Publicado em
16/11/2023
Alterações ambientais causadas pela exclusão social, pela indisponibilidade e pelo uso insustentável de recursos naturais são uma preocupação real e imediata, e ações a todos os níveis são cruciais para minimizar as desigualdades.
Por Roda Nuvunga Luís*
Sou uma mulher apaixonada pela natureza. O verde das plantas me encanta, o som do rio ou do mar me acalma e renova os meus pensamentos. Sou africana, de Moçambique, um país bem ao sul de África, onde a natureza caprichou em tudo. Tudo mesmo. Desde a beleza das pessoas, as paisagens de miombo (um dos maiores ecossistemas de florestas tropicais no mundo, além de fonte de biodiversidade e de regulação do clima) e de mopane (espécie de valor ecológico de extrema importância para Moçambique), as danças típicas de cada região, os sabores do vasto mar e dos palmares, das montanhas, dos planaltos e das planícies.
Sou amante da natureza: desde os pequenos insetos que polinizam as flores do meu jardim, até as fruteiras que, no meu quintal, de forma elegante, balançam o seu corpo e oferecem boa sombra, boa fruta e proteção dos solos. No pequeno espaço de terra onde habito, tenho o privilégio de ter água de fonte subterrânea de elevada qualidade. Tudo isso me faz uma pessoa que acredita que viver em harmonia com natureza é o maior bem que o ser humano pode oferecer a si mesmo e para garantir o bem-estar para as gerações vindouras.
O objetivo de qualquer atividade ambiental deveria ser educar, pesquisar e viabilizar soluções para a gestão sustentável do ambiente em todos os países, de forma a possibilitar o desenvolvimento humano cada vez mais equilibrado e preocupado com o estudo e a inovação de soluções que protejam e não degradam o ambiente.
A criação e o acesso a espaços onde existe mínima exposição de situações de degradação ambiental é o primeiro passo para a consciencialização sobre a igualdade de direitos no uso de um ambiente saudável e na implantação de mecanismos e de ações para a sustentabilidade ambiental.
Atualmente, fazendo um breve raio-x, as alterações ambientais causadas pela exclusão social, pela indisponibilidade e pelo uso insustentável de recursos naturais são uma preocupação real e imediata, e ações a todos os níveis são cruciais para minimizar as desigualdades, rumo a um futuro de respeito pelo ser humano, pela natureza e em prol da sustentabilidade.
O que fazer para combater o racismo ambiental?
A realidade exige ações urgentes e compromissos globais. Nesse contexto, precisamos de uma abordagem sinérgica, que combine os esforços de governos, indústrias, pesquisadores(as) e comunidades. Assim, aspectos práticos do nosso cotidiano, que podem inspirar e capacitar as pessoas, devem ser transmitidos para acelerar a redução das desigualdades sociais e econômicas, como a garantia do direito à participação das comunidades desfavorecidas em processos de tomada de decisão, a promoção da educação cívica sobre cidadania e a valorização e preservação do ambiente. Tudo isso contribui para o estabelecimento e o desenvolvimento de um futuro onde possamos viver em harmonia com a natureza e com uma gestão sustentável dos recursos naturais.
O acesso à água potável e ao saneamento, por exemplo, são direitos universais e condições básicas para que metas de desenvolvimento humano sejam alcançadas. Neste contexto, para as zonas áridas e semiáridas do sul de Moçambique, existe a necessidade de implementação de sistemas de abastecimento de águas – poços – para as comunidades que vivem em regiões remotas, juntamente com a incorporação de sistemas de dessalinização da água do mar e a construção de bebedouros comunitários para o gado.
É necessário o estabelecimento e a implementação de políticas que contribuam para a redução de desigualdades sociais, além de práticas de educação ambiental nas comunidades e nas escolas, principalmente no ensino básico.
Por outro lado, as instituições públicas devem ser responsabilizadas a criar ambientes de interação das comunidades com provedores de serviços públicos, de forma que todos e todas conheçam os seus direitos e deveres e se conscientizem sobre a diversidade racial e a promoção do respeito à natureza.
Não menos importante, as ações individuais para mitigar o racismo ambiental, que qualquer um pode realizar, devem se basear em proporcionar às pessoas mais jovens uma aprendizagem no dia a dia, por meio da qual possam impactar suas comunidades e tornar o ambiente são, contribuindo não só para o seu país, mas também para o mundo.
Roda Nuvunga Luís é diretora do Instituto de Investigação da Água de Moçambique, do Ministério da Ciência e Tecnologia. Foi Coordenadora do projecto para o estabelecimento do Conselho para a Pesquisa Industrial e Científica, em Moçambique, do secretariado executivo do Conselho de Pesquisas Hídricas de Moçambique e do Grupo Interinstitucional para a Biossegurança. Membro do Conselho Consultivo da UNESCO-HIDROEX e do Comitê Nacional do Codex Alimentarius. Anteriormente, foi investigadora sênior no Ministério da Saúde; no Laboratório de Higiene de Água e Alimentos; vice-presidente do Programa de Avaliação de Laboratórios de Testes de Água da região Austral de África e coordenadora do Projeto Laboratório da avaliação de poluentes na parte no ocidental do Oceano Índico, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Atualmente, coordena o Grupo Inter-Institucional de Biossegurança (GIIBS), que lida com a gestão de organismos geneticamente modificados e seus produtos.
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