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Publicado em

27/02/2025

Descubra como criar uma iniciativa de comunicação em seu território

Ter um projeto de comunicação exige planejamento, pesquisa e dedicação. Confira um passo a passo que a Revista Casa Comum preparou sobre o tema.

Por Isadora Morena

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Desenvolver um projeto de comunicação popular ou comunitária é um excelente caminho para o fortalecimento dos territórios e para a promoção da cidadania. Um veículo de comunicação local ajuda na divulgação das potencialidades, na denúncia de problemas que afligem a todos e mobiliza as pessoas para a participação social.

Embora a jornada possa parecer desafiadora, alguns passos simples e bem planejados podem ajudar a estruturar a iniciativa e garantir um bom resultado. O primeiro deles é entender o propósito do projeto, refletindo sobre o objetivo e a quem se quer alcançar.

Como exemplo, temos a Agência Mural. De acordo com Paulo Talarico, um dos seus fundadores, a escolha de dialogar com os jovens das periferias se deu após o entendimento de que eram essas as pessoas que mais poderiam ser atendidas pela missão da Agência de quebrar os preconceitos sobre as periferias e superar a falta de informação de qualidade sobre esses territórios.

Após definido o propósito da iniciativa, passa a ser importante conhecer melhor o território, entendendo as potencialidades e necessidades das pessoas que compõem a comunidade. Nesse processo, é importante conhecer outras pessoas interessadas em contribuir com a iniciativa. Afinal, um projeto de comunicação popular ou comunitária é sempre coletivo.

Para essa etapa, um bom método de diagnóstico é o da “pesquisa comunitária”, apresentado pela Énois – Laboratório de jornalismo, em sua “caixa de ferramentas de diversidade para redações”.

Por esse método, se busca entender bem o perfil do público-alvo. Dessa forma, é preciso elaborar perguntas com base no que precisa descobrir sobre a comunidade e disponibilizá-las em um formulário ou mesmo em uma enquete do WhatsApp.

De acordo com a Énois, “nesta fase é importante pensar em atividades ou lideranças da comunidade que podem ajudar a encontrar os perfis para responder a pesquisa. O corpo a corpo é importante, então faça eventos ou participe de iniciativas da própria comunidade.”

Essa fase exige sensibilidade de escuta para entender as dinâmicas e necessidades comunitárias. Pela pesquisa, é possível descobrir não só os temas relevantes para serem abordados na iniciativa, mas o próprio tipo de canal de comunicação a ser desenvolvido.

Entre o analógico e o digital, é preciso descobrir o que funciona melhor para o público que se quer alcançar. Como cada comunidade tem suas particularidades, em alguns lugares, criar um jornal mural é a melhor maneira de falar com a população, enquanto, em outros, desenvolver perfis em redes sociais é mais eficientes.

Os meios de comunicação que podem ser usados em iniciativas populares e comunitárias são os mais diversos: desde impressos, como jornais e boletins, que são ideais para distribuir em mercados, feiras, escolas e eventos locais, passando por materiais audiovisuais, como rádio ou TV comunitária – que são meios que podem alcançar moradores de áreas onde o acesso à internet é limitado – ou, ainda, fazer uso das plataformas digitais (blogs, redes sociais, podcasts, canais no YouTube) e, com isso, alcançar públicos ainda mais amplos e diversos, com grande potencial de interação.

Há também a possibilidade de uso de meios mais inovado- res e criativos, como as bikes-som, que chegam com notícias aonde nem os carros podem passar, ou os fanzines, impressos feitos de forma artesanal a partir de colagem e fotocópia, o que faz deles um meio barato e único.

Conhecer o público também é importante para a adequação de linguagem. Jovens falam de forma diferente de adultos. Idosos e crianças se comunicam de formas distintas. Em cada comunidade há um linguajar próprio com suas peculiaridades. Entender isso pode ser fundamental para chegar em quem realmente importa e criar conexões reais com o público.

É preciso fazer pesquisa também após o lançamento do produto comunicacional para entender se ele cumpriu seu objetivo.

“Depois da criação do protótipo, compartilhe com a comunidade o produto e, com técnicas de escuta ativa, entenda como ele recebe o conteúdo e como pode ser melhorado. Essa escuta pode ser feita no WhatsApp, por mensagens de texto formulários ou rodas de conversas com grupos focais e grupos de leitura”, defende a Énois.

De acordo com Paulo Talarico, o envolvimento do público com o projeto tem a ver com “acima de tudo fazer um bom jornalismo sobre o território e servir ao interesse da comunidade.”

Porém, alguns desafios podem aparecer durante o processo, como montar uma boa equipe e garantir a sustentabilidade financeira do projeto.

Investir em formação contínua é a solução defendida por Paulo Talarico para se ter uma equipe competente, comprometida e habilidosa. Para isso, a Agência Mural criou o Clube Mural, um laboratório de experimentação em jornalismo local.

“Cada correspondente local, que passa a fazer parte da nossa rede, participa de formações sobre a importância do jornalismo sobre as periferias, como fazer essa cobertura e faz uma reportagem como conclusão do processo. Esse trabalho tem ajudado tanto a Mural, quanto a ampliar a diversidade das redações no Brasil. Há muitos repórteres na mídia tradicional que tiveram sua trajetória inicial na Mural”, conta Paulo.

Já sobre financiamento, ele afirma que tem sido o grande obstáculo para as organizações que atuam nos territórios.

“Muitas vezes é possível conseguir recursos com projetos específicos, editais ou organizações que financiam bandeiras direcionadas, como os direitos humanos. É preciso ter claro, mais uma vez, o propósito da organização e como ela pode atender o território. A partir disso, encontrar quais financiamentos e editais existem para essa atuação e começar a se inscrever. Não é uma tarefa fácil e, por vezes, pode demorar bastante, o que exige muita resiliência, além, é claro, de depender do tempo que cada participante tem para se dedicar ao projeto”, afirma Paulo.

Além dos tipos de financiamento apontados por Paulo Talarico, é possível construir parcerias com negócios locais ou promover campanhas de financiamento coletivo, a fim de envolver a comunidade e arrecadar fundos.

No caso de busca por financiadores externos, como organizações, é importante mensurar os resultados e impactos do projeto, ressaltando o valor das pesquisas e da análise de dados.


Materiais práticos para se inspirar

• Agência Mural: agenciamural.org.br/institucional/#projetos

• Caixa de Ferramentas da Énois – Laboratório de jornalismo: caixadiversidade.enoisconteudo.com.br

• Manual de Jornalismo Local: manualdejornalismolocal.com.br

• Manual de Redação de Jornalismo Independente do Nordeste: bit.ly/RCC_11_56

• Mapa do Jornalismo Independente: apublica.org/mapa-do-jornalismo

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