Publicado em
11/11/2022
Analistas defendem que será necessário reconstruir as bases democráticas do país em meio ao ‘fanatismo religioso, ao confinamento nas bolhas da Internet e à idolatria a um político’.
Por Dayse Porto
O resultado da eleição presidencial de 2022 trouxe ares de esperança para o Brasil: a democracia venceu. Comemorar é muito importante, já que foi uma vitória conquistada voto a voto, com muito esforço empregado pelos dois projetos políticos que chegaram à disputa final e, após um período eleitoral exaustivo, o resultado foi positivo para o campo da defesa e proteção dos direitos humanos e socioambientais.
Mas os desafios enfrentados nos últimos anos não se resolvem com o fim da eleição. Problemas estruturais antigos, que impedem o avanço rumo a uma sociedade mais justa e menos desigual, foram agravados pela crise desencadeada pela pandemia, sendo preciso também lidar com o avanço do conservadorismo na última década. Durante a campanha eleitoral, que foi palco de cenas de violências em diversos territórios, a polarização política aumentou e essas forças foram, cada vez mais, se aproximando de regimes fascistas.
Um caso que ilustra bem como ainda será preciso combater essa onda fascista nos próximos anos é a ação de um grupo de eleitores de Jair Bolsonaro, no Rio Grande do Sul. Disseminam, via redes sociais, uma mensagem pedindo que comerciantes que votaram em Lula coloquem adesivos com a estrela vermelha do PT na frente de seus estabelecimentos, como um gesto de “mostrar orgulho” em relação ao próprio voto. A tática é semelhante às usadas pelo regime nazista para perseguir judeus durante a Segunda Guerra Mundial e o Ministério Público foi acionado para investigar o caso como assédio eleitoral.
O episódio foi mais uma tentativa de grupos ligados ao candidato derrotado na disputa presidencial de oferecer resistência ao resultado das urnas, após alguns dias de paralisações em rodovias desde o dia 30 de outubro. Os bloqueios geraram prejuízos para diversos setores, chegando a afetar o atendimento hospitalar, e foram desmobilizados pelo próprio Jair Bolsonaro, alguns dias após o início dos protestos.
Especialistas apontam que a vitória de Lula foi um marco muito importante, mas não representa o fim do bolsonarismo, um fenômeno que transcende a figura de Jair Bolsonaro, e dos ataques à democracia. Analistas políticos consultados pela Sputnik Brasil defendem que será “necessário reconstruir as bases democráticas do país em meio ao ‘fanatismo religioso, ao confinamento nas bolhas da Internet e à idolatria a um político’.”
“Voto dividido” e abstenções
Mesmo derrotado nas urnas, o atual presidente, primeiro da história a não se reeleger, foi escolhido como melhor opção de voto por 58,2 milhões de pessoas no segundo turno das eleições [ contra 60,3 milhões de Lula ], teve 15 governadores aliados vitoriosos e elegeu mais de cem parlamentares pelo PL, formando o Congresso mais conservador da história.
Composição da bancada eleita para a Câmara dos Deputados em 2022 por partidos. Fonte: BBC
A pergunta que se sobressai após esse resultado é: se a maioria preferiu o candidato de esquerda para presidência, por que optaram por uma maioria de direita no Congresso Nacional? O chamado “voto dividido”, fenômeno caracterizado quando eleitores elegem, em âmbitos diferentes, candidatos com projetos políticos muito divergentes, como aconteceu no Brasil, é uma reação do eleitorado diante das incertezas em relação ao futuro.
Na prática, quando não é possível prever como será o futuro próximo da economia, eleitores priorizam garantir o controle do presidente por meio de uma forte oposição no Congresso, uma forma de impor o Executivo a negociar com a oposição e evitar que políticas consideradas extremas, tanto à esquerda, como à direita, sejam aprovadas. Segundo essa leitura, o resultado das eleições de 2022 pode ser um recado ao próximo presidente e aos parlamentares eleitos sobre a necessidade de mediação e negociação.
Mas, além dos dois grupos de eleitores que protagonizaram a disputa eleitoral, existe uma parcela do eleitorado que não optou por nenhuma das candidaturas disponíveis. Um total de 32 milhões de brasileiros aptos não votaram, representando uma abstenção recorde, e cerca de 3,4 milhões anularam o voto e 1,9 milhão votaram em branco, totalizando 4,4% dos votos totais válidos.
A crescente no número de pessoas que optaram por não exercer o direito ao voto é um problema que já havia sido diagnosticado nas últimas eleições e ainda deve ser um desafio persistente por alguns anos, o que reforça a necessidade de investir esforços e investimentos em educação política.
Governo de transição
Diante dos eventos desde o segundo turno das eleições, há um temor na comunidade internacional de que protestos bolsonaristas tentem impedir a posse de Lula. Organizações da sociedade civil, movimentos sociais, partidos e até mesmo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) começaram, muito antes do resultado das eleições, uma movimentação internacional em torno da defesa das instituições brasileiras.
A articulação buscava garantir a credibilidade do processo eleitoral, questionado por disparos massivos de desinformação por apoiadores de Jair Bolsonaro desde as eleições de 2018.
O reconhecimento de líderes mundiais à vitória de Lula não demorou e nas 48 horas que se seguiram ao anúncio do resultado, mais de cem países já tinham manifestado que o novo interlocutor do Brasil para o mundo é Lula. Na mesma semana, a equipe do presidente eleito começou a trabalhar no governo de transição, processo feito para que a nova gestão receba os dados e informações necessários para implementar o novo programa de governo.
O vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, apresentou uma lista de integrantes que vão compor seis grupos técnicos do governo de transição. Um dos grupos é chamado de “Povos Originários”, que deve dar origem a um ministério voltado exclusivamente à questão indígena, promessa de campanha de Lula, e que já tem Sônia Guajajara, como nome mais cotado para assumir o Ministério.
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