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Publicado em

17/09/2024

Crianças e adolescentes dão a letra sobre a crise socioambiental

O que acham do planeta como está hoje? O que gostariam de mudar? Confira a opinião de meninas e meninos sobre o tema.

Por Laura Guido e Daniel Nardin, do Coletivo de Jornalismo Infantojuvenil*

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Ainda que o noticiário em geral não seja voltado para crianças e adolescentes, esse público já ouve muito falar e sente – literalmente – as mudanças climáticas. Com o crescimento da abordagem do assunto nas redes sociais – muitas vezes de maneira equivocada – o tema pode provocar a chamada “ecoansiedade”, fenômeno que tem sido estudado em diversos países, inclusive no Brasil.

Em 2021, quando o termo começou a ganhar destaque, o Portal Lunetas (bit.ly/RCC_10_40) publicou uma reportagem destacando estudos que mostram o impacto no psicológico de crianças com os desastres ou mesmo no cotidiano, por sentir as mudanças de temperatura e ouvir, por diferentes fontes, o perigo que as futuras gerações – ou seja, as crianças de hoje – devem enfrentar.

Em 2023, o Estado do Amazonas foi impactado com queimadas e seca mais severa do que os índices registrados nos últimos anos. A cena do rio Amazonas num nível mais baixo e a cidade de Manaus tomada pela fumaça ainda está na memória de Heitor Miguel Barbosa Guimas, morador de Manaus, 10 anos. Ele afirma se preocupar com as florestas, os animais e as pessoas. “Existem animais que precisam das árvores, como os macacos e tantos outros, lá na floresta mesmo. E as árvores estão sendo queimadas, com isso, os macacos não vão ter onde ficar, e podem morrer”, reflete.

Heitor Miguel Barbosa Guimas. Foto: Arquivo pessoal

Por ter vivido e visto as consequências da destruição do meio ambiente refletidas nas queimadas e seca extrema em seu estado, Heitor percebe a questão das mudanças climáticas como muito “delicada” e a pouca ação por parte dos governantes e empresários.

Em outra capital da Amazônia, a crise ambiental já preocupa o adolescente João Victor da Costa, 14 anos, de Caratateua, distrito da grande Belém, no Pará, cidade que vai sediar a COP 30 em 2025, maior evento climático do mundo.

João Victor da Costa. Foto: Arquivo pessoal

Após buscar informações, decidiu agir para mudar a realidade e hoje é “embaixador” mirim do Fórum de Desenvolvimento Sustentável da região das Ilhas de Belém. Para mobilizar o seu território para o tema, inclusive, no início de julho, João Victor mobilizou a 1ª Caminhada pelo Clima da Ilha de Caratateua, contando com o apoio do Greenpeace e da CoJovem (Cooperação da Juventude Amazônida para o Desenvolvimento Sustentável).

Rui Gemaque, do Greenpeace Belém, defende que o debate climático se espalhe e não seja algo de bolhas específicas. “A participação de crianças e jovens em ambientes escolares é essencial para todo esse processo. É a geração de agora e do futuro, também multiplicadores desse ativismo ambiental, que nada mais é do que luta por sobrevivência. Com o mundo de olho na Amazônia, a gente luta para desfazer estereótipos sobre a região. Amazônia não é só floresta (árvore e mato, como dizem), também é o povo – diverso, inclusive – que habita aqui.”

Já próximo de iniciar a fase adulta, João Bernardo Oliva, 17 anos, da capital Belém, percebe a mudança na paisagem e no rio que faz parte de sua rotina “desde sempre”. “Eu gosto muito de pescar, e, aos poucos, os rios estão mudando. As dinâmicas das marés também mudam, além do fenômeno do aumento da temperatura, que é mais frequente e que causa a morte de muitos peixes aqui na região”, relata.

Para ele, as tragédias climáticas que têm atingido o mundo todo, incluindo o Brasil, já são um sinal de alerta que precisa ser levado em consideração. “Eu acho que hoje em dia a gente consegue perceber mudanças, como a tragédia ocasionada pelas chuvas no Rio Grande do Sul. As pessoas acham que, às vezes, é só sair na rua e sentir muito calor, mas não é só isso. Acho que a gente tem que pensar de forma mais abrangente e até em nós mesmos, no nosso futuro, em nossas ações”, reitera.

João Bernardo Oliva. Foto: Arquivo pessoal
Catarina Melo. Foto: Arquivo pessoal

Para Catarina Melo, 11 anos, as mudanças climáticas só poderão ser minimizadas para o futuro a partir da conscientização da população e mudanças de atitudes no presente. “Se as mudanças climáticas continuarem constantes e nessa velocidade, a vida humana vai ser bem mais prejudicada”, declara.

Moradora de Marabá, no sudeste do Pará, ela lembra da responsabilidade dos governos e empresas, além de maior conscientização das pessoas em geral. “Até grande parte da população se conscientizar de maneira correta, vai demorar muito tempo. Ou seja, o planeta infelizmente vai continuar do jeito que está. Eu percebo que algumas empresas não têm um debate sobre esse tema, que esse não é o foco delas. Na minha opinião, eu acho que não é suficiente o que está sendo feito, mesmo que seja um tema bastante debatido.”

*O COLO (Coletivo de Jornalismo Infantojuvenil) foi criado em fevereiro de 2022 por jornalistas e comunicadores que atuam em conteúdos midiáticos dirigidos a crianças e adolescentes e por pesquisadores da área. Conheça em: coletivocolo.com.br. Daniel Nardin e Laura Guido fazem parte, também, da Amazônia Vox, uma iniciativa que produz conteúdo de Jornalismo de Soluções e cria um banco de fontes e freelancers da região. >> Acesse em: amazoniavox.com


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