Publicado em
29/08/2023
Iniciativas fortalecem a defesa de direitos humanos e socioambientais por meio do diálogo inter-religioso, da promoção da tolerância e da cooperação entre diferentes comunidades de fé.
Por Dayse Porto
Ato Público da Missão Ecumênica “Pelas Águas dos Cerrados da Bahia no Oeste do Estado”. Correntina (BA), 2019. Foto: Thomas Bauer
Em um mundo cada vez mais diverso e globalizado, o diálogo entre diferentes tradições religiosas aponta caminhos para a defesa dos direitos humanos e socioambientais. As experiências ecumênicas, que promovem a união e a cooperação entre grupos religiosos, vêm ganhando relevância no Brasil atual.
Tais iniciativas se colocam como peças de um quebra- -cabeça que une a diversidade de povos e identidades brasileiras. Assim como cada peça é única, cada região do país traz consigo uma história, cultura e espiritualidade próprias. Ao conectar diferentes tradições religiosas e manifestações de fé, as experiências ecumênicas promovem o diálogo e a troca de saberes e nos convidam a transcender fronteiras e preconceitos.
De maneira geral, mostram que é possível encontrar pontos convergentes que estão relacionados à luta pela defesa da dignidade humana e ao cuidado com o planeta. Ao construir uma cultura de respeito e cooperação, essas práticas de diálogos inter-religiosos enriquecem as vivências em sociedade e, consequentemente, ampliam a compreensão coletiva dos direitos humanos e socioambientais.
De acordo com Sônia Mota, diretora-executiva da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), compreender e respeitar a diversidade religiosa é essencial para garantir o livre exercício da fé e combater os fundamentalismos que legitimam violências e ameaçam o Estado Democrático de Direito. “Enfrentamos desafios relacionados às diferenças teológicas, culturais e práticas entre as tradições religiosas envolvidas e é importante promover aproximações, mostrando que o que nos une é maior do que aquilo que nos separa. Superar os fundamentalismos religiosos e políticos é um grande desafio, mas o ecumenismo é um movimento de unidade na diversidade”, defende.
A troca de conhecimentos, recursos e redes de apoio entre diferentes grupos religiosos fortalece a atuação das organizações na defesa de direitos. “O respeito pela fé do outro já é um sinal de avanço social, apesar das constantes violações às religiões de matriz africana e ameríndias. O diálogo possibilita avançar na denúncia dos crimes contra a dignidade humana e a integridade da criação, além de afirmar que é possível rezar de forma diferente e construir um mundo menos desigual, com respeito e justiça para todas as pessoas”, argumenta a Pastora Bianca Daébs, as- sessora para Ecumenismo e Diálogo inter-religioso da CESE. Para ela, a fé, como elemento poderoso, suscita esperança e força para enfrentar adversidades, especialmente para pessoas em situação de vulnerabilidade.
Em diálogo com as representantes da CESE, a Revista Casa Comum traz exemplos de experiências ecumênicas que atuam na defesa de direitos. Confira:
Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE)
Entidade filantrópica que atua para fortalecer movimentos sociais e grupos populares em busca de transformações políticas, econômicas e sociais e em defesa da democracia. Com sede em Salvador (BA), a CESE é composta por igrejas cristãs e é referência no campo ecumênico e no diálogo inter-religioso e apoia projetos de articulação e formação. Desde sua fundação, já impactou mais de 10 milhões de pessoas por meio do Programa Pequenos Projetos.
Embora atenda projetos em todo o Brasil, a CESE prioriza as regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste. Compartilhando recursos financeiros e espaços de diálogo, a organização contribui para construir uma sociedade mais justa e democrática, promovendo transformações sociais necessárias para a equidade e a inclusão.
Recentemente a organização apoiou a reconstrução de Casas de Reza em territórios indígenas por meio do Programa de Pequeno Projetos. Um exemplo foi a Casa de Reza Gwyra Nhe’engatu Amba, no Mato Grosso do Sul, que foi incendiada, em 2019, e teve sua estrutura completamente destruída. A CESE destinou recursos que viabilizaram a compra de materiais para a reconstrução da Casa, além de equipamentos diversos, bem como a remuneração de colaboradores do projeto e custos com estes. Os trabalhadores da parte estrutural da obra foram todos indígenas da aldeia, o que garantiu que o projeto arquitetônico fosse fiel à tradição do povo Guarani-Kaiowá.
Sessão especial “Água e Espiritualidade”, no 8° Fórum Mundial da Água. Foto: Wilson Dias / Agência Brasil
Campanha da Fraternidade Ecumênica
Uma iniciativa que ocorre, aproximadamente, a cada cinco anos, congregando diferentes denominações cristãs de forma ecumênica. Tem como objetivo promover a solidariedade, o diálogo inter-religioso e a valorização das contribuições de cada igreja, celebra um tema central a cada edição, buscando abordar questões sociais relevantes, como a justiça, a paz, a ecologia e os direitos humanos. A última edição da Campanha Ecumênica foi em 2021, com o tema: “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor”.
Durante cada edição da campanha, são promovidas atividades como palestras, debates, encontros ecumênicos e projetos sociais em parceria com organizações da sociedade civil. Essas ações visam sensibilizar e conscientizar a população sobre os desafios enfrentados pela sociedade, além de estimular a solidariedade e o compromisso cristão com a transformação social. Uma iniciativa importante para a comunidade cristã se unir em busca do bem-estar comum.
Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (CEBI)
Instituição que promove estudos e reflexões ecumênicas sobre a Bíblia por meio de cursos, publicações e encontros, buscando aprofundar o conhecimento das Escrituras e sua relação com a realidade atual. Valorizando a diversidade de interpretações, o CEBI tem compromisso com a transformação social e a justiça, refletindo sobre questões como pobreza, desigualdade e violência.
O centro reúne pessoas de diferentes tradições religiosas e cumpre um papel importante na formação de lideranças comprometidas com a justiça e na promoção de uma educação bíblica crítica. Sua atuação ecumênica e sua abordagem contextualizada contribuem para uma compreensão mais profunda da Bíblia, capacitando pessoas e comunidades a se engajarem ativamente na construção de um mundo mais humano e solidário.
Rede Ecumênica da Juventude (REJU)
Reúne jovens de diferentes tradições religiosas e movimentos sociais, como cristãos, católicos, candomblecistas, budistas, entre outros, com o objetivo de promover a incidência política em prol dos direitos da juventude. A REJU concentra suas atividades em três eixos principais: intolerância religiosa, homofobia e justiça socioambiental.
A organização atua nas cinco regiões do Brasil, por meio de grupos locais chamados de REJUS Regionais, que contam com facilitadores para liderar ações em suas respectivas regiões. Em Porto Alegre, por exemplo, são realizados debates universitários com o Cine Juventude, além de participação em eventos ecumênicos de formação. Os jovens interessados em participar da REJU devem se identificar com os processos e projetos da organização e buscar os grupos locais.
Editorial da 5ª edição da Revista Casa Comum.
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29/08/2023