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Retrato Brasil

Publicado em

01/12/2023

A fotografia e a relação humana com a natureza

Por Leandro Cagiano*

O boto-cinza e o pescador se beneficiam um do outro. A antiga armadilha de pesca serve de barreira para essa espécie de golfinho encurralar o cardume. Parte dos peixes que conseguem fugir acaba caindo dentro da armadilha. Uma relação positiva entre homem e animal. Cananéia (SP)

A partir da minha intensa paixão pela natureza e pela vida selvagem, venho me dedicando a colecionar imagens que não apenas retratam a beleza, mas também refletem as ações da humanidade em nosso planeta, seja de maneira direta ou indireta. Como um momento único de um caçador de polvos tirando seu sustento da água sem prejudicar o ambiente, o movimento uniforme dos golfinhos livres na natureza, o incêndio histórico do Pantanal ou, ainda, uma tartaruga juvenil morta prematuramente por ingestão de lixo.

Minha busca não se resume à captura das imagens, pois elas representam um encontro. O que eu verdadeiramente procuro é por pessoas desatentas aos gestos aparentemente inofensivos, muitas vezes inocentes, mas que se refletem na dor e na angústia de outros seres vivos tão distantes dos nossos olhos. Esses seres que sofrem as consequências do consumo desenfreado que adoece o planeta. Minha dedicação consiste em criar um vínculo entre mundos díspares, transportando cada um para os encantos dos confins do sertão, para os labirintos de uma floresta, para o alto de uma montanha ou logo ali, à beira do mar, conectando pessoas e histórias. Sem espectador, a fotografia não tem por que existir.

Acredito que o ser humano só é verdadeiramente capaz de cuidar de algo com o qual se envolva emocionalmente. Portanto, por meio da fotografia, convido todas e todos a refletirem sobre o impacto de nossas ações diárias mais simples, pensando em como nossa cadeia de consumo afeta vidas tão distantes. Assim, direcionaremos nossas atitudes de forma solidária e altruísta para um mundo em torno de um bem comum: a vida.

*Leandro Cagiano estudou desenho, ilustração, pintura a óleo e aquarela. Chegou a ingressar na faculdade de Biologia para trabalhar com conservação ambiental, mas logo percebeu que suas aptidões sempre estiveram nas áreas visuais, e o desejo de levar as histórias da natureza para um número maior de pessoas o levou para a fotografia, um meio de unir o mundo natural e a arte. Além de seu trabalho autoral, Leandro também colabora com organizações de conservação ambiental, passando por instituições como Greenpeace Brasil, Outward Bound Brasil, Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental (NEMA), Guardiões do Mar, The Nature Conservancy, entre outras.

Legendas:

  1. Jorge Malaquias, antigo morador da Enseada da Baleia, volta ao local onde nasceu e cresceu. As casas foram engolidas pelo mar. Em 2017, a Ilha do Cardoso foi dividida ao meio pelo mar. Estudos apontam que o fenômeno é resultado da abertura do canal do Varadouro, que liga o sul do estado de São Paulo com o Paraná. Na divisão da ilha, o mar engoliu todas as casas da comunidade. Só restou o lixo acumulado. Ilha do Cardoso (SP).

  2. Revoada de Guarás sobrevoando os manguezais maranhenses. Esse ecossistema é de extrema importância para a vida marinha. Grande parte dos animais marinhos se utilizam dos mangues em, pelo menos, uma fase da vida. Atins (MA).

  3. Os Lençóis Maranhenses constituem o maior deserto úmido do planeta. Os ecossistemas de dunas funcionam como um grande reservatório de água. Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses (MA).

  4. O rastro do tímido Graxaim revela a timidez dessa espécie de raposa e a importância do litoral do Rio Grande do Sul como abrigo para uma diversidade de espécies locais ou migratórias. Dunas do Albardão, na Praia do Cassino (RS).

  5. Rio Manicoré, na Floresta Amazônica. Ribeiros pleiteiam que a área onde vivem seja transformada em uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável. Manicoré (AM).

  6. Durante o incêndio de 2021 no Pantanal, o céu ficou tomado por fumaça por semanas. Poconé (MT).

  7. Nos períodos das luas cheia e nova, a maré atinge seu ponto mais baixo, deixando expostos os corais, momento em que os caçadores de polvo aproveitam para buscar a iguaria apreciada pela população e pelos restaurantes da região. O mar é fonte de sustento de inúmeras pessoas que vivem na região costeira. Cumuruxatiba (BA).

  8. Uma jovem tartaruga verde morta. A causa foi inanição por ingestão de lixo. O material se mistura à fonte de alimento ou pode ser confundido pelos animais. Ilha Comprida (SP).
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