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Publicado em

26/06/2023

Discriminação com base na idade limita possibilidades de interação entre mais jovens e mais velhos

Etarismo é um fenômeno que tende a ser mais aceito e menos questionado que outros ‘ismos’, mas promove efeitos nocivos para quem sofre.

Foi difícil não se sensibilizar com a história de Patrícia Linhares, estudante de biomedicina de uma universidade de Bauru, em São Paulo, que foi alvo de deboche de um grupo de três colegas de sala pelo fato de ter mais de 40 anos e estar na universidade

O caso trouxe o termo etarismo com mais força ao debate. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), idadismo (ou etarismo) corresponde ao estereótipo, preconceito e discriminação dirigida contra outros ou contra si mesmo com base na idade.

Isso signfica que, apesar de mais comum, o etarismo não acontece apenas com pessoas mais velhas, mas abrange toda e qualquer discriminação em razão da idade da pessoa em questão.  

Já o Relatório Mundial sobre o Idadismo, da Organização Panamericana da Saúde, aponta que “O idadismo se refere a estereótipos (como pensamos), preconceitos (como nos sentimos) e discriminação (como agimos) direcionadas às pessoas com base na idade que têm”, e reforça que o fenômeno começa na infância, sendo reforçado com o tempo. 

O documento, ainda, explica que o idadismo conta com três níveis de manifestação: 

  1. Institucional: remete às leis, regras, normas sociais, políticas e práticas institucionais que restringem injustamente as oportunidades e prejudicam sistematicamente indivíduos com base na idade; 
  2. Interpessoal: ocorre durante as interações entre dois ou mais indivíduos;
  3. Contra si próprio: idadismo voltado contra a própria pessoa. 

São exemplos de etarismo: 

  • práticas de contratação discriminatórias: organizações que não contratam pessoas mais velhas ou classificam pessoas mais jovens como inexperientes -, ou idade de aposentadoria obrigatória; 
  • desrespeitar ou ser condescendentes com mais velhos e mais jovens, ignorando seus pontos de vista na tomada de decisões ou evitando contato e interações; 
  • uso de fala infantilizada com pessoas idosas; 
  • julgar pessoas como jovens ou velhas demais para ocupar determinado cargo ou função; 
  • acreditar que, por sua idade avançada, não ser possível aprender coisas novas; 
  • reforçar estereótipos positivos e negativos, como: jovens são saudáveis e fortes, mas são estressados e ansiosos, pessoas mais velhas são calorosas, confiáveis, experientes, mas infelizes, inativas, rígidas, solitárias, deprimidas, desmotivadas, entre outros. 

Consequências e perdas com o etarismo 

Como apontado na tabela acima e também em outras passagens do Relatório Mundial sobre o Idadismo, há um tipo de designação para cada idade que é construída socialmente. 

Uma passagem do relatório exemplifica: 

“Nossa aparência externa reflete o número de anos que vivemos. Mas o que é considerado jovem ou velho depende em parte de contexto, da finalidade e da cultura. Aos 18 você pode ser considerado velho demais para aprender ginástica de solo, mas jovem demais para disputar um alto cargo político. Entre as culturas, há também variações entre a definição de pessoa idosa, de meia-idade e jovem.”

É claro que, em muitos casos, como no exemplo acima, é necessário considerar as condições físicas para desempenhar uma atividade que demanda força, equilíbrio, destreza e outras habilidades. 

Mas, em muitas outras situações, o etarismo, ao designar espaços específicos para cada idade, perde o potencial que pode surgir a partir da interação entre diferentes gerações e como podem, juntas, compartilhar seus conhecimentos e experiências específicos e, com isso, gerar novas perspectivas e percepções sobre múltiplos temas e assuntos. Além disso, gera estresse e outras consequências para a saúde da pessoa que se sente excluída e que é vítima da discriminação. 

Diferentes contribuições 

Um exemplo é o quanto crianças poderiam contribuir com sua visão e ponto de vista em processos de arquitetura urbana e urbanismo. 

De acordo com o artigo 12 da Convenção sobre os Direitos da Criança, da Organização das Nações Unidas (ONU): 

“Os Estados Partes devem assegurar à criança que é capaz de formular seus próprios pontos de vista o direito de expressar suas opiniões livremente sobre todos os assuntos relacionados a ela, e tais opiniões devem ser consideradas, em função da idade e da maturidade da criança.” 

Estudiosos e especialistas afirmam que é fundamental considerar a perspectiva da criança, que também é um sujeito de direitos que circula e aproveita o espaço da cidade, que, portanto, deve estar adaptado às suas necessidades

Em entrevista ao portal Lunetas, a arquiteta Simone Sayegh e a jornalista Bianca Antunes, autoras do livro Casacadabra, que explica arquitetura e urbanismo para crianças, afirmam a importância de um urbanismo mais lúdico e acolhedor, além de uma educação básica que contemple arquitetura e urbanismo para que as cidades sejam mais justas e humanas. 

Os jovens, por sua vez, também devem ocupar espaços de tomada de decisão, trazendo olhares alternativos e propostas de soluções inovadoras para suas comunidades. 

De acordo com o Altas das Juventudes, são quase 50 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos no Brasil, um contingente que representa uma “janela de oportunidades”. O próprio Estatuto da Juventude defende, em seu Artigo 4º, que “o jovem tem direito à participação social e política e na formulação, execução e avaliação das políticas públicas de juventude.”  

Não delimitar espaços para cada idade significa, portanto, potencializar as vozes de cada grupo e as possibilidades de interação entre eles. Quando pessoas com diferentes vivências, experiências, trajetórias de vida, ideias e posições se conectam, aumentam também as chances de novos arranjos e soluções para pautas de interesse público, bem como a atenção e cuidado com diferentes faixas da população.  

O artigo da Revista HSM, inclusive, lembra que a inclusão de pessoas de todas as idades, inclusive as idosas no mercado de trabalho e em ambientes corporativos, também está relacionada ao tão falado ESG, sigla em inglês para designar posturas de sustentabilidade adotadas por empresas nos pilares: meio ambiente, social e governança. 

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