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Publicado em

06/12/2024

Revista Casa Comum marca presença no X Educom que debateu diferentes formas de participação e protagonismo a partir da Educomunicação  

Equipe Casa Comum participa remota e presencialmente do X Educom. Confira os destaques.

Por Redação

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“Gostei da estrutura do material proposto, a sequência didática e a qualidade da Trilha de Saberes. É um material muito rico para eu utilizar na minha prática junto aos estudantes da rede pública de ensino do Distrito Federal”. A fala é de Anaí Haeser Peña, membro da equipe da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal, ao participar da oficina sobre as Trilhas de Saberes, realizada durante o X Encontro Brasileiro de Educomunicação, promovido pela Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação (ABPEducom), e que contou com o apoio da Revista Casa Comum.

O evento, realizado de 21 a 23 de novembro, na Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB), teve como tema central a Educomunicação nas Políticas Públicas: a emergência da participação social para a cidadania. O objetivo do encontro foi debater, conhecer e dar visibilidade a ações, projetos, iniciativas e pesquisas relacionadas ao fomento do exercício da cidadania e o fortalecimento da democracia no Brasil a partir da Educomunicação, assim como de políticas públicas embasadas nessa prática. 

Assim como Anaí, diversos outros participantes se engajaram nas oficinas sobre as Trilhas de Saberes da Revista Casa Comum. Criada a partir da parceria entre a publicação  e a ABPEducom, a Trilha de Saberes acompanha cada edição da revista e se propõe a apresentar um roteiro para que educadores e educadoras e todos e todas que promovem atividades com grupos, coletivos, movimentos, espaços escolares etc. possam explorar todo o conteúdo da Revista em momentos de encontros, rodas de conversa e formações, incentivando a reflexão e o engajamento de cidadãos e cidadãs em iniciativas de transformação social.

Aline Cavaca, da Fiocruz, também participou de uma das oficinas promovidas pela Revista e aponta o quão interessante achou a Trilha, que ainda não conhecia. “Estamos construindo uma trilha de aprendizagem do SUS [Sistema Único de Saúde]. Achei muito importante a inspiração dessa trilha”, ressaltou na avaliação do encontro.

Além das oficinas, Daniele Próspero, editora da Revista Casa Comum, também marcou presença no encontro ao integrar a mesa redonda VII, no sábado, dia 23, com o tema: A Educomunicação como política de ação: a urgência da participação social para a cidadania.  O momento foi reservado a apresentação e análise de experiências de práticas educomunicativas integradoras, em níveis locais, estaduais e nacionais. Uma das iniciativas apresentadas foi a Revista, como exemplo de um veículo que promove a mobilização social a partir dos princípios da Educomunicação.

Na ocasião, Daniele iniciou a sua fala lembrando que o projeto Casa Comum foi pensado num contexto de fragilização e ataques à democracia e de uma crescente desinformação, pelo qual o país passou nos últimos anos. Diante disso, identificou-se a necessidade de criação de um veículo de comunicação que cumprisse um papel pedagógico estratégico na apresentação e monitoramento da agenda pública e as principais ações de incidência a nível nacional. 

Surge assim então, em 2022, a Revista Casa Comum. “Com a proposta de alcançar os objetivos estabelecidos, criou-se uma estratégia de comunicação multiplataformas, que tem como base os princípios e práticas da Educomunicação para criar e ampliar as possibilidades de acesso e disseminação de repertórios do campo dos direitos socioambientais, tanto entre os movimentos e redes, assim como para indivíduos de diferentes realidades”, ressaltou Daniele, destacando que a perspectiva é o fortalecimento das ações populares, produção de conteúdo crítico e disseminação de informações qualificadas referentes aos direitos humanos e ambientais, a fim de gerar conhecimento e incentivar o engajamento e a mobilização social em torno de temas urgentes do país, com foco na democracia.

Ao longo de todo o X Educom, a Revista foi também distribuída aos participantes, assim como outros materiais próprios, como um marca-páginas e um folder que ressalta todos os projetos desenvolvidos pela Casa Comum. “A participação no evento foi realmente muito rica. Tivemos retornos muito positivos sobre a Revista e diversos pesquisadores que estiveram presentes e são de universidades dos quatro cantos do país se interessaram em receber a publicação para trabalharem as temáticas do campo de defesa de direitos com seus estudantes. Inclusive, alguns querem contribuir com produções”, destaca Daniele.

Confira os principais debates promovidos ao longo do X Encontro Brasileiro de Educomunicação e que foram acompanhados pela equipe da Revista:

“A perspectiva desse encontro é o fortalecimento do pensamento de que precisamos de políticas públicas na área da Educomunicação, identificar onde elas existem e socializar as experiências que estão acontecendo.” 

Essa foi uma das principais falas de Ismar Soares, presidente da ABPEducom e conselheiro da Revista Casa Comum, durante a abertura da primeira mesa do X Educom, que teve como tema: “A gestão de processos de mobilização social para a cidadania: a prática educomunicativa.

O professor reforçou a importância do evento e também de outras iniciativas para que grupos, ações e projetos que atuam com Educomunicação se conheçam e interajam para que, a partir dessa articulação, possam influenciar políticas públicas em prol da Educomunicação. 

Ismar também reforçou o caráter de interface e resistência próprios do campo, e o quanto isso é visível na postura dos jovens. “O que nós dizemos é o seguinte: uma nova onda está emergindo. A juventude está se despertando. Eu gosto de falar que Educomunicação é amor e luta, e isso fica evidente na voz dos jovens. Quando falamos de Educomunicação, estamos falando de personagens e de pessoas e grupos que dialogam com os dois campos que a antecederam: com a comunicação e a educação.” 

Lilian Romão, doutora e mestre em comunicação e gestora de comunicação do Instituto Fonte, também abordou a perspectiva das juventudes dentro dos processos educomunicativos, que dão a possibilidade de os jovens escolherem sobre o que desejam falar. Tendo estudado Educomunicação e participação cidadã em sua pesquisa de doutorado, reforçou a importância de processos de escuta ativa nas demandas, principalmente de vozes historicamente silenciadas, muito determinadas pelo processo de colonização no Brasil. 

Ou seja, que espaços de participação, por exemplo, não sejam oferecidos ‘prontos’, mas construídos com e para as juventudes, e possam absorver, também, a heterogeneidade dos(as) jovens. 

“Na nossa cultura, a fala é o que define muitas vezes o lugar do líder. E na cultura tupi, por exemplo, o líder se torna a pessoa que tem a capacidade de escutar. Eles falam que a escuta é um processo que pode e deve ser aprendido.” 

A premissa de fazer junto e para os jovens também é o pilar principal do Projeto Letramento Transmídia (Letransmídia), uma iniciativa que envolve professores e alunos de graduação e pós-graduação de cinco universidades pelo país, com o objetivo principal de mapear as competências transmidiáticas de estudantes de Ensino Médio de 14 a 18 anos de escolas públicas das regiões Nordeste e Centro Oeste, para depois elaborar um diagnóstico que seja capaz de orientar a produção de estratégias pedagógicas e comunicacionais.

A pesquisa considera que os processos de aprendizado desses jovens com e através das mídias se dão não só em ambientes formais de aprendizagem, mas sobretudo nos ambientes informais, onde eles aprendem ensinando, fazendo, escutando e com vários entes de socialização. 

As professoras Renata Othon e Carina Flexor, da Faculdade de Comunicação (FAC) da UnB, compartilharam a potência de uma iniciativa que colocou em contato jovens da graduação com estudantes do Ensino Médio, considerando a proximidade de faixa etária e também as vivências e experiências compartilhadas, reforçando a importância do protagonismo dos universitários na condução das pesquisas de campo nas escolas participantes. 

As educadoras pontuaram que a maioria dos processos do projeto são realizados visando a diminuição de uma estrutura hierárquica entre os professores e graduandos, que se envolvem em todas as etapas. Os materiais de divulgação e de resultados também são elaborados pelos estudantes universitários.

Com uma participação remota, Renata Trajber, coordenadora do programa Cemaden Educação: rede de escolas e comunidades na prevenção de desastres, no Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais/Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, dividiu com os participantes a interface entre a prática educomunicativa e pautas relacionadas ao clima e meio ambiente no contexto das Conferências Nacionais Infanto-Juvenis do Meio Ambiente. 

A coordenadora também compartilhou o recebimento de iniciativas e ações com princípios educomunicativos em uma das ações do Cemaden, a 8ª Campanha #AprenderParaPrevenir, que abarca propostas de educação ambiental climática ou redução do risco de desastres. 

Também à distância, Carlos Lima, que atua na Coordenação do Núcleo de Educomunicação da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo e do Programa Imprensa Jovem, trouxe um panorama da Educomunicação enquanto política pública na rede municipal de educação da capital paulista. 

Existente há mais de duas décadas e alcançando quase 500 escolas em toda a cidade, a política visa promover protagonismo, participação e autonomia dos estudantes, bem como outros aspectos e habilidades, como colaboração, expressão criativa, cultura de paz e digital, e, claro, a leitura crítica da mídia, ainda mais importante atualmente em meio a um cenário de multiplicação de fake news

Carlos defendeu, inclusive, que a própria construção da política, que vai se atualizando, pode ser feita com os alunos.

“Políticas públicas precisam ser muito flexíveis, articuladas e estarem com o ouvido atento às mudanças, para fazer o caminho do diálogo sem perder a ternura. Nós dizemos que não damos voz aos estudantes, porque não se dá voz a quem já tem. Nós oferecemos espaços de voz e acolhemos essas vozes”, apontou Carlos. 

A mesa “A Mediação Tecnológica e participação social para a cidadania” contou com a apresentação de diferentes iniciativas que relacionam educação, comunicação, tecnologia e cidadania. 

Maíra Moraes, pesquisadora e presidente da MultiRio – Empresa Municipal de Multimeios, vinculada à Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro -, ficou responsável pela apresentação da ANDAR – Agência de Notícias dos Alunos da Rede, uma estratégia educacional que nasce na MultiRio, mas que hoje é uma tecnologia social ofertada às escolas como disciplina optativa. 

Para Maíra, a agência de notícias não é sobre produzir notícias, é sobre ensinar as crianças a olhar o mundo de uma forma questionadora. “Hoje essas crianças não passam por uma calçada quebrada e acham normal. Elas questionam a forma como a cidade acontece.” A educadora reforça que não se trata de ‘brincar’ de fazer notícia, mas sim de um processo de aprendizagem que inclui uso de tecnologia, de competências socioemocionais e desenvolvimento de competências fundamentais.

Beatriz Beraldo, Suelen Valente e Mariana Lopes, professoras do curso de publicidade e propaganda na UnB, compartilharam noções sobre a presença da publicidade nas relações sociais e culturais atualmente, reforçando que, hoje, a publicidade é um discurso expandido e capilarizado, que dialoga com outros discursos e que é praticamente inescapável, no sentido de que todos estão sujeitos a algum tipo de publicidade – seja nos celulares, na televisão, no rádio, ou outdoors e anúncios em locais públicos, como no metrô. 

“Por ser inescapável, o discurso [publicitário] precisa de muita responsabilidade naquilo que está sendo dito, justamente por ser um discurso muito presente na nossa vida”, comentou Beatriz. Tendo em vista a importância da criticidade do discurso publicitário, as educadoras também comentaram uma inclusão mais cuidadosa e intencional da educação midiática e participação cidadã nas ementas das disciplinas do curso de publicidade e propaganda. 

Marciel Consani, coordenador e professor da Licenciatura em Educomunicação do Departamento de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP), fez um apanhado histórico da mediação tecnológica na educação, e o que essa mediação propriamente significa. 

Marciel também apresentou um projeto – as Carretas USP – de oficina de podcast e videoclipe da USP na comunidade de Paraisópolis, em São Paulo, em parceria com o CEU local. Segundo o professor, entre as principais conclusões desta e de outras experiências, é o fato de que a Educomunicação se faz na prática, de que esse tipo de vivências precisam ter uma continuidade e de que professores, antes de aprender sobre mídia, precisam aprender sobre educação. 

Mariana Ochs, especialista em cultura digital na educação e coordenadora de educação do EducaMídia, o programa de educação midiática do Instituto Palavra Aberta, trouxe a perspectiva da urgência sobre o letramento algorítmico na educação para a cidadania, sobretudo na perspectiva da inteligência artificial (IA) e sua disseminação em inúmeras – senão todas – as áreas, principalmente na educação.  

“Há uma pressão enorme do mercado para que a gente utilize tecnologias com inteligência artificial no ensinar e no aprender, e a velocidade da governança e da educação não conseguem acompanhar essa velocidade do mercado corporativo e essa pressão para adoção da inteligência artificial, mas é importante que a gente pense sobre o espaço de problema que isso representa”, explicou. 

Segundo Mariana, nesse momento, o mais importante é perceber que educar com IA é muito diferente de educar para a inteligência artificial, e que toda adição de tecnologia produz efeitos em todos os sistemas. Ainda, fez uma reflexão sobre como muitos dos fenômenos sociais são profundamente impactados por essas estruturas de IA e dos algoritmos, que, por sua vez, servem aos interesses de um grupo restrito de empresas. 

“É importante que a gente não demonize os ambientes [digitais] onde [as crianças e jovens] estão, mas que a gente se preocupe em explicar o uso de cada um sem cercear os direitos deles de estarem ali, porque essas são coisas importantes na vida social deles.” E ainda mencionou que a Unesco apontou, recentemente, que a educação midiática é a estratégia mais imediatamente acessível para enfrentar a emergência da desinformação e deep fakes. 

Educomunicação para a difusão de conhecimento e visibilização de desafios sociais

O painel  “Ação social na perspectiva da Educomunicação” foi um momento dedicado a refletir sobre o tema a partir das vertentes voltadas aos direitos humanos, em âmbitos como o combate à fome, a mobilização pelo exercício do direito à expressão, a luta contra o racismo, o tratamento das questões de gênero e a introdução do diálogo educomunicativo nas ações da assistência social.

Em sua apresentação, Margarida Maria Krohling Kunsch, professora emérita, doutora e pesquisadora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), abordou as contribuições teórico programáticas do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da USP. 

A temática e estudo partem das experiências do Grupo de Trabalho USP Políticas Públicas de combate à insegurança alimentar e à fome, formado por 12 professores de diversas unidades, inclusive da ECA.

A pesquisa da professora analisa dados da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a persistência da fome e da insegurança alimentar no Brasil, sobretudo no contexto de agravamento da pandemia de Covid-19. A educadora destacou as principais concepções sobre comunicação pública e as suas aplicações como fator essencial na defesa do interesse público, neste caso específico, na falta de alimentos às pessoas com maior vulnerabilidade social.

Nesse contexto, Margarida frisa a necessidade de contextualização da situação da fome no país frente ao desmonte sistemático de ações de seu combate e em relação à má nutrição que houve a partir de 2016, quando o Brasil registrou altos índices de insegurança alimentar.

Dado o contexto, qual seria o papel da comunicação, aliada com a educação, por meio do Grupo de Trabalho da USP? As possibilidades são múltiplas, tais como o que ocorreu concretamente neste caso: contribuição com estudos do campo da comunicação para o estabelecimento e implementação de políticas públicas no combate à insegurança alimentar e à fome junto ao poder público e segmentos da sociedade civil, além da proposição de um plano estratégico de comunicação com vistas à difusão da proposição de novas políticas  públicas elaboradas pelas equipes integrantes dos eixos temáticos do GT junto ao poder público (nos âmbitos federal, estadual e municipal), organismos nacionais específicos, universidades e a sociedade em geral.

Contudo, Margarida afirma que a “área de comunicação não tem sido utilizada de forma estratégica, com políticas definidas, para a difusão das pesquisas e dos novos conhecimentos gerados nas universidades e nos centros de investigação relacionados à questão da insegurança alimentar, da desnutrição e do combate à fome e para sensibilizar e conscientizar os poderes públicos e a sociedade sobre essa problemática crucial que assola o Brasil.”

Outros participantes da mesa também mostraram como a Educomunicação pode ser aplicada a contextos e desafios sociais.  Adauto Soares, doutor e representante da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), abordou como a Educomunicação pode ser colocada a serviço da mobilização pelo exercício do direito à expressão.  

Dayana Melo, professora Dra. do Departamento de Comunicações e Artes da USP (CCA/ECA/USP), por sua vez, compartilhou uma  abordagem sobre a Educomunicação a serviço da luta contra o racismo. Joari Aparecido Soares de Carvalho, mestre e integrante do Grupo de Trabalho de Assistência Social e Educomunicação da ABPEducom, também contribuiu ao abordar a Educomunicação a serviço da Assistência Social.

Educomunicação como política

Em diferentes momentos e espaços, o X Educom apresentou a Educomunicação na perspectiva de sua inclusão como política pública ou institucional de diferentes organizações, mostrando o avanço de sua implementação como práxis transformadora em todo o Brasil. 

No painel “Educomunicação em Políticas Públicas e Institucionais”, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) apresentou os projetos em Educação Socioambiental por meio do Dr.Marcos Sorrentino. A Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos do Mato Grosso do Sul (SEAD-MS) compartilhou a política de 

Educomunicação no Estado Mato Grosso Sul com exposição da Profa. Dra. Elisangela Rodrigues da Costa. Já a Prefeitura de São Paulo (PMSP) dividiu suas iniciativas municipais em Educomunicação por meio de Carlos Lima.

Ainda, foram apresentadas as experiências da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Educomunicação na Saúde com a Profa. Dra. Aline Guio Cavaca. A Rede Salesiana Brasil também esteve presente no espaço com a fala da Profa. Dra. Marcia Koffermann. 

A especialista contou como seguir os princípios e ter práticas educomunicativas no cotidiano escolar se tornou parâmetro de qualidade para a Rede Salesiana, que há duas décadas, é comprometida em implementar a Educomunicação como ótica e prática transversal em suas escolas e espaços sociais. Segundo a integrante da Rede, “só consideramos a escola boa se ela possui itinerários educomunicativos.”

Márcia destacou a importância da assimilação da Educomunicação no ambiente escolar como política institucional da Rede Salesiana. “Percebemos que nossa prática educativa tem muito a ganhar com a Educomunicação porque ela é integral e considera todas as dimensões do ser humano, colocando-o no centro”. Ela enfatizou, ainda, outros aspectos: “o ecossistema educomunicativo, onde se aprende em todo lugar, de todas as formas, o protagonismo dado à juventude e a reflexão sobre os processos comunicativos, tão importantes para a sociedade.”

A Profa. Dra. Elisangela Rodrigues da Costa compartilhou sua experiência à frente do Programa Cidadania Viva, promovido de forma pioneira entre 2022 e 2024 pelo Governo do Estado do Mato Grosso do Sul.

De acordo com a coordenadora executiva, “o programa nasceu a partir de políticas afirmativas com mulheres, pessoas negras, indígenas, quilombolas, pessoas com deficiência e comunidade LGBTQIA+. Surge também a partir do paradigma educomunicativo do Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo”. 

Elisangela afirmou que a comunicação como direito humano foi a base da discussão e atuação da iniciativa. “O programa teve quatro pilares: o vozes da cidadania, momento que aconteceu a fundamentação teórica; a prosa cidadã, em que realizamos rodas de conversa; o pontes para a cidadania, em que realizamos expressão comunicativa por meio de diversas linguagens artísticas; e o rota cidadã, em que construímos atividades educomunicativas em diferentes espaços, como comunidades quilombolas e indígenas”.

Em sua fala, a professora destacou a participação dos jovens integrantes do programa nas iniciativas Revista Casa Comum e Jogo Bora lá: “nossos jovens escreveram matéria para a publicação  e também jogaram o Bora lá! Eles adoraram jogar e chegaram a fazer uma reportagem sobre esse momento”. 

A política está pausada, mas Elisangela reiterou que ela foi instituída por meio de lei estadual (nº 5.733). Logo, deve haver pressão para que o programa seja retomado e continuado.

Outra política pública apresentada foi o Programa Imprensa Jovem, criado pela Prefeitura de São Paulo em 2005 e que “abarca diversos projetos com múltiplas linguagens, como jornais-murais, podcasts, fanzines“, compartilhou Carlos Lima, coordenador do Núcleo de Educomunicação da Prefeitura de São Paulo.

Carlos trouxe para o espaço a definição do jovem André, para explicar o Programa: “o Imprensa Jovem é um espaço de expressão. Somos uma rede e estamos em sintonia. Tudo o que acontece vira notícia. Contamos os fatos e acontecimentos pelos nossos pontos de vista. Registramos, editamos, publicamos e compartilhamos. Somos alunos e alunas que produzem notícias”. 

De acordo com o coordenador, “o que une as diversas agências de notícias que integram o Imprensa Jovem é a formação. Oferecemos 21 formações sobre as diversas linguagens adotadas no programa”. Ele também ressaltou o papel social e político do programa que caminha para os seus 20 anos: “nós formamos nossos jovens para serem bons perguntadores. Porque entendemos que a pergunta é poderosa e fundamental”. 

O debate sobre políticas públicas e institucionais em Educomunicação também esteve presente na mesa redonda “A Educação midiática e informacional a serviço da participação social para a cidadania”, que contou com a presença de Fábio Meireles, da Secretaria de Educação Midiática, Diretoria Direitos Na Rede Educação Midiática, da Secretaria de Comunicação (SECOM).

Também foram expositores: o Prof. Dr. Agnaldo Arroio (FEUSP), discutindo o letramento midiático e informacional e possíveis articulações com o letramento científico na formação de professores; a Profa.Dra. Lumárya Souza de Sousa (PPGCOM/UFF), que debateu a educação midiática enquanto prática junto a crianças moradoras de favelas; a Profa. Dra.Rafiza Varão (FAC/UnB), explorando os desafios da Educomunicação e educação midiática no contexto do Projeto SOS Imprensa; e o Prof. Dr Fábio Pereira (FAC/UnB), apresentando a experiência de Educomunicação do ObserInfo nas escolas do DF.

Em sua fala, o Prof. Dr. Agnaldo Arroio trouxe que “as mídias sociais têm um grande impacto no fortalecimento da cultura negacionista que se expressa pela falta de adesão a campanhas de vacinação, por exemplo”. Segundo ele, “fazer as pessoas lerem o mundo pela ótica das ciências é papel do ambiente escolar. Mas, às vezes, basta uma mensagem que circula nas redes para acabar com o trabalho feito pelos professores. Unir o letramento midiático e o letramento científico é, portanto, imperativo da nossa época”.

A Profa. Dra.Rafiza Varão apresentou ao público o Projeto SOS Imprensa, o “maior e mais antigo projeto de extensão da UnB”. De acordo com a professora, que coordena a iniciativa, o projeto atua na literacia midiática e na crítica midiática. “Nós produzimos textos opinativos sobre análise crítica da mídia. Temos uma reunião de pauta semanal para definir temas e ações e divulgamos nossas produções nas redes sociais e em blog. Também realizamos uma curadoria de notícias para apresentar ao público o que de mais importante que está acontecendo. Por fim, atuamos nas escolas com oficinas de desinformação e de leitura crítica da mídia”, descreveu sobre o projeto.

Fábio Meireles mostrou os avanços políticos do período no campo da Educomunicação no âmbito do governo federal. Ele reforçou que a “história e trajetória da ABPEducom possibilitaram que, hoje, no âmbito federal, a gente tenha uma Coordenação Geral de Educação midiática, um Departamento de Direitos na Rede Educação Midiática e uma secretaria de políticas digitais no âmbito da Secretaria de Comunicação (SECOM)”.

Ele explicou o processo de construção de políticas para o setor: “a  gente começa com uma consulta pública, para ouvir a sociedade, ouvir estudantes, educadores, professores, sociedade civil organizada e movimentos sociais para entender o que devia ser a política de educação midiática do governo federal. A gente consolida essa consulta e lança a Estratégia Brasileira de Educação Midiática. Após o lançamento desse documento, nós realizamos a primeira Semana Brasileira de Educação Midiática como um evento de mobilização em torno do tema. Esse ano fizemos a segunda edição do encontro”.

Fábio comemora: “a educação midiática está na Lei do PPA, o Plano Plurianual do governo, então, oficialmente, somos uma política pública”.

Participação, aprendizado e novos caminhos a partir da vivência no Encontro

Por Karynna Luz, estudante de jornalismo, estagiária do Estúdio Cais/Revista Casa Comum e participante do X Educom 

Minha participação no X Encontro foi uma experiência significativa tanto como integrante da equipe do Estúdio Cais quanto como estudante de Jornalismo da Universidade Federal de Uberlândia. 

No Grupo de Trabalho 3.8, por exemplo, integrei a equipe à frente de um dos projetos apresentados, executado em Uberlândia (MG), que aplicou oficinas e visitas técnicas para promover o letramento científico através da Educomunicação, explorando formas de aproximar a ciência do público infanto-juvenil.

“Participar do Encontro foi uma oportunidade para compartilhar ideias, conhecer projetos inspiradores e ampliar meu olhar sobre a Educomunicação em diferentes contextos, inclusive internacionais.”

O contato com múltiplos projetos e iniciativas que abordaram desde Gestão da Comunicação e Educação Midiática, até a Expressão Comunicativa por meio da Arte, também ampliou meus horizontes e perspectivas sobre possibilidades de atuação e mobilização a partir da Educomunicação.

Outros conteúdos:

Encontro Brasileiro de Educomunicação discute políticas públicas, participação social e cidadania 

Promovido pela Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação (ABPEducom), o evento acontece entre os dias 21 e 23 de novembro, em Brasília, com atividades presenciais e online. A Revista Casa Comum é uma das apoiadoras da iniciativa.

Publicado em

13/11/2024

“Educomunidades” e suas múltiplas possibilidades 

Série especial em parceria com a ABPEducom coloca a educomunicação e suas possibilidades em pauta.

Publicado em

20/03/2024

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