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Publicado em

17/03/2023

Iniciativas promovem acolhimento, cuidado e assistência a mulheres

Quem cuida de quem cuida? A Revista Casa Comum elencou projetos, programas e ações de cuidado e acolhimento de mulheres

Por Dayse Porto

Nascer mulher em um mundo machista no qual ainda predominam sociedades patriarcais significa, dia após dia, lutar, muitas vezes até mesmo de forma inconsciente, contra as determinações que são impostas sobre a vida e o corpo feminino. Se a mulher decide não ter filhos, ainda não teve o “chamado da maternidade”. Se optam por fazer um aborto, também são alvo de críticas. Se usam uma saia ou vestido curtos, ou até mesmo um batom vermelho, estão “pedindo” para algum tipo de assédio ou violência acontecer.

Essas são alguns dos estereótipos de gênero que recaem sobre os corpos das mulheres
cotidianamente. O “lugar” reservado para as mulheres, historicamente, foi o do ambiente privado e, com isso, elas foram responsabilizadas pelas tarefas de cuidado. Até hoje, mesmo com tantos avanços conquistados pelos movimentos de mulheres e feministas, o dia a dia de muitas mulheres é preenchido por tarefas domésticas, pelo cuidado com a família e com trabalho.

Fazer sozinha ou com pouca colaboração o trabalho de planejamento e organização que uma casa requer gera uma carga mental que ainda é pouco debatida pela sociedade e que tem consequências graves a longo prazo, para toda a sociedade.

Com isso, fica a pergunta: quem cuida de quem cuida? Quem olha pelos direitos daquelas que carregam, historicamente, a maior responsabilidade de cuidado dos outros, sejam filhos, companheiros, seus familiares e suas casas?

No âmbito do mês da mulher e da série especial Mulheres que Cuidam da Casa Comum, a Revista Casa Comum listou iniciativas sociais voltadas ao cuidado de mulheres. São projetos e programas que priorizam a garantia dos direitos femininos e promovem processos de acolhimento em caso de violências. Confira:

Mapa do Acolhimento

Uma iniciativa do NOSSAS, organização que impulsiona o ativismo democrático e solidário no Brasil, o Mapa do Acolhimento elenca informações sobre os serviços públicos de atendimento às mulheres e de enfrentamento à violência, como delegacias, centros de referência, defensorias, serviços da rede de saúde e assistência.

Para serem atendidas, as mulheres – cis, trans e travestis – devem ser maiores de 18 anos, residir no Brasil, ter sofrido ou estar sofrendo violência de gênero e estar em vulnerabilidade socioeconômica.

O objetivo da ferramenta é não deixar nenhuma mulher desamparada.

Casa da Mulher Brasileira

Um dos eixos do programa Mulher, Viver sem Violência, coordenado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, a Casa da Mulher Brasileira integra, em um só lugar, diferentes serviços especializados e importantes para casos de violências: acolhimento e triagem; apoio psicossocial; delegacia; Juizado; Ministério Público, Defensoria Pública; promoção de autonomia econômica; cuidado das crianças – brinquedoteca; alojamento de passagem e central de transportes.

Atualmente, são oito unidades no país: Ceilândia e Brasília (DF), Curitiba (PR), São Luís (MA), Campo Grande (MS), Fortaleza (CE), São Paulo (SP) e Boa Vista (RR).

Recentemente, a nova gestão do Ministério das Mulheres, presidido por Cida Gonçalves, anunciou uma parceria com o Ministério da Justiça para o lançamento de 40 unidades da Casa da Mulher Brasileira.

Meter a Colher

Criada em 2016, a startup conta com alguns produtos lançados:

1) o aplicativo Mete a Colher, criado para receber relatos de mulheres que sofrem algum tipo de violência e orientá-las (atualmente indisponível para download);

2) a Tina, uma ferramenta que funciona como um canal de acolhimento para funcionárias de empresas que sofreram qualquer tipo de violência no ambiente de trabalho;

3) e o grupo Mete a Colher no Telegram, que reúne mulheres que precisam de ajuda para sair de uma situação de violência com outras que desejam ajudar de forma voluntária.

PenhaS

Com coordenação da Revista AzMina, o PenhaS é um aplicativo desenvolvido por meio da escuta de especialistas e de mulheres de diferentes idades, raças e classes sociais que congrega três pilares quando o assunto é violência contra mulheres:

– informação e serviços públicos de atendimento;

– mapa de mulheres em todo o Brasil dispostas a ajudar mulheres em situação de violência;

– equipe d’AzMina para acolher e orientar e escolha de até cinco pessoas de confiança para caso a usuária do app precise de ajuda urgente.

Outras iniciativas

Rede de Defesa de Direitos (SP)

A Rede de Defesa de Direitos é o resultado do trabalho anual do Grupo de pesquisa “Violência e gênero nas práticas de saúde” (atualmente denominado “Grupo de pesquisa e intervenção atenção primária e cuidado em saúde“), do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo (USP), que edita e publica, desde 1996, Guias de Serviços voltados às mulheres e meninas em situação de violência. A ferramenta permite a busca por tipos de serviços – abrigos/moradias provisórias, assistência à saúde, jurídica, policial, psicossocial, atendimento 24 horas, centros de referência, orientações básicas e serviço social – e região.

Casa de Marias (SP)

Coordenada por um grupo de mulheres negras, a Casa de Marias é um espaço de acolhimento de mulheres, que conta com uma equipe formada por psicoterapeutas.

Entre os serviços oferecidos, estão: psicoterapia individual, psicoterapia grupal, terapia para casais e famílias, cuidado psicológico voltado para crianças, adolescentes, adultos e idosos, oficinas temáticas, grupos terapêuticos, cursos de formação, grupo de estudos, supervisão clínica individual e grupal, consultorias, rodas de conversa, dentre outros.

O atendimento é gratuito e focado em mulheres negras, indígenas, periféricas e outros recortes sociais, visando ampliar e democratizar o acesso aos cuidados em saúde mental.


Saiba mais: 

Durante a pandemia de Covid-19, quando o debate sobre a saúde mental das mulheres e os efeitos da sobrecarga de trabalho veio à tona com força, a organização Think Olga convidou algumas mulheres incríveis, que trabalham com e pesquisam sobre o tema, para uma conversa sobre a saúde mental das mulheres que cuidam. Ouça: 

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