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Publicado em

28/03/2024

Crianças de Jundiaí (SP) estão transformando a cidade com suas ideias

Experiência faz com que as vozes das crianças sejam ouvidas na construção de ações das prefeituras.

Por Mayara Penina, do COLO – Coletivo de Jornalismo Infantojuvenil*

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Às vezes, dizem que crianças não entendem de política, mas isso não é verdade. Compartilhar brinquedos e entender que os espaços comuns são responsabilidade de todos já é um jeito de fazer política, por exemplo. E não é só nas eleições, em que só se pode votar aos 16 anos, que a política acontece. Crianças da cidade de Jundiaí, interior de São Paulo, provam que não só entendem do assunto, como também participam ativamente na transformação da cidade. Criado em 2019, o Comitê das Crianças é um espaço no qual suas vozes são ouvidas e atendidas.

Blitz realizada pelo Comitê das Crianças na cidade de Jundiaí (SP). Foto: Assessoria de imprensa da prefeitura

Para participar, as crianças precisam se inscrever e há um sorteio para a seleção dos membros.”Nós nos reunimos na Fábrica das Infâncias para conversar sobre o que podemos mudar na cidade. Outro dia, falamos sobre ter mais árvores”, explica Benício Correia, de 11 anos.

Ao final do ano, as crianças entregam um documento para o prefeito com seus desejos e sugestões. Entre os pedidos já feitos pelas crianças do Comitê e acolhidos pela Prefeitura estão a construção do Mundo das Crianças, para que elas tivessem na cidade um espaço de brincadeiras, inclusive com água; o Dia do Brincar, em que as crianças vão à escola somente para brincar; o programa Pé de Árvore, para garantir que haja mais árvores na cidade e o “De Olho na Faixa”, zonas no entorno das escolas em que os carros devem ter velocidade reduzida.

Laura Lange, de 11 anos, diz: “É gostoso porque não é obrigatório, é algo que escolhemos fazer. Gosto de ajudar a cidade. Se eu não quero participar, tudo bem, não preciso me inscrever, mas eu quero participar.”

Benício explica que o comitê é feito para reunir informações das crianças e fazer com que os adultos entendam as opiniões delas. “Se, pelo menos, os prefeitos de três cidades conseguissem fazer um comitê como o de Jundiaí, já melhoraria bastante coisa.”

Enzo do Nascimento, de 11 anos, recorda outra atividade marcante para ele. “Foi no Hospital Universitário, durante a minha primeira visita. Conseguimos torná-lo mais colorido. Ninguém gosta de ver um quarto de hospital com aquelas cores brancas. Agora está muito mais animado. Trouxeram mais brinquedos e coisas novas para a brinquedoteca. Até uma casinha de boneca.”

Essa visita resultou em um comitê de escuta no Hospital Universitário para ouvir crianças internadas. “Uma arte- -educadora ouve semanalmente as crianças para que o hospital possa rever suas práticas e atendimentos. Entendemos que as crianças que estão internadas precisam ser ouvidas”, explica Adriana Uemori, assessora de políticas para infâncias de Jundiaí e articuladora do Comitê das Crianças.

Encerramento do 1º Encontro Brasileiro de Cidades das Crianças e o Fórum Internacional das Infâncias, em março de 2023, em Jundiaí (SP). Foto: Assessoria de imprensa da prefeitura

A pesquisadora Sara Bridi, doutoranda em Comunicação na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), explica que a democracia vai além das eleições e inclui todas as idades. “As crianças podem dar suas opiniões, se mobilizar por causas pequenas ou grandes, como melhorar a escola ou o bairro, ou chamar a atenção dos governantes para políticas verdes. A ativista Greta Thunberg, por exemplo, começou a se envolver com o tema do aquecimento climático aos oito anos. Aqui no Brasil, Rhenan Cauê, também aos oito anos, mobilizou sua cidade para recuperar o córrego Brejinho, afluente do rio Araguaia, em Araguatins (TO)”, conta Sara, que também é jornalista.

Dar a nossa opinião sobre a escola, a cidade ou o país é direito das crianças porque existem leis que falam especificamente da infância e que garantem essa participação na política. Duas delas são a Convenção dos Direitos das Crianças da Organização das Nações Unidas (ONU) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Ao participar das decisões públicas, as crianças estão exercendo esse direito e ajudando a construir um lugar melhor para todos. “Ao entender mais sobre política, descobrimos que um projeto de governo de médio e longo prazo é muito mais importante que uma promessa de campanha”, explica Sara.

Sara conta que suas pesquisas mostraram diversas formas de participação social das crianças. Um delas é o Army Help the Planet, fã-clube do BTS, grupo musical sul-coreano, que atuou contra Donald Trump (que era presidente dos EUA entre os anos de 2017 a 2021) e incentivou os jovens de 16 e 17 anos a votarem no Brasil na eleição de 2022, mesmo não sendo obrigados a isso.

Eles não concordavam com algumas decisões do presidente Donald Trump, que estava tentando ser reeleito. Então, falaram sobre isso, estimulando as pessoas, especialmente os jovens, a votarem nas eleições para eleger um novo presidente. No Brasil, em 2022, eles também fizeram a mesma coisa, com uma campanha encorajando as juventudes a participarem, votarem e serem ativas na construção do futuro.

Na democracia, as pessoas escolhem quem vai tomar decisões importantes para todos. A participação social é quando todos dão suas opiniões sobre o que é fundamental, colaborando para fazer algo legal acontecer da melhor maneira possível.

  • Plenarinho em Brasília: imita o funcionamento do Congresso Nacional, onde trabalham os deputados e senadores, com crianças. bit.ly/RCC_08_34

  • Mini ONU (Organização das Nações Unidas) da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Minas Gerais: semelhante ao Plenarinho, mas focado em política internacional, ou seja, envolvendo vários países. bit.ly/RCC_08_35

  • Projeto Prefeito e/ou Vereador Mirim: realizado em várias cidades pelo país, tem a proposta de levar os alunos para vivenciar um pouco as responsabilidades de uma prefeitura e/ou uma câmara de vereadores e contribuir com sugestões. Exemplo de iniciativa: bit.ly/RCC_08_36

  • Conferência Nacional Infantojuvenil pelo Meio Ambiente (CNIJMA): a iniciativa, que teve início em 2003, é direcionada para estudantes do Ensino Fundamental II, e tem início nas escolas. Em seguida, passa para as esferas municipal, estadual e nacional. Entre junho e julho de 2024, deverá ocorrer a sexta edição. bit.ly/RCC_08_37

  • Participação de crianças na criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA): foram realizadas audiências públicas, e crianças e adolescentes foram ao Congresso Nacional pressionar os deputados pela aprovação. bit.ly/RCC_08_38

  • Planos Municipais pela Primeira Infância em diferentes cidades: em muitos municípios, os planos foram construídos com a participação de crianças, como Fortaleza (CE), Rio de Janeiro (RJ) e Nova Iguaçu (RJ). Exemplo de Nova Iguaçu: bit.ly/RCC_08_39
  • Projeto Criança Pequena em Foco no Rio de Janeiro: realizado no bairro Manguinhos, envolveu crianças e adultos para melhorias locais. bit.ly/RCC_08_40
  • Miúdos a Votos em Portugal: imita o processo eleitoral com crianças, utilizando livros como candidatos. bit.ly/RCC_08_41

*O COLO foi criado em fevereiro de 2022 por jornalistas e comunicadores que atuam em conteúdos midiáticos dirigidos a crianças e adolescentes e por pesquisadores da área. Conheça em: www.coletivocolo.com.br

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