Publicado em
01/12/2023
2 de dezembro marca o Dia Internacional da Abolição da Escravidão. O racismo, entretanto, ainda é responsável por matar, diariamente, homens e mulheres negros.
Em 2022, a cada quatro horas uma pessoa negra foi morta pela polícia em oito estados brasileiros: Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Pará, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo. Os dados do relatório Pele Alvo – A bala não erra o negro mostram que, pelo quarto ano consecutivo, a população negra é a maior vítima da polícia. Dos 3.171 registros de morte com informação de cor/raça declaradas, pessoas negras somaram 2.770 do total, o que corresponde a 87,35%.
Lançada em novembro pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) e pela Rede de Observatórios da Segurança, a iniciativa tem como objetivo analisar a cor da letalidade policial nos estados monitorados pela Rede. As informações foram obtidas via Lei de Acesso à Informação (LAI), que foi novamente desrespeitada em alguns casos.
Do total de 4.219 registros de mortes nos oito estados que compõem a Rede de Observatórios da Segurança, um a cada quatro não continham a informação sobre a cor/raça das vítimas. Isso significa que os dados de morte de pessoas negras pela polícia podem ser ainda maiores, devido à subnotificação e/ou ao não registro de dados.
Nesse Dia Internacional da Abolição da Escravidão, marcado pelo 2 de dezembro, os dados de levantamentos como esse mostram que a população negra segue sofrendo os efeitos do racismo estrutural.
“Todos os dias, acompanhamos nos noticiários as mortes de pessoas negras de forma brutal. São sonhos ceifados a partir de uma política de segurança pública ineficiente. É sabido que esse modus operandi mantém a estrutura violenta direcionada a corpos negros, em sua maioria favelados e periféricos em situação de vulnerabilidade. Desde o período colonial, o Brasil trata de forma desigual todos aqueles que não estão inseridos no contexto ideal da branquitude. Negros, indígenas e mulheres sempre foram postos à margem da sociedade”, analisa trecho do relatório.
Confira a seguir a porcentagem de vítimas negras pela polícia em cada estado:
– Bahia: 94,76%
– Pará: 93,90%
– Pernambuco: 89,66%
– Piauí: 88,24%
– Rio de Janeiro: 86,98%
– Ceará: 80,43%
– São Paulo: 63,90%
– Maranhão: não registra os microdados categorizados por cor ou raça.
O levantamento traz, ainda, informações específicas sobre a letalidade de agentes municipais de segurança em cada um dos municípios. Confira:
– Bahia: a Bahia tem a polícia estadual mais letal entre os estados monitorados pela Rede. De 2015 a 2022, as mortes registradas como decorrentes de violência policial baiana cresceram 300%. Apenas em Salvador foram 438 pessoas mortas, sendo 394 negras.
– Ceará: Sete a cada dez vítimas no Ceará têm entre 18 e 29 anos. Em 69,74% das 152 mortes, não foram informadas a cor/raça da vítima. Nos casos em que a informação foi disponibilizada, mais de 80% eram pessoas negras.
– Maranhão: O Maranhão é o único entre os estados monitorados que não disponibiliza, ou, como afirma o levantamento, negligencia 100% das informações sobre raça e cor. Das 92 vítimas de violência, 59,78% dos casos foram de jovens de 18 a 29 anos.
– Pernambuco: Das 91 mortes por intervenção policial, 89,66% eram pessoas negras. Em Recife, todas as 11 pessoas mortas pela polícia em 2022 eram negras.
– Pará: Monitorado pela primeira vez nesta edição do levantamento e o primeiro estado da região Norte a fazer parte da Rede, os agentes de segurança do Pará fazem uma vítima a cada 14 horas. Além disso, em 66,24% das vítimas não havia registro de cor ou raça.
– Piauí: Das 39 vítimas fatais registradas, entre as que tinham registro de cor, 88,24% eram negras.
– Rio de Janeiro: Em 2022, 1.042 pessoas negras foram mortas pela polícia do Rio de Janeiro.
– São Paulo: Em São Paulo, os negros representem 40,26% da população e 63,90% entre os mortos pela polícia. Segundo o levantamento, a cada 23 horas o estado faz uma vítima. Na esteira de uma política de uso de câmeras corporais, houve redução do número de mortes por agentes de segurança: foram 419 vítimas em 2022, redução de 48,32%.
Política de morte
O relatório é aberto com um trecho da música Pose de Malandro/Me querem morto, de
Mateus Fazeno Rock e Big Léo:
Vejo uns pretinho igual eu
Que já seguro um b.o que não é seu
Por causa da maldita vida
Maldita polícia que se corrompeu
Por causa da política de escassez e extermínio
Que o Estado me deu
[…]
Saudade do amigo-irmão que morreu em vão
Até tentou sonhar mas tiraram seu chão
Já tentei de tudo, eles me querem morto
Mudei minha postura, eles me querem morto
Não é questão de tempo, eles me querem morto
Me querem morto, me querem morte
Essa é a morte do esquecimento
Morte colonial
Com pressa
Com dor
Com sofrimento
Fique por dentro
Confira o relatório Pele Alvo – A bala não erra o negro na íntegra neste link.
Por Paola Prandini, co-fundadora da Afroeducação e curadora da série #Decoloniza ([email protected])
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