Publicado em
29/01/2025
Ficar muito tempo no celular pode atrapalhar o sono e aumentar a ansiedade, mas aprender a equilibrar o seu uso deixa a rotina mais saudável.
Por Joanna Cataldo e Mayara Penina do COLO – Coletivo de Jornalismo Infantojuvenil
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“Alguns amigos meus deixam de conversar com a gente para ficar no celular. Eu acho isso muito chato”, diz Gabriela Silva, de 12 anos, de São Paulo.
Assim como Gabriela, muitas crianças e adolescentes conhecem pessoas da mesma idade que têm dificuldade de largar o celular. Em média, no Brasil, jovens de 0 a 12 anos passam 3 horas e 53 minutos por dia usando o aparelho, de acordo com uma pesquisa feita pelo Mobile Time, um site de notícias sobre dispositivos móveis.
Um dos problemas de ficar muito tempo no celular é o impacto que isso pode ter na saúde mental da criança ou do adolescente, ou seja, nos sentimentos e sensações negativas que podem ser gerados por causa do uso excessivo. Juliana Cunha, psicóloga e diretora da Safernet, associação que trabalha por uma internet mais segura, explica que, se o jovem estiver usando muito o aparelho, pode vir a ter problemas para dormir, aumento da ansiedade e depressão, entre outras questões.
“A criança pode dar sinais que mostram que o uso do celular por muito tempo está prejudicando a sua saúde mental”, explica Juliana. “É o caso, por exemplo, da menina ou do menino que tem algum problema comportamental, como acessos de raiva ou agressividade, quando tiram o aparelho dele.”
Por essas situações, o uso dos celulares nas escolas também tem sido motivo de debate. Em janeiro de 2025, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou o projeto de lei que proíbe o uso de celulares por estudantes em escolas, mesmo durante os intervalos das aulas e recreio. A proibição vale para todos os ciclos da Educação Infantil ao Ensino Médio. A Prefeitura do Rio de Janeiro criou legislação semelhante em fevereiro de 2024, proibindo o uso de celulares nas escolas municipais, assim como o Estado de São Paulo, que aprovou a lei no mês de dezembro.
A ideia é ajudar os alunos a se concentrarem mais nas aulas e interagirem com os colegas.
Alunos sem celular
Ana Júlia Souza de Oliveira Melo e Adryel Miguel Carvalho Ramos, do 5o ano da Escola Municipal Reverendo Martin Luther King, sentiram a mudança. “No início, eu fiquei triste porque gostava de ver vídeos e jogar”, lembra Ana Júlia. Adriel concorda: “Eu assistia a vídeos de futebol e jogava Brawl Stars na escola.”
A professora Cristiane de Tiozzo, que dá aula de Geografia na Escola Municipal Orlando Vilas Boas, conta que a adaptação não foi fácil. “Os alunos ficaram ansiosos e nervosos no início. Eles estavam acostumados a usar o celular o tempo todo e foi difícil se acostumarem a ficar sem ele”, explica.
De acordo com ela, com o tempo, a mudança trouxe coisas boas. “O ambiente ficou mais tranquilo e as notas melhoraram. Além disso, os alunos estão brincando mais e fazendo novas amizades”, completa.
Ana Júlia, por exemplo, conta que o recreio ficou mais divertido sem o celular. “Agora, todo mundo brinca de pique-esconde e outras brincadeiras. A gente se diverte muito mais”, diz. Adriel completa: “Quando ficamos no celular, nem percebemos o tempo passar. Agora, jogamos bola e fazemos novos amigos. É muito melhor assim!”
Proibição ajuda, mas não resolve
Brenda Gomes, pesquisadora e especialista em infância, acredita que proibir os celulares é um bom começo, mas não soluciona tudo. “É importante ensinar as crianças a usarem a tecnologia de forma inteligente. A proibição reduz as distrações, mas as crianças precisam aprender a equilibrar o tempo on-line e off-line”, diz Brenda.
Em relação à proibição de celulares nas escolas, a pesquisadora do tema acredita que a medida é uma tentativa de resolver uma situação complexa de maneira simples e prática, mas isso não funciona. Como é um problema difícil, é importante pensar em diferentes soluções. “O argumento frequentemente utilizado é a proibição de celulares, mas, na verdade, o que deve ser entendido é que deveriam existir regras específicas para o uso dos celulares nos ambientes escolares.”
Já a professora Meiriellen Evangelista, que dá aula para o Ensino Fundamental I e II na rede pública de São Paulo, acredita que não basta proibir os aparelhos, para ela, também é preciso envolver os pais e responsáveis na discussão.
“Os pais precisam colaborar com a medida, orientando seus filhos a não levar o aparelho para a escola. Se não houver uma conversa com os responsáveis, talvez as crianças e adolescentes continuem usando os celulares de forma inadequada nos colégios”, afirma.
O celular no dia a dia
Os primeiros celulares da história surgiram na década de 1970. O primeiro modelo lançado, o DynaTAC 8000x, era grande (media cerca de 33 centímetros, mais ou menos o tamanho da cabeça de uma pessoa), pesava 1 kg (o peso de uma garrafa de leite cheia) e só fazia ligações.
Com o tempo, os celulares foram se modernizando: tornaram-se mais fáceis de usar e ganharam novos recursos, como serviços de troca de mensagens e acesso à internet.
Hoje, podem ser usados para as mais diversas atividades, desde estudar até desenvolver novas habilidades, como faz Melissa Silva, de 8 anos. “Eu geralmente uso para copiar desenhos. Eu passo o que eu vejo na tela para o papel”, explica.
Tarcísio Silva, que é pai de Melissa e de Gabriela, do início da reportagem, explica que, na casa deles, permite que as me- ninas usem os celulares para algumas tarefas, mas mantém algumas regras para que o uso seja feito de forma saudável.
“Na nossa casa, a Melissa usa mais para ver conteúdos divertidos e, a Gabriela, para falar com as pessoas no WhatsApp, ouvir músicas”, explica. “Elas não têm redes sociais e a gente monitora o tempo que elas usam os aparelhos. Além disso, conversamos e mostramos que, se você fica muito no aparelho, perde o tempo que poderia estar fazendo outras coisas, como conversar, ler e assistir a filmes.”
Ana Júlia e Adriel também estão aprendendo sobre limites em casa. “Minha mãe colocou um aplicativo para controlar quanto tempo posso ficar no celular. Se eu passar do tempo, ela me avisa. Se eu não parar, posso ficar de castigo”, conta Ana Júlia. Adriel passa pela mesma coisa: “Se pudesse, eu ficaria no celular o dia todo. Mas sair para brincar é muito melhor.”
Brenda reforça que os celulares não são vilões. “Eles podem ser úteis se forem usados do jeito certo. Assim como dividimos o tempo entre estudar e brincar, é importante também equilibrar o tempo que passamos nas telas e fora delas”, explica.
Como passar menos tempo no celular?
Para quem sente que anda passando muito tempo nos aparelhos, é possível recorrer a alguns “truques” que podem ajudar a diminuir o uso.
Juliana sugere, por exemplo, baixar aplicativos de tempo de uso, que mostram quanto tempo você está passando em frente à tela, silenciar notificações (os avisos de novas mensagens e conteúdos), para não ficar com vontade de acessar as redes o tempo todo, pedir ajuda para os adultos e até envolver os amigos no desafio de ficar menos tempo nos dispositivos. “Você pode fazer uma brincadeira com os amigos: quem não conseguir ficar determinado tempo longe do celular, vai ter que pagar lanche pra todo mundo.”
E, para as outras crianças que podem estar com dificuldade de largar o celular, Ana Júlia e Adriel deixam um recado: “Se seus pais pedem para você largar o celular, é porque eles querem o seu bem”, diz Ana Júlia. E Adriel completa: “Dá para usar o celular, mas também é muito legal brincar e conversar com os amigos.”
Carol Ito é quadrinista e jornalista. Autora de três livros em quadrinhos, foi vencedora do prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos e a primeira mulher a desenhar charges ao vivo no programa Roda Viva, da TV Cultura. Saiba mais em: www.carolito.com
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