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Publicado em

22/08/2024

Caminhando sobre brasões: a colonialidade e o racismo em Portugal

Performance artística coloca em evidência a necessidade de desconstruir os símbolos e as estruturas que perpetuam a colonialidade e o racismo na sociedade portuguesa.

Por André Soares

Foto: Izabella Tamazo

Num país onde as cicatrizes do colonialismo ainda estão visíveis, seja nos monumentos, nas políticas ou nas desigualdades sociais, a performance artística “Caminhando sobre Brasões”, realizada no Jardim do Império, em Lisboa, Portugal, constitui-se como um posicionamento contundente de que a descolonização não é apenas um ato político, mas um processo contínuo de reflexão e ação. 

Realizada há um ano, a iniciativa segue viva, não apenas em forma de protesto, mas como uma poderosa metáfora sobre a iminente necessidade de desconstruir os símbolos e as estruturas que perpetuam a colonialidade e o racismo na sociedade portuguesa. 

A violência persiste, não apenas no simbolismo dos monumentos, mas na realidade cotidiana de pessoas negras, que, apesar de contribuírem significativamente para Portugal, continuam a ser marginalizadas, maltratadas e silenciadas, como no caso da agressão policial a Cláudia Simões. 

O ato de gritar “por um jardim sem impérios” é um apelo à ação, à reparação, à necessidade de reimaginar um futuro onde as feridas coloniais possam finalmente cicatrizar.

André Soares (antropólogo) na performance-protesto “Caminhando sobre Brasões”. Foto: Izabella Tamazo

Ao caminhar sobre os brasões – representações visíveis de um passado colonial – os performers confrontaram, de forma física e simbólica, as violências e injustiças que ainda ressoam nos espaços públicos e nas vidas das pessoas racializadas. Essa performance revelou como o espaço público, muitas vezes percebido como neutro, carrega marcas profundas de uma história de opressão. 

Os brasões, que outrora representavam o orgulho de um império, agora ardem como brasas, queimando as memórias de um passado que muitos e muitas preferem esquecer, mas que continua a sangrar. A fita vermelha que imobilizava o meu corpo, um performer branco, enquanto silenciava a minha voz, evocava a urgência de interromper os discursos, práticas e monumentos colonialistas que ainda permeiam a nossa sociedade.

Esse grito, que ecoa nas ruas e praças, liga-se à memória de figuras como Marielle Franco, George Floyd, Luís Giovani e Bruno Candé, cujas mortes são lembretes dolorosos de que o racismo e a violência sistêmica são realidades ainda presentes. 

Foto: Izabella Tamazo

O protesto terminou com o silenciamento do performer branco e transformou-se num apelo para que todos os que presenciaram a performance – tanto os turistas que observam os cravos nos brasões quanto os cidadãos que passam – reconheçam a urgência de parar o ciclo de opressão. A fita de emergência, enrolada em torno do meu corpo, é um símbolo de que a colonialidade deve ser imobilizada, interrompida antes que continue a asfixiar novas gerações.

De minha parte, caminharei sempre pelo fim dos jardins dos impérios!

*A performance artística aconteceu no contexto dos Seminários do Centro em Rede de Investigação em Antropologia – “Diálogos de Antropologia Pública”.

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