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Editorial

Publicado em

15/06/2023

“Diversidade brasileira e os invisibilizados da Casa Comum” é o tema da 5ª ed. da Revista Casa Comum

Não tem como iniciarmos estas linhas sem apresentar a importância desta edição, pois comemoramos um ano do lançamento da Revista Casa Comum. Todo aniversário remonta ao sentido originário, por isso, aproveitamos para trazer, de forma explícita, a narrativa da invisibilidade: pessoas e grupos que ainda não são prioridades nas políticas públicas, assim como para tomadores de decisão de outros setores da sociedade. O conceito de Casa Comum é atingido pela contradição histórica e social que vivemos, uma casa sem proteção, sem-teto, sem convivência e sem a segurança de existir.

A invisibilidade não é uma condição inerente ao ser humano, mas, sim, um condicionamento social e político, causado por omissão, abandono e exclusão. As dores sofridas pela maioria do povo brasileiro não é um acaso. Uma política que prioriza “alguns” não é uma verdadeira política no sentido macro da palavra, uma vez que não considera o elo entre as relações, as demandas e os interesses coletivos.

Em um país tão diverso e amplo como é o Brasil, não podemos unificar a diversidade geográfica, cultural, étnica, racial, de gênero, econômica e social. Somos um país de tantos mundos, inclusive com idiomas diferentes. Mas quem são os invisibilizados? A invisibilidade não abarca meramente uma questão numérica. É evidente que somos um país de maioria de negros e negras e que, mesmo assim, é estruturalmente racista e não avançou para reparar a dívida histórica com essa população.

A minoria aqui brasileira é a maioria, eis a contradição. As políticas afirmativas das cotas, por exemplo, são uma tentativa de reparação, mas ainda há tanto que se reparar no campo da saúde, da cultura, do lazer, da moradia e da segurança. Reparação se faz com políticas públicas efetivas, além de um estado constante de vigilância para com o racismo por parte de todos nós. Por outro lado, os povos indígenas, que foram desenraizados, usurpados e oprimidos desde o início da colonização, ainda vivem, nos dias atuais, o dilema de “existir ou não existir”. Foram jogados à sorte diante do interesse capitalista do uso da terra, da mata e de suas biodiversidades. Heróis de sua própria sobrevivência.

Isso sem falar dos imigrantes, quando o direito de ser e existir está em conflito com a falta de acolhimento, reconhecimento e acesso à dignidade num país estrangeiro. Se, por um lado, o combate ao racismo é a maior demanda como país, a pobreza criou um apartheid social quase que intransponível em nossa sociedade.

A humanidade tem suas utopias de igualdade e fraternidade, mas tem um histórico perverso ao que é diferente do que é considerado normal: todos aqueles que não são brancos e sem uma ascensão capital e financeira. A vida subjugada diante do critério racista e classista.

E isso se faz presente também nas relações mais cotidianas e domésticas: em casa, na vizinhança, no trabalho, na escola. Um jovem que “não tem direito de ser quem se é”, na família, por ter uma orientação sexual fora dos padrões do que foi estabelecido como “normalidade”; a destruição de terreiros de umbanda e candomblé por conta das diferenças religiosas; a disseminação, pelas redes sociais, de mensagens homofóbicas e preconceituosas; entre tantas outras situações.

É fato que, para entender o Brasil, precisamos observar os diversos Brasis, que tem como fundante sua colonização abusiva e exploratória. Assim como para entender o povo brasileiro, é preciso enxergar os diversos universos que regem essa “brasilidade”, que foi tão escondida, camuflada, excluída e abandonada em sua plenitude diversa como um projeto de país. Temos muito que evidenciar nossa diversidade, esmagada diariamente em tantos contextos e situações, a depender do grupo, local de moradia e da cor.

Invisibilizados até quando? É uma provocação para aqueles que não constroem pontes, diálogos, acolhimento e políticas públicas para a promoção e a defesa de toda e qualquer vida, independentemente de sua origem, raça e crença.

Precisamos ter consciência de nossos desafios para vivermos de modo solidário e com princípios de uma fraternidade universal: esse é o caminho, essa é a nossa possível “salvação” como planeta

Equipe Revista Casa Comum

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