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Publicado em

28/01/2025

Iniciativas de comunicação popular e comunitária são aliadas na defesa de direitos

Coletivos e organizações usam sites, redes sociais, rádios, vídeos e equipa- mentos diversos para produzir conteúdo e gerar pertencimento.

Por Maria Victória Oliveira

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Líderes jovens de periferias de todo o Brasil no Encontro Nacional “Para Adiar o Fim do Mundo” realizado no Museu de Arte do Rio de Janeiro, em junho de 2022. Foto: Acervo PerifaConnection

A frase de Thuane Nascimento, diretora-executiva do PerifaConnection – uma plataforma de conexão e confluência das periferias brasileiras –, ganha ainda mais importância se aplicada no contexto das periferias de todo o Brasil e confunde-se, inclusive, com o propósito da organização.

A iniciativa surge em 2019 totalmente focada na comunicação: inicialmente jovens do Rio de Janeiro passam a escrever colunas de opinião com o objetivo de contrapor a forma com que veículos de comunicação da grande mídia falavam sobre as pessoas e a realidade das periferias.

Com o seu amadurecimento, o projeto passa de uma coluna de textos para um coletivo de juventudes periféricas, ampliando, inclusive, a ideia do que é esse território: ao contrário de ser um sinônimo de favelas, Thuane explica que, na perspectiva do PerifaConnection, são todos os espaços que estão às margens. “Assim, o Brasil é uma grande periferia. A maioria dos territórios brasileiros não estão em áreas centrais, sejam em centros socioeconômicos, políticos e/ou culturais. Nós entendemos que diversas comunidades, sejam urbanas ou rurais, foram periferizadas.”

Guiado pela frase “Viver o poder da periferia para a periferia poder viver e ter Bem Viver”, o PerifaConnection trabalha hoje com as lideranças de juventudes em diferentes frentes com o foco em um Brasil periférico antirracista.

Além do eixo de comunicação, o Perifa conta com um eixo de articulação – marcando presença em fóruns como a COP (Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática) e no Fórum Permanente de Afrodescendentes – iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU); o eixo de mobilização com a rede nacional do Perifa – já presente em 20 estados e com meta de estar em todos os estados em 2025 –; e o eixo de formação, com a criação de laboratórios e cursos com o objetivo de que os territórios periféricos estejam alinhados à pauta política de defesa da vida das pessoas periféricas.

Acesse: instagram.com/perifaconnection

Um ponto central das falas de Thuane é o fato de que projetos de educomunicação e iniciativas de comunicação popular e comunitária – a exemplo do PerifaConnection – ajudam na defesa de direitos e, para que cada vez mais, grupos tenham sua voz potencializada, divulgando e defendendo diferentes agendas. Confira algumas iniciativas:

Apenas em 2004, chegou a energia elétrica no Quilombo Rampa, em Vargem Grande, no Maranhão. Em 2017, foi a vez do sinal de internet, que permitiu que aquilo que começou com câmeras de faz de conta de bambu e papelão se transformasse em realidade, com a fundação da primeira mídia independente a fazer comunicação popular com e para quilombolas. Com diferentes projetos artísticos, de geração de renda e de comunicação, a Rádio centraliza suas comunicações no Instagram, Facebook e YouTube. Além das divulgações culturais quilombolas, as redes também são usadas para rodas de conversa, articulação, divulgação de saberes ancestrais e trocas intergeracionais.

Rádio e TV Quilombo filmam a entrada em campo dos times de futebol Amigos do William Cardoso e Amigos do Raimundo Quilombo em partida amistosa realizada no Quilombo Rampa, em 2017. Foto: Acervo Rádio e TV Quilombo

>> Acesse: instagram.com/radioetvquilombo

Por ter sido criado em meio à pandemia, o JAC, projeto de extensão do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis, teve inicialmente um caráter remoto. Melina Ayres, professora do curso de jornalismo comunitário, desenvolvia, juntamente com um pequeno grupo de alunos, panfletos no modelo de histórias em quadrinhos – Pipas Informativas – sobre temáticas como distanciamento social e fake news a respeito das vacinas, por exemplo, que eram distribuídos juntamente com cestas básicas. Com a retomada das aulas presenciais em 2022, o projeto, além de ter mais participantes e, também, a professora Isabel Colucci, passou a receber convites para trabalhar efetivamente nos territórios. Um grande projeto desenvolvido pelo JAC foi um documentário sobre boi de mamão – manifestação folclórica típica de Santa Catarina – com todos os estudantes do 1º ao 4º ano da Escola Básica Municipal Costa da Lagoa. A partir das oficinas ministradas, os alunos foram responsáveis pela produção audiovisual, uma das selecionadas para a Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis.

>> Acesse: instagram.com/jac.ufsc

Criado em 2015, o Coletivo une diversos objetivos em sua atuação: a luta pela terra juntamente com a busca por mais representatividade, conscientização e conhecimento sobre a população LGBTQIA+. Além de investir em formações nos acampamentos e assentamentos com um olhar especial para pessoas LGBTQIA+ e discutir temáticas diversas com esse recorte – como saúde, educação, juventudes, gênero e diversidade –, o coletivo também se une ao setor de comunicação do MST para produzir matérias, cards, carrosséis de imagens e artes, e até um documentário, todos divulgados no instagram e YouTube do Movimento Sem Terra (MST).

>> Confira o documentário: bit.ly/RCC_11_50
>> Acesse: instagram.com/movimentosemterra

Confira outras iniciativas e práticas que promovem liberdade de expressão e acesso a informações. Acesse a reportagem no site da Revista Casa Comum: bit.ly/RCC_4_NaPratica

Autodefinida como um instrumento de voz, mobilização e cultura da comunidade, a Rádio foi fundada em 1992 pela União de Núcleos, Associações e Sociedades de Moradores de Heliópolis e São João Clímaco (UNAS), em São Paulo. Depois de desafios, recebe, em 2008, autorização oficial e definitiva para o funcionamento enquanto rádio comunitária. Entre seus objetivos está o fortalecimento da cultura periférica, a veiculação de informações relevantes sobre temas diversos e a promoção da cidadania, da melhoria da qualidade de vida e do desenvolvimento da comunidade.

>> Acesse: instagram.com/radioheliopolisoficial

Crianças em atividades de produção cultural e comunicação no Teatro Violeta Arraes, teatro-escola e laboratório de produção da Fundação Casa Grande. Foto: Acervo TV Casa Grande

Fundada em 1992, a organização de Nova Olinda, no Ceará, tem como objetivo proporcionar formação artística e cidadã para crianças e jovens da Chapada do Araripe. São muitas as iniciativas, tendo a educomunicação como um dos seus pilares: Museu de arqueologia que conta a história do homem kariri, Rádio comunitária Casa Grande FM, TV Casa Grande, Teatro Violeta Arraes, biblioteca, gibiteca e DVDteca. A organização também se baseia nos temas arqueologia, museologia, comunicação e turismo com o objetivo de fortalecer no território a proposta da Arqueologia Social Inclusiva, que propõe o protagonismo das crianças e jovens da Fundação Casa Grande enquanto guardiãs e guardiões da memória local.

>> Acesse: instagram.com/fundacaocasagrande

Ancião Themujsôt-txi Suya concede depoimento a comunicadores Khisêtjê, da AIK Produções, sobre confecção de cocar do povo Khisêtjê. Foto: Atakuma Suya/AIK Produções

Iniciativa da COMunidade da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), o podcast Pod Parente é produzido por comunicadores indígenas de diferentes povos e territórios, e, pautado na oralidade tradicional dos povos indígenas, tem como objetivo abordar diferentes pautas do movimento e fortalecer o diálogo das organizações com as bases. Já a AIK Produções reúne jovens comunicadores do povo Khisêtjê, da Terra Indígena Wawi, no Mato Grosso, que, munidos de celulares, câmeras e drones, fazem cobertura de eventos indígenas locais – como o Encontro Geral de Comunicadores da Rede Xingu – e monitoram suas terras. A Rádio Kalungueira, por sua vez, investe na educomunicação, arte, cultura e comunicação popular sobre diferentes temáticas de interesse, partindo da realidade do Quilombo Kalunga, considerado o maior quilombo do Brasil, em Goiás.

>> Ouça: bit.ly/RCC_11_51
>> Acesse: instagram.com/aikproducoes
>> Acesse: instagram.com/radiokalungueira

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