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Publicado em

09/02/2024

Com ações em 17 cidades e mais de 300 pessoas mobilizadas, Engajamundo prova que carnaval é espaço de folia e ativismo diante do racismo ambiental e crise climática  

Programa Rebuliço promove formação de ativistas por todo o Brasil, que farão um pico de mobilização e ações durante o carnaval.

Por Maria Victória Oliveira

E chegou mais uma edição do carnaval. Pelas redes sociais, é possível ver amigos, colegas e conhecidos se mobilizando nos últimos ajustes e viagens para curtir os dias de folia que vem por aí. E quem diria que o espaço de diversão também pode abarcar a reflexão, conscientização e debates sobre temas urgentes? 

Pois essa é a proposta do Rebuliço, uma iniciativa do Engajamundo, organização feita por e para jovens, que acredita na importância da atuação das juventudes para enfrentar os principais desafios ambientais e sociais do Brasil e do mundo. E o Rebuliço coloca toda essa crença em prática: o programa é uma iniciativa institucional do Engajamundo, lançada em 2022, com o objetivo de formar, orientar, auxiliar e dar suporte a ativistas espalhados(as) por todo o país nas suas atuações e mobilizações.

Foto: arquivo pessoal

“É emocionante pensar que esse programa surge de um lugar muito especial sobre como repensar o ativismo. É uma iniciativa que pensa sobre as desigualdades que impedem muitos de conseguirem falar sobre suas demandas e incidir sobre elas”, comenta Ana Rosa Cyrus, diretora executiva do Engajamundo. 

Igor Rocha Santana, ativista, gestor de projetos no Engajamundo e consultor no terceiro setor, explica que a organização cocria com os(as) participantes do programa os chamados picos de mobilização durante a jornada formativa, que é onde eles e elas vão desenvolver repertório, consolidar posicionamentos e novas perspectivas sobre as problemáticas enfrentadas. Coletivamente, são pensadas estratégias de intervenção e o desenvolvimento de ações locais. 

Além disso, o programa concede auxílio financeiro para os(as) participantes em maior vulnerabilidade e mobiliza uma equipe dedicada para acompanhar os mais diversos grupos/contextos. 

“Selecionamos cerca de 43 jovens de mais de 16 estados para se engajarem em uma jornada de cinco meses. No início, os(as) voluntários(as) se comprometem a participar nos encontros e colaborar nas construções coletivas que surgem. Criamos uma iniciativa que dá suporte para que jovens ativistas consigam incidir de forma sistêmica da realidade onde atuam, e isso se realiza de muitas formas: durante o ciclo de formação, são os encontros semanais com discussões e conteúdos; nos picos de mobilização, apoiamos financeiramente a execução das ações locais idealizadas etc. O auxílio financeiro para as pessoas que estão em maior situação de vulnerabilidade é mais uma ação que viabiliza a participação de todes no processo”, explica. 

Foto: arquivo pessoal

Racismo ambiental e a crise climática 

Essa segunda edição do programa trouxe à tona debates e formações dos(as) ativistas sobre combate ao racismo, principalmente a vertente do racismo ambiental, e a crise climática que afeta a todos, mas principalmente jovens em maior situação de vulnerabilidade social. 

Igor explica que, durante os últimos quatro meses, os(as) participantes do programa estiveram imersos em uma jornada de letramento racial abrangente, que envolveu uma reflexão sobre o processo de construção das desigualdades, bem como da crise ambiental climática. 

A segunda edição do programa Rebuliço contou com dois picos de mobilização. Enquanto no primeiro os(as) participantes trataram sobre combate ao racismo de forma sistêmica – inclusive com juventudes indígenas promovendo debates e encontros em suas comunidades e prototipagem de ações de enfretamento ao racismo durante o Novembro Negro -, agora, enquanto preparação para o carnaval, a equipe amadureceu as dicussões e propostas para incidir de forma mais específica em três eixos: 

→ Defesa das comunidades indígenas e quilombolas, combate a violência armada, o genocídio da população negra, a violência no campo e as violências de gênero; 

→ Promoção do acesso a direitos (saúde, saneamento básico e água, moradia e educação) nas favelas e comunidades tradicionais, bem como para as demais populações vulnerabilizadas; 

→ Efetivação de planos locais capazes de prevenir e combater os efeitos de eventos extremos do clima (chuvas, deslizamentos, ondas de calor etc.) especialmente para territórios vulnerabilizados e comunidades do campo, ações de adaptação e mitigação que consigam combater os efeitos do racismo ambiental e da crise climática. 

“Infelizmente boa parte das juventudes está em situação de vulnerabilidade social, em especial as que são mais afetadas pelos efeitos da crise climática. Daí surge a necessidade de criar uma infraestrutura que traga condições efetivas de incluir no debate aqueles que mais sofrem com os problemas”, analisa Igor.

O carnaval enquanto espaço de atuação 

Você aí pode estar se perguntando: e o que o carnaval tem a ver com tudo isso? Ana Rosa e Igor provam que ativismo e carnaval caminham lado a lado.

“Lembro bem que quando estávamos desenhando o programa deste ano, olhamos para o calendário e vimos o carnaval como uma oportunidade. Nosso objetivo sempre foi fazer a discussão desse ano a partir de um lugar de dar novos significados e veio a questão: por que só fazer ativismo em espaços que dizem ser de ativismo? Quem colocou essa lógica?

O carnaval sempre foi um campo de luta e nós, enquanto ativistas climáticos, faremos o maior desfile pelas nossas demandas”, afirma Ana Rosa. 

Já Igor, natural de Salvador, aponta o carnaval como um espaço político, de construção de cultura e desconstrução criativa. “É um evento que acontece na rua, aberto para o povo e construído também por nós. Parecia o espaço perfeito para simplificar toda essa discussão sobre crise climática e racismo ambiental, que ainda é muito distante do dia a dia das pessoas, muito complexo e elitizado.” 

Entre as ações previstas para acontecer durante os dias de folia, estão: manifestação, flashmob (grupo de pessoas que se reúne num local público para realizar uma performance artística), outdoor, distribuição de adesivos e outros materiais, bloquinhos com estandartes, fantasias carnavalescas, entre outras.

“Teremos ações em 17 cidades do Brasil, mais de 300 pessoas mobilizadas dentro e fora da rede. Tudo isso construído por jovens e em menos de um mês. Imagina o que faremos quando tivermos apoio para construir uma ação sistemática nos espaços de tomada de decisão!”, convoca Igor. 

A oportunidade de um ano eleitoral 

Toda essa mobilização acontece em um período estratégico, uma vez que 2024 é ano eleitoral. 

“Estamos trabalhando há dois anos para que as eleições municipais sejam sobre autonomia e territórios em busca de adaptação climática, a partir de uma abordagem racial. Nossos programas preparam nossos(as) ativistas e todos(as) que por eles(as) são impactados(as)”, comenta Ana Rosa. 

Já Igor defende que o programa é capaz de criar as melhores condições para que surjam soluções inovadoras e relevantes para os desafios atuais. 

“Juventudes periféricas, do campo e comunidades tradicionais possuem uma forma única de viver e estar no mundo. Por isso, as pessoas que participam do programa aprenderam a construir intervenções que se estruturam a partir do território, dialogam com os problemas e questões locais, mas se retroalimentam de forma coletiva. Toda a riqueza e inteligência criadas nesses contextos precisam ser centrais para produzir as soluções que precisamos. É a periferia do sul global que vai produzir o futuro sustentável que precisamos”, completa. 

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