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23/11/2023

Somos ecologia: diante da realidade ficaremos com o catastrofismo ou o esperançar?

Estudiosos, ativistas e defensores ambientais afirmam sobre a centralidade de um pensamento ecológico para desacelerar o contexto de emergências em razão das mudanças climáticas e o colapso ambiental.

Por Maria Victória Oliveira

A tempestade cai em algum lugar no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás. O Cerrado abriga um importante reservatório de água subterrâneo. Foto: Leandro Cagiano
Foto: Arquivo pessoal

É com a voz embargada que Roselita Vitor da Costa Albuquerque, assentada da reforma agrária, coordenadora do Polo da Borborema e uma das coordenadoras da Marcha pela Vida das Mulheres e da Agroecologia, conta sobre o racismo ambiental sofrido não só por ela, mulher preta, nascida e criada no campo, mas por agricultoras e agricultores que moram e trabalham no semiárido da Paraíba. Trata-se do avanço de empresas que, uma vez no território, não consideram o que as populações locais têm a dizer, por exemplo, sobre a instalação de torres eólicas, como é o caso da comunidade de Roselita.

Formado por uma rede de 15 sindicatos de trabalhadoras e trabalhadores rurais (STRs), cerca de 150 associações comunitárias e uma organização regional de agricultores ecológicos, o Polo da Borborema aposta na agroecologia como uma forma de criar o que Roselita chama de uma nova relação entre ser humano e natureza.

A construção dessa nova relação entre ser humano e natureza se faz ainda mais urgente diante de notícias de catástrofes recentes em diferentes partes do mundo. Se antes tínhamos tempo para reflexões, o momento atual exige mudanças de atitudes concretas.

Segundo dados do programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Amazônia atingiu 10.049 focos de calor em 2023. Em setembro, o governador do Amazonas, Wilson Lima, decretou estado de emergência ambiental, com duração de 90 dias, uma vez que, apenas nos 10 primeiros dias do mês, foram registrados 4.717 focos de queimadas.

Ainda de acordo com o Inpe, outro importante bioma, o Cerrado, também está sob ameaça. Entre agosto de 2022 e julho de 2023, os alertas de desmatamento na região cresceram 16,5% em comparação com o ano anterior, com o índice de 6,3 mil quilômetros quadrados de vegetação destruída. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), a fronteira agrícola Matopiba – composta por partes dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – desmatou 494 mil hectares em 2023, o que representa cerca de 75% da área desmatada de todo o bioma no ano.

A água também produziu contextos de emergência em diferentes partes do mundo, com a cheia de rios no Rio Grande do Sul, principalmente do rio Taquari, em Lajeado, e a inundação na Líbia, que vitimou mais de 5 mil pessoas e deixou mais de 10 mil desaparecidas, ambas as situações no início de setembro deste ano. Segundo dados da Defesa Civil Nacional, mais de 800 mil pessoas foram afetadas por chuvas intensas no Brasil em 2022, o maior índice em 10 anos.

Ao mesmo tempo que a água inunda, a insegurança hídrica, ou seja, a falta de acesso regular e permanente à água, também representa um desafio, visto que é realidade de 12% da população geral brasileira, segundo dados do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), que traz a mensagem: onde falta água, falta alimento. Entre lares que enfrentam a insegurança hídrica, 22,8% deles também sofrem com a insegurança alimentar moderada, número que atinge os maiores níveis na região Norte (48,3%).

Roselita cita que o Programa Cisternas no Semiárido, uma iniciativa da sociedade civil que foi transformada em política pública, ajuda a promover a autonomia das famílias e tem um impacto direto na saúde dos(as) beneficiários(as). O estudo Climate adaptation policies and infant health: evidence from a water policy in Brazil (Políticas de adaptação climática e saúde de crianças: evidências de uma política hídrica no Brasil, em tradução livre), da Fundação Getulio Vargas, mostrou que, para cada semana que gestantes do semiárido são expostas ao Programa Cisternas, são somados mais dois gramas de peso no bebê que está para nascer, aumentando as chances de darem à luz crianças mais saudáveis. “Os bebês nascem mais saudáveis e essas mulheres também estão mais saudáveis, pois sabemos que elas andavam cerca de 15 quilômetros à procura de água durante uma grande seca”, aponta Roselita.

Fonte: MapBiomas – imagem e dados. Disponível em bit.ly/RCC_07_01

Todas as ocorrências são acompanhadas de notícias de ondas de calor pelo mundo. De acordo com a revista Nature Medicine, mais de 61 mil pessoas morreram, entre maio e setembro de 2022, na Europa, por conta da alta do calor durante o verão. No Brasil, uma onda de calor em setembro deste ano fez com que termômetros passassem dos 35°C em diferentes regiões do país.

Um estudo da organização Carbon Plan e do jornal Washington Post mostrou que, por volta de 2050, a cidade do Pará, em Belém, enfrentará 222 dias de calor intenso por ano, um aumento considerável se comparado com os 50 dias atuais, e Pekanbaru, na Indonésia, deve enfrentar 344 dias de calor extremo, que pode ser fatal ao corpo humano. O estudo mostra, ainda, que, daqui três décadas, cerca de cinco bilhões de pessoas, no mundo todo, deverão sofrer com altas temperaturas.

Esse contexto, de múltiplas ocorrências relacionadas ao clima, levou a Organização das Nações Unidas (ONU) a declarar que a Terra vive uma era de “ebulição global”.

Seca no Lago Tefé, no Amazonas, em 28 de setembro de 2023. Foto: João Paulo Borges Pedro / Instituto Mamirauá

O fato de que todos esses acontecimentos estão interligados, por mais que distantes geograficamente, encontra sentido no âmbito da Ecologia, que tem sido amplamente debatida sob o ponto de vista trazido pelo Papa Francisco na encíclica Laudato si’, um documento contemporâneo que apresenta uma perspectiva visionária e crítica dos dilemas com o planeta.

Foto: Arquivo pessoal

Todo esse estado de colapso demanda um processo de mudança de paradigma, que encontra ressonância junto a um dos temas trazidos pelo Papa na encíclica, que é a necessidade da chamada conversão ecológica, definida pelo Movimento Laudato si’, uma iniciativa global para inspirar o cuidado pela Casa Comum, como a “transformação de corações e mentes em direção a um amor maior por Deus, uns pelos outros e pela criação.”

Moema segue a mesma linha ao afirmar que o planeta é vivo e vivente, e, por isso, à medida que os modos de vida humanos gastam mais do que retornam, afetam-se todas as condições de continuidade da vida, com um desequilíbrio do clima planetário.

A Mata Atlântica da Serra da Mantiqueira foi completamente transformada. Pasto, floresta de eucalipto e campo de soja dividem o mesmo espaço. Santa Rita de Caldas, Minas Gerais. Foto: Leandro Cagiano

“A conversão ecológica é uma mudança profunda e radical na compreensão de como determinadas formas de produção e consumo se tornam incompatíveis com o planeta. Ela implica um compromisso coletivo, comunitário, social, com uma nova forma de ser e de estar no mundo, em comunhão com os ciclos da vida”, reflete.

Uma mudança de paradigma, entretanto, não é tarefa simples. A conversão ecológica tem uma dimensão pessoal, de mudanças individuais, mas também conta com uma dimensão sociopolítica. Nesse sentido, Moema cita compromissos e esforços de cada um, mas que também são compartilhados uns com os outros, em um sentido mais amplo e coletivo de mudança de sentidos, que vinculam as pessoas e as levam a uma comunhão.

Na avaliação de Felipe Milanez, o caminho mais promissor para produzir avanços efetivos é o diálogo e a escuta de novas ideias, além da superação de hierarquias de conhecimento construídas no âmbito do colonialismo, abrindo espaço para a participação, por exemplo, de povos indígenas em lugares de tomada de decisão.

Isso porque o processo político de agressão à natureza sempre se deu com resistência justamente de povos indígenas. “Davi Kopenawa, xamã Yanomami, define ecologia como aquilo que não é cercado. Essa é uma leitura para pensarmos na Casa Comum, que podemos compartilhar sem essa ideia do individual, sem essas cicatrizes – as cercas – que se fazem na crosta da Terra para demarcar propriedades. Já Ailton Krenak [ambientalista e líder indígena] fala sobre a ecologia como ‘estar junto’, e não separar o coletivo da terra. Os cientistas não saberiam explicar o que os pajés, xamãs, povos da terra e quilombolas sentem e explicam pra gente. Tudo isso tem a ver com a terra”, comenta Felipe.

Assim como o ecologista político, Moema cita que povos não cristãos, sobretudo indígenas e tradicionais, já têm essa compreensão de que a natureza é mãe, é a “pachamama” [termo utilizado por povos andinos para definir, entre múltiplos significados, a Mãe Terra] e que não existe, portanto, uma separação dos seres humanos e sua cultura da natureza.

A Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN) produziu um caderno temático da Revista ABPN, com o tema “Racismo Ambiental e Re-existência de Territórios Negros em Todo o Mundo”, que reflete sobre os efeitos do racismo ambiental. O fenômeno leva países europeus e estadunidenses, por exemplo, a descartarem lixo na África, Ásia e América Latina. Portanto, “o racismo ambiental molda a geopolítica ambiental mundial desde uma geografia dos proveitos e dos rejeitos, que transforma os países de baixa ou média renda em quarto de despejo, isto é, em ´lixeiras do mundo´ inscritas no capitalismo neocolonial ambientalmente tóxico.

O racismo ambiental também se faz presente em situações emergenciais produzidas por contextos de descuido para com a natureza, como é o caso de rompimento de barragens, por exemplo. Cecilia Godoi, coordenadora da assessoria técnica Associação Estadual Defesa Ambiental e Social (AEDAS), pesquisadora negra e integrante da recémcriada Articulação de Mulheres Negras de Minas Gerais (AMN-MG), está, atualmente, coordenando um estudo de diagnóstico de racismo ambiental no caso do rompimento da barragem de Brumadinho, em 2019, analisando os efeitos na categoria denominada “atingidos por barragens”.

Foto: Arquivo pessoal

Maria Bernadete Pacífico, coordenadora da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), iyalorixá e liderança do Quilombo Pitanga dos Palmares, no município Simões Filho, na Bahia, foi assassinada em 17 de agosto deste ano, na frente de três netos. Mãe Bernadete fazia parte do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH) do Governo Federal e, segundo familiares, sofria ameaças há, pelo menos, dois meses.

Para Felipe, mais do que lutar contra a exploração de madeira e a instalação de um lixão próximo ao quilombo, Mãe Bernadete representava a defesa de toda uma comunidade.

De acordo com um levantamento da organização Global Witness, pelo menos, 177 ativistas e defensores ambientais foram assassinados no mundo em 2022. A Colômbia ocupou o primeiro lugar no ranking de países mais violentos, com 60 assassinatos, seguido pelo Brasil, com 34 assassinatos. Segundo a análise, a Amazônia é um dos lugares mais perigosos do mundo para defensores: são 296 mortes desde 2014.

Dom Phillips, jornalista britânico do The Guardian, e Bruno Pereira, indigenista brasileiro, estão entre as pessoas assassinadas em 2022 na região, que, de acordo com o MapBiomas, concentrava, em 2022, 92% das áreas garimpadas em todo o Brasil, com quase metade (40,7%) dos garimpos abertos nos últimos cinco anos.

Uma das pessoas que viu de perto as ameaças e os ataques a defensores ambientais é Claudelice Santos. Em 2011, seu irmão e sua cunhada, José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, casal extrativista paraense, foram assassinados em um assentamento no Pará por contrariarem interesses de madeireiros, carvoeiros e médios e grandes fazendeiros da região.

“O Zé Claudio e a Maria entraram para a lista de ameaçados de morte no começo dos anos 2000, e só saíram em 2011, assassinados. Não basta matar o corpo, tem que criminalizar mesmo depois de morto. Na sentença que absolve o mandante do assassinato, está escrito que eles contribuíram para suas mortes. O que essas pessoas fizeram para merecer isso?”, questiona Claudelice.

Atualmente, ela é coordenadora geral do Instituto Zé Claudio e Maria (IZM), que apoia a luta por justiça, pelos defensores do meio ambiente ameaçados de morte, pela economia solidária e atua para manter viva a memória do que chama de “mártires socioambientais”

Foto: Arquivo pessoal

Claudelice conta que ativistas locais denominaram de “consórcio da morte” o grupo que ameaça a vida de defensores ambientais. Trata-se de uma união de representantes dos interesses econômicos que não aceitam que os povos de comunidades tradicionais tenham livre acesso aos seus próprios recursos, e, entre eles, estão figuras políticas, empresários da região, fazendeiros, garimpeiros e mineradoras, por exemplo.

Para Felipe, por mais que conversas a respeito de ampliar a política de proteção aos defensores sejam válidas, reforçar a segurança e militarizar a situação não é o caminho mais indicado. Segundo o ecologista político, é necessário investir na pacificação da região de conflito a partir de ações como demarcação de terras indígenas e quilombos, e barrar a construção de usinas, por exemplo, que produzem a violência no entorno.

Claudelice, por sua vez, avalia que o programa de proteção brasileiro é ineficaz por uma série de motivos, como a falta de orçamento necessário e de orientações técnicas, a inexistência de um recorte de gênero para defensoras mulheres ameaçadas, e, até mesmo, a falta de programas estaduais de proteção, já que apenas algumas unidades da federação contam com a iniciativa.

A coordenadora reforça, ainda, que é necessária a vontade pública de solucionar conflitos, pois, uma vez que uma pessoa denuncia uma ameaça, há um ameaçador e, portanto, um conflito nesse contexto.

Campanha “A Vida por um Fio” realiza oficina sobre os desafios para a proteção de defensores de direitos humanos, em junho de 2023. Foto: Divulgação

Um dos principais posicionamentos de povos indígenas e tradicionais, além de todas e todos que atuam em prol do meio ambiente, é usar, de forma respeitosa e consciente, o que a biodiversidade local tem a oferecer, para, assim, garantir seu sustento e a continuidade da vida tanto humana como do ecossistema natural. Uma dessas opções é a chamada “economia da floresta em pé”.

De acordo com o estudo Nova Economia da Amazônia (NEA), um contexto de implementação de uma nova economia na Amazônia, orientado pelo desmatamento zero, expansão da bioeconomia, restauração florestal e adequação da agropecuária e matriz energética à produção de baixa emissão de carbono, levaria o Brasil, em 2050, a um Produto Interno Bruto (PIB) R$ 40 bilhões superior ao referencial.

“As experiências que estamos realizando e acompanhando comprovam que a economia da floresta em pé pode gerar mais receita do que derrubando, além de trazer futuro, ao contrário da insistência nessa visão errada de progresso, que está nos levando a mais pobreza. Precisamos dar uma guinada na lógica de desenvolvimento, para um modelo mais igualitário e harmônico com a natureza, combatendo esse modelo de subdesenvolvimento e a cultura do ilegalismo”, afirma Caetano Scannavino, coordenador do Projeto Saúde e Alegria, iniciativa da sociedade civil que atua desde 1987 na Amazônia brasileira, promovendo e apoiando processos participativos de desenvolvimento comunitário integrado e sustentável.

Foto: Arquivo pessoal

“Quando as pessoas souberem que existem soluções que não são apenas desmatar para fazer pasto, ou plantar soja, ou buscar ouro, quem sabe tiramos um pouco da visão catastrófica para trazer uma visão de esperança”, comenta o coordenador, que cita, ainda, o profundo conhecimento da natureza dos povos que vivem na floresta, uma vez que ela é sua forma de sobreviver.

Morando há 35 anos na Amazônia e tendo participado de importantes espaços, como é o caso da Cúpula da Amazônia, realizada em agosto, Caetano reforça o papel fundamental de organizações da sociedade civil (OSCs) em todo o debate envolvendo meio ambiente e destaca três responsabilidades das instituições para a garantia da democracia: controle social e vigilância de órgãos públicos e privados, trabalhar a visibilidade de minorias e movimentos sociais e atuar na construção de soluções técnicas para desafios socioambientais.

Diante da compreensão da gravidade, do tamanho e da complexidade da questão ambiental que se coloca à frente da humanidade, Moema reforça que, ao contrário da paralisia, os seres humanos devem buscar a chamada “esperança em meio à catástrofe”, termo cunhado por um estudioso do livro do Apocalipse, da Bíblia.

Roselita Albuquerque, citada no início da reportagem, por sua vez, relata como centenas de agricultores estão arborizando suas propriedades em uma lógica de não apenas tirar da natureza, mas, a partir de um novo olhar sobre sua propriedade e comunidade, desenvolver uma relação de complementaridade com o ambiente. “São formas solidárias e ecológicas de construirmos esse mundo rural a partir da relação harmoniosa com a natureza. Se não existir mais Cerrado, Amazônia ou Caatinga, não existiremos nós. É uma questão de vida que nos faz compreender que a luta tem que ser coletiva e integral.

  • Amazônia bate recorde e atinge mais de 10 mil focos de calor em 2023. bit.ly/RCC_07_08

  • Em 12 meses, desmatamento sobe 16,5% no Cerrado e cai 7,4% na Amazônia, mostra Inpe. bit.ly/RCC_07_10

  • Desmatamento no Matopiba já derrubou 494 mil hectares de Cerrado desde janeiro. bit.ly/RCC_07_11

  • Podcast As Árvores Somos Nozes 84 – Cerrado pede socorro. bit.ly/RCC_07_12

  • 890 mil pessoas foram atingidas por desastres ligados à chuva em 2022, maior número em 10 anos bit.ly/RCC_07_13

  • 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19. bit.ly/RCC_07_14

  • Programa Cisternas ganha prêmio como uma das políticas públicas mais relevantes no combate à desertificação. bit.ly/RCC_07_15

  • Heat-related mortality in Europe during the summer of 2022. encurtador.com.br/oFP18

  • Estudo mostra que cidade do Brasil terá 6 meses de calor beirando os 50°C. bit.ly/RCC_07_16

  • Encíclica Laudato si’. bit.ly/RCC_07_17

Por Beatriz de Oliveira, do Nós, mulheres da periferia

Boa parte das atividades de que Jaciara Borari participa em seu dia a dia estão profundamente ligadas ao ativismo ambiental. Aos 28 anos, a jovem indígena do povo Borari, reside em Alter do Chão (PA) e estuda Antropologia na Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa).

Ela integra a Associação de Mulheres Indígenas Suraras do Tapajós, organização que combate a violência contra mulheres indígenas da região, promovendo acolhimento, programas de capacitação e autonomia financeira por meio de oficinas.

A associação conta também com um grupo de carimbó que, por meio da música, ecoa mensagens sobre os direitos dos povos indígenas e a importância do cuidado com os territórios. Jaciara é uma das integrantes do grupo, que já se apresentou em festivais nacionais de música e lançou o álbum “kirībasáwa Yúri Yí-tá – A Força Que Vem Das Águas”, em 2021.

A jovem afirma que não pode precisar exatamente quando passou a se nomear como ativista ambiental, pois a preocupação com o território está sempre presente em toda a sua trajetória. “Desde que me entendo por gente, meu pai e minha mãe faziam essa defesa dos territórios, dos rios, contra a especulação imobiliária. Eu fui aprendendo com eles”, relembra.

Foi por meio da organização Engajamundo que Jaciara aprendeu técnicas de ativismo e compreendeu a importância da participação das juventudes em espaços de tomada de decisões. A organização reúne uma rede de ativistas por todo o país.

Atualmente a ativista está se preparando, juntamente com outros jovens da organização, para participar da COP28, a Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas, que ocorrerá nos Emirados Árabes no fim deste ano. “É importante estar em conferências como essa, porque se não estivermos lá, continuarão falando por nós, sem nós”, pontua.

Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal

Em agosto de 2019, apareceram as primeiras manchas de petróleo em praias do nordeste brasileiro, marcando o início do maior crime ambiental causado por vazamento de petróleo da história do país. Nesse momento,

Mikaelle Farias, moradora de João Pessoa (PB), despertou para a urgência do ativismo ambiental. “Eu vi o impacto aqui no meu território e isso me chocou muito. Era início do governo Bolsonaro e não houve ação eficaz para mitigar aquele evento”, conta. Mikaelle iniciou então uma jornada de pesquisa sobre questões ambientais e se aprofundou nos temas das mudanças climáticas e do racismo ambiental.

Atuou, por um período, como voluntária do Greenpeace Brasil, organização ambiental, e, logo depois, ingressou no Fridays for Future, movimento mundial de jovens pelo clima, também conhecido como Greve Global pelo Clima.

Sua escolha de cursar a graduação em Engenharia em Energias Renováveis foi guiada pelo ativismo ambiental. “Eu comecei a dar um norte melhor para o que atuava dentro do ativismo, então, hoje minha ação perpassa pelas questões de racismo ambiental e de uma transição energética justa pensando o Nordeste como centro dessas discussões”, diz.

Antes mesmo da educação formal, foi sua avó, membro do povo cigano, quem transmitiu a importância de lutar por uma causa. “Ela me passou muito essa questão de luta e ancestralidade do povo”, pontua.

Lutar contra as mudanças climáticas e presenciar os efeitos do aquecimento global frequentemente gera frustração para a ativista. “Temos que bater de frente com uma cadeia de inúmeros sistemas para conseguir que os avanços de fato aconteçam. Quando a gente bate de frente, isso acaba atravessando muito os nossos corpos. É difícil lidar com as frustrações. Quando voltei da COP27, realizada ano passado no Egito, fiquei meses abalada e tentando me recuperar.”

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