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Retrato Brasil

Publicado em

28/03/2024

Bloco laranja: dez anos do levante dos garis cariocas

Retrato Brasil da 8ª edição da Revista Casa Comum

Por Rafael Vilela

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A emblemática greve dos garis cariocas completa uma década em 2024. Num país sem memória, em que conquistas e derrotas sociais se dissolvem rapidamente no tempo, é essencial recordar esse levante popular, simultaneamente violento e envolvente, que desafiou as estruturas brasileiras e, contra todas as probabilidades, emergiu vitorioso, infligindo uma derrota à Prefeitura do Rio de Janeiro, à Comlurb (empresa de gestão de resíduos municipal) e ao próprio sindicato da categoria, contrário à greve.

Durante oito dias, os garis se organizaram pelas redes sociais e pararam suas atividades, impactando o icônico carnaval do Rio de Janeiro e expondo ao mundo montanhas de lixo nas ruas e avenidas da cidade. Além de uma greve trabalhista e de classe, foi um movimento simbólico: os garis conquistaram não apenas as ruas, mas também os corações e mentes da população, sambando em meio às adversidades, apesar das tentativas de difamação por parte dos veículos de comunicação da Rede Globo, que os retratavam como vândalos e preguiçosos.

O “bloco laranja”, formado, em sua maioria, por homens e mulheres negras das periferias do Rio de Janeiro, desfilou pela cidade de forma lúdica e, dessa maneira, garantiu um aumento salarial de 37%, um feito sem precedentes em nossa história recente.

Dez anos após esse episódio marcante, é vital resgatar suas lições para o futuro da política brasileira. A greve dos garis não apenas evidenciou a resistência e a organização dos trabalhadores, mas também destacou a importância da politização através da celebração, a tão narrada e pouco praticada carnavalização da política.

*Rafael Vilela é fotógrafo e jornalista. Foi um dos fundadores da Mídia NINJA e, atualmente, documenta a crise climática e social no Brasil para veículos como a revista National Geographic e o jornal The Washington Post. Suas fotografias, de Junho de 2013, entraram para o acervo permanente do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP) em 2014. Em 2020, seu trabalho com o coletivo Covid Latam foi premiado no Pictures of The Year Latino America e Word Press Photo Book Award. Em 2022, seu projeto Ruínas Florestais foi finalista do prêmio Leica Oskar Barnack e vencedor das bolsas Catchlight Global Fellowship e National Geographic Explorer. Em 2023, participou como fotógrafo do Washington Post na reportagem “The Amazon, Undone”, vencedora do Overseas Press Club, George Polk e finalista do prêmio Pulitzer de Jornalismo.

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