Publicado em
26/08/2022
Mesmo não tendo mais obrigatoriedade, a aposentada conta o que a motiva a sair de casa para votar
Por Mariana Oliveira, jornalista do Nós, mulheres da periferia, redação jornalística de mulheres periféricas com olhar para temas importantes no Brasil e no mundo
Ativistas e organizações da sociedade civil ouvidos pela Revista Casa Comum concordam que a tarefa de recolocar o Brasil no caminho da democracia e da justiça socioambiental depende, em grande medida, do voto consciente, mas ressaltam a necessidade de autocrítica, reflexão e participação política continuada.
Conversamos com duas personagens de diferentes gerações. Em comum, o desejo de participar ativamente do jogo da democracia. Confira o relato de Regina Paixão, de 84 anos:
Em levantamento feito para as últimas eleições presidenciais em 2018, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) estimou que mais de 6 milhões de idosos acima de 70 anos deixaram de votar nas eleições de 2014. Dona Maria Regina de Souza Paixão Portugal, de 84 anos, não faz parte dessa estatística.
A obrigatoriedade do voto fica a cargo dos eleitores alfabetizados com idades entre 18 e 70 anos. Após as eleições, quem opta por não exercer o voto tem até 60 dias para justificar a ausência. O descumprimento é penalizado com o pagamento de uma multa de R$ 3,51 por turno, além de restrições legais.
Já para a população que tem entre 16 e 18 anos, maiores de 70 anos ou analfabetos, o voto é facultativo. Eleitores nesse grupo podem escolher entre ir ou não às urnas. Mas Regina, que poderia se abster, decidiu fazer valer seu direito de cidadã.
Moradora da cidade de Campinas, no interior de São Paulo, se considera uma pessoa ativa. A aposentada vive com o marido e, embora tenha sofrido o impacto da pandemia, mantém suas atividades em dia. Costuma colaborar na comunidade “dos mais experientes” do seu bairro e mantém “a mente ocupada” praticando inglês em aplicativos para celular, fazendo tricô ou crochê.
Sua primeira experiência com o voto foi aos 18 anos, o que sentiu para além das urnas: atuou como mesária em, pelo menos, quatro eleições. Desde então, nunca deixou de comparecer às urnas. Afirma ter consciência em garantir seu direito de cobrar ou pressionar seus representantes, caso estejam na contramão do compromisso com o povo. “Enquanto eu estiver bem e puder caminhar, eu vou.”
Por conta dessa escolha, costuma ouvir críticas. Normalmente, julgam-na por, supostamente, ser uma pessoa tola por sair de casa e votar, mesmo sem a obrigatoriedade. Como resposta, ela e o marido, de 85 anos, ignoram. “Sou uma cidadã. Pago impostos. Abomino quem espera com ansiedade completar 70 anos para não votar”, e ainda completa: “Votarei até quando eu conseguir e ainda quero ser fotografada.”
A quatro meses do primeiro turno, Regina confessa não ser uma pessoa especialista em assuntos políticos, por isso, utiliza as pesquisas de opinião como principal recurso para a escolha dos candidatos e das candidatas, assim como as sabatinas e debates realizados antes do pleito eleitoral; e, para escapar das fake news, busca o apoio das tecnologias mais recentes.
Regina fala da dificuldade em encontrar pessoas que tenham o perfil de “candidato ideal” e descreve como seria esse perfil: “uma pessoa que não cometeu corrupção, que prezasse pela educação, saúde, segurança e realmente sentisse a necessidade do povo”, detalha. “A gente pode até errar, mas é importante continuar tentando.”
Em suas falas, traz as diferenças que sente no meio político ao longo dos anos, a começar pela polarização, “Não tinha essa troca de ofensas. Tinham os ataques, do tipo ‘fulano não fez isso’, mas não era como hoje. Hoje é muito mais violenta a discussão”, diz ao recordar de uma experiência vivida em um almoço de domingo eleitoral. Ainda jovem e mesária, durante uma refeição em família, envolvera-se em uma breve discussão com seu avô. O motivo eram os candidatos ao Governo de São Paulo, na época, tratava-se de Carvalho Pinto (Arena) e Ademar de Barros (PSP). “Meu avô falou assim: ‘só aqui em casa nós temos 14 votos para o Carvalho Pinto’. Daí eu falei: ‘não, 13’. Pronto, acabou o almoço.”
Para as eleições de outubro, diz levar em consideração seus filhos e o neto pequeno: “eles merecem um país melhor.” Traz à lembrança o formato das eleições antes da urna eletrônica, ressaltando a fragilidade da democracia. “Na época, os maridos geralmente colocavam no envelope e as esposas só punham na urna.” Ao ouvir discussões sobre o voto auditável, considera que a ideia de um possível retorno das votações por meio de cédulas de papel seria um retrocesso: “Aí é que vai ter fraude mesmo.”
Pensando no futuro do país, acredita que o melhor caminho é a educação: “um povo ignorante é fácil de conduzir. Você tem de ter voz ativa, lutar pelo que quer.” Regina finaliza seu relato com uma mensagem aos jovens que iniciarão com essa responsabilidade pública neste ano: “Não se deixem envolver por palavras bonitas, por promessas mirabolantes, porque isso não existe.” E enfatiza o desejo pela dedicação ao ensino: “cidadania a gente só consegue com educação.”
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