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Publicado em

29/11/2022

É preciso agir: causas para se engajar em 2023

Confira quatro temas centrais que merecem atenção e atuação dos brasileiros no próximo ano
Por Dayse Porto

Foto: Reprodução Escola do Ativismo 

As últimas eleições de 2022 deixaram um misto de insegurança com esperança no futuro, pois os próximos quatro anos serão cruciais para garantir mudanças estruturais e permanentes no país

Os eleitores brasileiros elegeram diversos parlamentares comprometidos com a defesa dos direitos humanos e socioambientais, alguns nomes mais expressivos no cenário nacional, como deputados federais e estaduais são Marina Silva (Rede-SP), Duda Salabert (PDT-MG), Célia Xakriabá (PSOL-MG), Talíria Petrone (PSOL-RJ), Guilherme Boulos (PSOL-SP), Renato Freitas (PT-PR), Fernanda Melchionna (PSOL-RS) e Sônia Guajajara (PSOL-SP), a primeira deputada indígena da história de São Paulo, além de outros representantes de movimentos sociais e das lutas populares também no Senado e em governos estaduais

Por mais expressivas que sejam essas bancadas na macropolítica brasileira, proteger a nossa Casa Comum e cuidar dela vai muito além da esfera institucional, especialmente após os retrocessos dos últimos anos. O avanço do conservadorismo e dos ataques à defesa de direitos não terminarão com a troca de governos ou com a eleição de alguns representantes de causas sociais. As mudanças permanentes que precisam ocorrer para preservar o planeta e caminhar rumo à uma sociedade mais justa e igualitária requerem organicidade e comprometimento para além dos períodos eleitorais.

A urgência que a constante violação de direitos aponta é para a necessidade de que cada pessoa atue na micropolítica de suas comunidades. É preciso agir. Há várias agendas estratégicas para o próximo período que merecem muita atenção, como o enfrentamento às desigualdades sociais, a reconquista de direitos trabalhistas, a preservação do meio ambiente, o combate ao racismo, entre outras pautas urgentes. Para contribuir com esse processo de engajamento de seus leitores, a Revista Casa Comum elencou quatro causas centrais que merecem atenção e atuação em 2023. Confira:

EDUCAÇÃO: acesso, universalização e qualidade 

Foto: Tânia Rêgo / Agência Brasil 

A pandemia escancarou o abismo educacional existente no Brasil, um desafio antigo que foi agravado pela crise econômica e sanitária. Temas em que se tentava avançar nos últimos anos na área da educação ficaram em suspenso. 

Segundo dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2021, cerca de 85% das redes municipais apresentaram queda no desempenho médio dos estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental. Já nos anos iniciais, foi registrada queda em 74% dos municípios em relação aos resultados de 2019, coletados antes da pandemia.

As negligências do passado apontam muitos desafios para o futuro e, sem investir em educação, não será possível promover o crescimento econômico sustentável e a redução das desigualdades sociais. Existem diversas iniciativas que atuam com pautas da educação nos setores público, privado e no terceiro setor e, também, projetos comunitários, autogestionados por grupos espalhados em todo o país, como os cursinhos populares

Uma das formas de atuar em defesa da educação brasileira é compor os Conselhos Escolares, um instrumento de participação popular garantido pela legislação brasileira em todas as instituições de ensino do país, assim como são reservadas vagas nos conselhos municipais e estaduais de educação para representantes da sociedade civil. 

Mas também é possível se engajar, por exemplo, como mentor ou educador em projetos de formação (inclusive ensinando idiomas, habilidades profissionalizantes, formação política, etc.), organizar mutirões ou eventos educacionais para estudantes ou mesmo articular pessoas estratégicas de cada território, como mães e pais, educadores, representantes públicos e ativistas de uma região em torno das necessidades específicas da educação local. 

Além disso, existem organizações de referência no Brasil que atuam para viabilizar o acesso à educação, melhorar sua qualidade e promover sua universalização. Confira algumas delas e participe:

A Campanha Nacional pelo Direito à Educação é considerada a articulação mais ampla e plural no campo da educação no Brasil, constituindo-se como uma rede que articula comunidades escolares, movimentos sociais, sindicatos, organizações não governamentais, grupos universitários, entre outros. Para fazer parte de um comitê regional, é preciso entrar em contato com a entidade ou com a pessoa que coordena essa instância no local.
Saiba mais em campanha.org.br 
A Gerando Falcões é um ecossistema de desenvolvimento social que atua em rede para acelerar o poder de impacto de líderes em favelas do Brasil. A Falcons University, seu braço educacional, tem uma metodologia educacional baseada nas 10 competências da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para que crianças, jovens, educadores e lideranças se formem por meio do desenvolvimento de habilidades socioemocionais. A organização recebe voluntários para apoiar diversas atividades.
Saiba mais em gerandofalcoes.com
A UNEafro é uma rede de articulação e formação de jovens e adultos moradores de regiões periféricas que se organiza em torno de núcleos de educação. As ações atendem cerca de 2 mil estudantes com 350 professores organizados entre os 31 núcleos de educação espalhados por São Paulo e Rio de Janeiro e, também, pelo Núcleo Virtual. A organização abre inscrições periódicas para voluntários.
Saiba mais em uneafrobrasil.org
O projeto Quero na Escola usa a tecnologia para ouvir as demandas de estudantes de escolas públicas de todo o Brasil e conecta voluntários para atendê-las. Funciona assim: adolescentes se cadastram no site e dizem o que mais gostariam de aprender, os pedidos são mostrados na plataforma por escola, por assunto ou por localização e divulgados nas redes. A partir daí, interessados em colaborar voluntariamente se cadastram e enviam uma proposta e a equipe do projeto faz o contato com a escola, estabelecendo pontes entre as partes.
Saiba mais em queronaescola.com.br

SAÚDE MENTAL: assunto de todas as pessoas  

Um tema que veio à tona com força e para ficar devido à pandemia foi a saúde mental, assunto que atravessa a vida de todas as pessoas, nos vários contextos sociais, mas que ainda enfrenta um enorme tabu. 

O Brasil já era o país mais ansioso do mundo e apresentava uma alta crescente em condições de saúde mental antes mesmo da pandemia. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), mais de 9% dos brasileiros sofriam com ansiedade antes do período de isolamento social e quase 6% das pessoas sofriam com depressão. No final de 2021, um novo levantamento da OPAS apontou que 40% dos brasileiros tiveram problemas de ansiedade durante o período.

Surgem, também, novas situações que afetam a saúde mental, como a ecoansiedade, caracterizada pelo medo crônico em relação à destruição ambiental acompanhado do sentimento de culpa por contribuições individuais e o impacto disso nas futuras gerações. A sensação de angústia em relação ao futuro afeta especialmente os mais jovens. 

Para engajar-se na causa da saúde mental, além de compor os conselhos municipais e estaduais de saúde, que também garantem a participação da sociedade civil, é possível atuar como voluntário no Centro de Valorização da Vida (CVV), organização que realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias. O CVV aceita voluntários após participação em cursos de capacitação.
Saiba mais em cvv.org.br
Para quem é profissional da saúde, existem várias oportunidades de engajamento em projetos que oferecem acessos aos cuidados em saúde mental em diversas modalidades. A Rede Autoestima-se é uma articulação composta por uma equipe multidisciplinar que atua em 14 estados brasileiros para apoiar pessoas que buscam entender e aperfeiçoar seus conhecimentos nas áreas da psicologia, autoconhecimento, educação socioemocional e práticas holísticas. Constantemente, são abertos processos seletivos para a inscrição de psicólogos que desejam atender voluntariamente por meio do Grupo de Acompanhamento. Fique de olho em redeautoestimase.com O Mapa do Acolhimento é uma iniciativa do NOSSAS que tem o objetivo de conectar mulheres que precisam de acolhimento psicológico (e jurídico) com profissionais que oferecem serviços terapêuticos gratuitos ou a valores simbólicos. Existem alguns critérios para se inscrever como voluntária e, após o aceite, é preciso passar por capacitação para o acolhimento de mulheres em situação de violência.
Saiba mais em queroacolher.mapadoacolhimento.org 

TRABALHO E GERAÇÃO DE RENDA: desenvolvimento laboral e socioeconômico  

Foto: Acervo Luta pela terra – Mídia Ninja 

O Brasil voltou ao mapa da fome. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), já são mais de 60 milhões de brasileiros com algum tipo de insegurança alimentar, o que significa que uma em cada três pessoas enfrenta dificuldade para comer. Esse cenário deve-se, entre outros fatores, ao aumento do desemprego no país e à queda na renda mensal dos brasileiros que, em 2021, era de R$ 1.353,00, o menor valor desde 2012, segundo dados da pesquisa Rendimento de Todas as Fontes – 2021, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Para reverter o cenário de instabilidade socioeconômica, agravada pela crise climática, será necessário um grande esforço mundial na contenção dos danos provocados pelos hábitos de produção e consumo e pelas políticas estabelecidas. É preciso alterar o modo como se vive e adotar novos modelos de desenvolvimento e de geração de renda

A plataforma da Atados conecta voluntários com milhares de organizações sociais e possibilita encontrar causas para atuar. No eixo “treinamento profissional”, por exemplo, existem vagas diversas em organizações da sociedade civil que desenvolvem iniciativas na frente de trabalho e geração de renda, com públicos das várias regiões do Brasil.
Encontre um local para atuar em atados.com.br
O Generation Brasil oferece suporte a jovens para que construam suas carreiras na área de tecnologia por meio de cursos integrais que trabalham tanto conhecimentos de programação quanto habilidades socioemocionais. Após o treinamento, os jovens são conectados com empregadores, que podem se cadastrar como parceiros no site. O projeto aceita voluntários e, atualmente, está com vagas abertas no Programa de Mentoria Voluntária do Rio de Janeiro (RJ).Saiba mais em brazil.generation.org
O Projeto Abacaxi é um apoio a pequenos empreendedores nas periferias e tem como objetivo ajudar na profissionalização dos negócios e aumentar a geração de renda das famílias e de comunidades de São Paulo (SP), Belo Horizonte (MG) e Rio de Janeiro (RJ). É possível se cadastrar para receber apoio para negócio, indicar um nanoempreendedor ou para ser voluntário e apoiar um empreendimento.
Saiba mais buscando por @projeto.abacaxi no Instagram
O Hub de Bioeconomia Amazônica conecta, articula e amplifica experiências e soluções de diversos atores para a promoção de uma bioeconomia inclusiva na Amazônia. O projeto, executado pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS), cria pontes entre o chão da floresta e investidores, instituições públicas e privadas, redes atuantes no ecossistema amazônico, organizações internacionais; e atua no estabelecimento de mecanismos financeiros aderentes à realidade dos empreendimentos comunitários. O hub também tem um programa de voluntariado.
Saiba mais em fas-amazonia.org/hub-de-bioeconomia-amazonica 

CIÊNCIA E TECNOLOGIA: dados abertos e conhecimento reprodutível

Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil 

Majoritariamente, o setor científico no Brasil é custeado pelo Estado. São nos institutos públicos de pesquisa e de educação que, em diversas áreas, se produz ciência e conhecimento acadêmico no país. Por isso, os seguidos cortes de orçamento público nos últimos anos para pesquisa são tão prejudiciais para o desenvolvimento tecnológico. 

De acordo com o Observatório do Conhecimento, o orçamento público federal direcionado a pesquisas científicas caiu 60% entre 2014 e 2022. O Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico (CNPq), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, teve queda no valor orçamentário de 49,7%, de 2015 a 2021, e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), ligada ao Ministério da Educação, teve queda de 42,6%, de 2014 a 2021. 

A negligência no investimento nos dois principais órgãos públicos que financiam pesquisas no Brasil custou caro durante a pandemia e resultou num cenário de desmonte da ciência brasileira. Porém, há iniciativas atuando para reverter esse quadro. 

A Agência Bori trabalha para aumentar a presença da ciência na mídia nacional e, assim, ampliar o acesso da sociedade ao conhecimento produzido. A Agência reúne estudos de universidades e institutos de pesquisa nacionais com embargo, produz releases e materiais audiovisuais para facilitar a cobertura dos repórteres. É possível atuar como jornalista, com acesso a pesquisas inéditas, bancos de fontes e materiais de apoio, e também como cientista, para pessoas vinculadas a qualquer instituição de pesquisa.
Saiba mais em abori.com.br 
O Projeto Albatroz é mantido pelo Instituto Albatroz, organização que atua em parceria com o Poder Público, empresas pesqueiras e pescadores para desenvolver pesquisas para subsidiar políticas públicas e a promoção de ações de educação ambiental junto aos pescadores e às escolas. A iniciativa está presente em seis estados brasileiros e oferece um programa de voluntariado em que é possível atuar em diferentes atividades, como administrativas, de comunicação, educação ambiental, técnicas ou fazer parte da equipe em eventos.
Saiba mais em projetoalbatroz.org.br/sobre-o-projeto-albatroz

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