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Estação Criança

Publicado em

28/05/2024

Brincar nas ruas da cidade é direito das crianças

Iniciativas ao redor do Brasil estimulam brincadeiras nos espaços públicos dos municípios.

Por Joanna Cataldo, do Coletivo de Jornalismo Infantojuvenil*

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Você já brincou em algum espaço da sua cidade que todo mundo pode usar, como um parque ou uma praça? Kiara Huber, de 5 anos, mora em Jacareí, no interior de São Paulo, se divertiu no Parque da Cidade e guarda boas lembranças desses dias. “Eu brinquei com a argila e com as bolhas de sabão gigantes. Também consegui correr no pé de lata”, lembra. “O que eu mais gostei foi de brincar com a minha mãe e com um monte de crianças que estavam lá.”

Outro que também se divertiu nesses eventos foi o irmão de Kiara, Kurt Huber, de 8 anos, que conta ter gostado principalmente da bolha de sabão gigante. “Eu gostaria de brincar no Parque da Cidade de novo”, diz. 

Brincar é um direito da criança, e isso está dito numa lei brasileira, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Mas essa brincadeira não pode acontecer só dentro de casa ou pelas telas do celular ou da televisão. A cidade também tem de ter locais que ofereçam atividades para as crianças. 

Para deixar as ruas mais “brincantes”, prefeituras e organizações estão investindo em eventos, cursos e projetos que têm como objetivo incentivar as crianças a sair de casa e se divertir pelas ruas dos municípios. Em alguns casos, criar espaços para brincar pode render até prêmios para a cidade, como foi o caso de Jacareí, onde moram Kiara e Kurt. Em 2022, o local recebeu o selo de “Cidade Amiga do Brincar” do IPA Brasil (Associação Brasileira Pelo Direito de Brincar e à Cultura) devido aos esforços para oferecer mais opções para as crianças brincarem. 

Uma das iniciativas é o Recreaparque, do qual os irmãos participaram, em que o Parque da Cidade proporciona, de forma gratuita, uma série de atividades. Mas o município também oferece cursos para professores sobre a importância do brincar e adquiriu novos brinquedos para parques e escolas.

“A gente não aprende só na escola. Podemos aprender também brincando em lugares da cidade, como as praças. Brincar é um direito das crianças e os adultos têm que garantir que elas consigam colocá-lo em prática”, explica Gabriela Romeu, jornalista, escritora e especialista em brincadeiras. 

“Em uma brincadeira em um espaço público, a criança pode descobrir movimentos do corpo, criar vínculos com outras crianças e adultos, expressar o que sente. Além disso, ela se liga aos locais das cidades e, assim, aprende a cuidar deles”, diz Gabriela. 

Belisa Pereira, que faz parte da diretoria da IPA Brasil, explica que o selo de “Cidade Amiga do Brincar”, que teve Jacareí como o primeiro município vencedor, foi criado com o objetivo de fazer com que os políticos do país deem mais atenção para o direito das crianças de brincar. “Queremos que as autoridades façam mais ações para promover, proteger e preservar o brincar nas cidades”, diz. 

Calçadas brincantes 

E se as calçadas da sua cidade fossem cheias de brincadeiras? Essa é a ideia do projeto “Calçadas Brincantes”, criado pelo Instituto NOA, que é uma organização não governamental, ou seja, uma entidade que faz ações pensando na melhoria de vida das pessoas, mas que não é do governo. O NOA realiza projetos em escolas e uma de suas iniciativas incentivou colégios e institutos de todo o país a reunirem crianças, pais, responsáveis, professores e toda a comunidade para realizar atividades nas calçadas, como amarelinhas e circuitos de brincadeiras. Instituições de São Paulo, Bahia e Minas Gerais participaram da primeira edição do projeto, realizada em 2023.

Em Feira de Santana, na Bahia, alunos e professores do Colégio Despertar, além de pais e outras pessoas interessadas, se reuniram em um sábado de outubro para fazer as brincadeiras nas ruas. Ao longo do dia, varreram as calçadas e pintaram desenhos no chão, usando moldes feitos de giz e fitas-crepe, para marcar os contornos dos desenhos. 

Vitor e a mãe, Aline, fazem uma amarelinha em uma “calçada brincante” de Feira de Santana, na Bahia.

“Foi um dia muito divertido: a gente desenhou, pintou”, lembra Vitor Cerqueira, de 10 anos, que ajudou a produzir uma amarelinha e um circuito com indicações de brincadeiras variadas, como pular em um pé só. “A nossa professora entregou alguns cartões com os locais onde as calçadas estavam sendo pintadas e pediu para a gente distribuí-los para as pessoas que estavam passando na rua. Nós perguntávamos para elas: ‘Você tem filho ou neto?’ Queríamos que eles levassem as crianças nas brincadeiras que tínhamos feito.”

No dia seguinte, Vitor e a mãe, Aline Vilas Boas, voltaram ao local das brincadeiras para ver como elas estavam. Como era domingo, a avenida estava fechada, e eles ficaram felizes ao ver várias crianças da região brincando nas atividades que tinham feito. 

Brincadeira sem fim

Já na cidade de São Paulo, Nicole Almeida, de 11 anos, nem precisa ir muito longe para usar uma calçada brincante – algumas atividades foram feitas bem na rua da sua casa. No caso, as brincadeiras foram arranjadas pela organização Alquimia e contaram com a colaboração de toda a comunidade. 

Assim como em Feira de Santana, foram produzidas amarelinhas e circuitos de brincadeiras. “O projeto ajudou a me tirar da tecnologia. Foi muito legal ir para as ruas e me divertir com os meus amigos”, diz. 

Lucas brinca de amarelinha em uma calçada brincante de Contagem, em Minas Gerais.

Além disso, no caso de algumas crianças, as calçadas brincantes não representaram apenas uma atividade de um dia só. Sempre que passam nos locais onde elas estão, voltam a brincar ali. “Tem brincadeiras que foram feitas perto da igreja. Toda semana eu vou para lá e brinco com elas”, diz Lucas Januário, de 8 anos, que mora em Contagem, Minas Gerais. 

“Antes das calçadas brincantes, quase nenhuma criança saía para a rua. Elas ficavam muito dentro de casa. Mas, agora que fizeram essas brincadeiras, elas podem dar umas saidinhas pra brincar nas calçadas”, conta o menino.

Na cidade de Lucas, as atividades foram realizadas pelo Instituto Sara Camilo e pela comunidade da região, reunindo também pais e parentes das crianças. Com o apoio de todos, foram feitas amarelinhas, pegadas de dinossauro, desenhos, entre outros. 

Como as crianças podem ajudar na criação de “espaços brincantes nas cidades?”

“Os adultos precisam escutar as crianças e considerar o que elas têm a dizer sobre as cidades. Como elas acham que deveriam ser os locais para brincar? Quais brinquedos os espaços públicos deveriam contar? Suas vozes e suas presenças são importantes para esses lugares.”

Marcia Gobbi, professora da Faculdade de Educação da USP e pesquisadora de temas como infância e espaço urbano.

Cidades: direito nem sempre garantido para as crianças

É preciso lembrar que nem todas as crianças ainda têm a oportunidade de brincar como gostariam em seus bairros. Muitas cidades brasileiras não estão preparadas e as crianças que mais enfrentam essa dificuldade são aquelas que moram nas regiões periféricas, que não contam com parquinhos, praças, quadras esportivas etc. Isso sem falar na falta de espaços e áreas verdes, que são tão importantes para o contato das crianças com a natureza. Ainda há muito o que avançarmos pelo Brasil afora.

O Instituto Data Favela, por exemplo, fez uma pesquisa chamada “O brincar nas favelas brasileiras”, durante a pandemia de Covid-19. E o estudo trouxe à tona a falta de espaços para brincar nas favelas: apenas 29% das mães entrevistadas disseram que contavam com um parquinho em sua comunidade, por exemplo. Além disso, brincar fora de casa nas favelas também traz uma série de medos e receios, como o da violência urbana.

Conheça mais dados da pesquisa em: bit.ly/RCC_09_39

*O COLO (Coletivo de Jornalismo Infantojuvenil) foi criado em fevereiro de 2022 por jornalistas e comunicadores que atuam em conteúdos midiáticos dirigidos a crianças e adolescentes e por pesquisadores da área. Conheça em: www.coletivocolo.com.br

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