e comunicadora da Rede Wayuri (que significa trabalho coletivo); e Pedro Borges, cofundador e editor da Alma Preta, com mediação de Elize Mayara, comunicadora popular, membro do Coletivo Jovem Tapajônico e integrante da Coalizão de Mídias Periféricas.
O grupo trouxe ao evento um conjunto de temáticas que envolvem o jornalismo de causas, como a importância de promover várias perspectivas a partir da diversidade de perfis de profissionais; a necessidade de valorização do conhecimento, experiências e modos de fazer dos territórios e seu protagonismo; o uso de múltiplos meios de comunicação onde a internet não chega; a urgência do combate às fake news; a escolha da linha editorial de um veículo de imprensa e seu impacto no debate público; os desafios envolvidos no financiamento do jornalismo de causas, entre outros pontos.
“Só dá para fazer um jornalismo que de fato transforma a sociedade se você transforma também o próprio jornalismo”
Marília Moreira, diretora do Instituto AzMina
“A gente não fala a partir do território para fora, para que vocês saibam que a gente existe. A gente fala a partir do território para o território. A gente fala para nossas lideranças e para o fortalecimento e em defesa do nosso território”
Juliana Albuquerque, indígena do povo Baré
(localizado no interior do Amazonas) e comunicadora da Rede Wayuri
“A imprensa brasileira faz uma defesa danada do corte de gastos públicos. E aí eu fico me perguntando, do ponto de vista da representação e da representidade, se eu quero ver um jornalista negro fazendo essa defesa, que vai interessar à branquitude, a manutenção das desigualdades no Brasil”
Pedro Borges, cofundador e editor da Alma Preta
E, por fim, o momento mais esperado da noite, com o anúncio dos vencedores de cada uma das seis categorias, além do resultado da votação popular.
Conheça os vencedores
Categoria Jornalismo Tradicional – texto
1º lugar: Jovens quilombolas lutam por infraestrutura básica e direito de ir à escola na Bahia
Por Luiz Claudio Ferreira | Agência Pública
2º lugar: Sem energia, gaúchos recorrem a rádio de pilha para receber informações sobre a tragédia que afeta o RS
Por Pâmela Dias de Sousa | O Globo
3º lugar: Mulheres negras caiçaras promovem cultura e consciência ambiental em área poluída no RJ
Por Leticia Gonçalves Lisboa | Nonada Jornalismo
Categoria Jornalismo Tradicional – Vídeo
1º lugar: Cuidados Paliativos: Vida até o último dia de vida
Por Ana Carolina Raimundi | Fantástico
2º lugar: MÃO NA MASSA: Mulheres mergulham na construção civil em busca de construir o próprio lar
Por Nalu Saad | Balanço Geral – Record Minas
3º lugar: Dia da Favela: Talentos e histórias que inspiram
Por Munike Moret | Rio TV Câmara
Categoria Jornalismo Tradicional – Áudio
1º lugar: Às margens das urnas, abaixo da democracia: o voto e as pessoas em situação de rua
Por Ruleandson do Carmo Cruz | Rádio UFMG Educativa
2º lugar: Como é bom estar em casa
Por Kevin Accioly Kamada | Rádio Brasil Campinas
3º lugar: Série AUdoção por amor: ONGs pelo Nordeste
Por Katherine Malaquias Martins | E-Coar
Categoria Jornalismo Tradicional – Foto
1º lugar: Artesãs Baniwa: mãos que tecem a tradição ancestral como fonte de renda
Por Sergio Ricardo de Oliveira | Amazônia 360
2º lugar: Pai e filho transformam viela da zona sul em parque com picadeiro
Por Leonardo Silva Brito | Agência Mural
3º lugar: Cavalos abandonados cuidados por detentos ajudam no tratamento de crianças da Apae com equoterapia dentro de presídio do ES
Por Ricardo Vervloet Medeiros | G1/ ES
Categoria Jornalismo Comunitário
1º lugar: Filantropia Negra: A Sociedade Protetora dos Desvalidos
Por Alexandre Silva de Santana | Lista Preta
2º lugar: Cozinha Solidária Ajeum Tia Irani é inaugurada na Rocinha
Por Karen Fontoura Pereira da Silva | Fala Roça
3º lugar: Com grupo no zap, ações e caminhadas, mães de Itapevi criam rede apoio para falar sobre autismo
Por Caroline Lima dos Santos Saron | Agência Mural
Categoria Jovem jornalista
1º lugar: Em busca da liberdade
Por Renata Francisco Rosa | Sextante – UFRGS
2º lugar: Mulheres sofreram mais com enchentes no RS; as histórias de chefes de família seis meses depois
Por Alexandre Briozo Gomes Filho Humanista – UFRGS
3º lugar: Iniciativa voluntária dá acesso à moradia para pessoas em situação de rua
Por Anthony Cervinski dos Santos | Zero – UFSC
Votação Popular
1º lugar: [Jornalismo tradicional: áudio] Série AUdoção por amor: ongs pelo Nordeste
Por Katherine Malaquias Martins | E-Coar
2º lugar: [Jornalismo tradicional: texto] Inspirado por intervenção mineira, projeto Litro de Luz ilumina 120 comunidades brasileiras com energia solar
Por Juliana Baeta da Costa | Diário do Comércio
3º lugar: [Jornalismo Comunitário] Educação climática transforma jovens em líderes em áreas afetadas por desastres
Por Fernanda Gabrielle Lagoeiro | Nota Social
Série especial da Revista Casa Comum apresenta cinco histórias de vida de pessoas que, de alguma forma, foram afetadas pelos efeitos e consequências da crise socioambiental.
Publicado em
05/09/2024
O caminho que se apresenta é a conversão ecológica, ou seja, uma mudança radical na qual, ao invés de explorar o planeta, a Natureza e a vida até a exaustão, é necessário aprender a cuidar da Terra e uns dos outros, em uma lógica de inter-relação, cultivo e cuidado.
Publicado em
17/09/2024
Daniel Audibert, agricultor do MST, enfrenta as consequências das mudanças climáticas e mobiliza ações solidárias para apoiar os desabrigados na região.
Publicado em
26/09/2024