Publicado em
17/05/2022
Por Elvis Marques
O ano é 2022 e o Brasil tem fome. Oito anos após o país deixar de figurar no Mapa da Fome, da Organização das Nações Unidas (ONU), a falta de alimentos volta a bater na porta dos brasileiros e brasileiras. Durante a pandemia de Covid-19, segundo levantamento divulgado pelo Food for Justice – Power, Politics and Food Inequality in a Bieconomy, da Universidade Livre de Berlim, em parceria com pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade de Brasília (UNB), cerca de 13,6% da população ficou, pelo menos, um dia sem refeição entre agosto e outubro de 2020.
Experiências de agroecologia, aliadas com políticas públicas municipais, têm contribuído e proposto mudanças diante desse cenário de falta do quê comer. Mais do que proposições, organizações da sociedade civil debatem, a partir da fome, temas pertinentes como a desigualdade. A comunicação entra nesse contexto como potencializadora das boas práticas. Confira.
Incidência municipal
Política pública, alimentação saudável e acessível. O projeto Agroecologia nos Municípios, da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), já acumula 686 experiências em todas as regiões do país. A iniciativa é baseada em três verbos: promover, apoiar e sistematizar os processos de mobilização e incidência política em nível municipal. A ação visa o aprimoramento de Projetos de Lei (PLs) e programas de fomento à agricultura familiar e à soberania alimentar e nutricional.
A agroecologia é desenvolvida há séculos por povos e comunidades tradicionais no Brasil. A técnica não pode ser resumida apenas ao modelo de produção. Para Flavia Londres, integrante da secretaria executiva da ANA, a agroecologia vai além de plantar sem veneno e com sementes passadas de geração em geração.
“A agroecologia implica no fortalecimento dos povos tradicionais do campo, de seus direitos, das relações justas de trabalho e renda e na luta contra a violência das mulheres. Afirmamos com muita segurança que sem feminismo não há agroecologia”, considera Flavia.
No site da articulação, é possível visualizar as experiências agroecológicas por estados, municípios, biomas, bacias hidrográficas e microrregiões. Assim, você pode ver a mais próxima e, de repente, conhecê-la. O portal traz diversas publicações e ilustrações que podem ser baixadas e contribuir com a sua comunidade ou organização, como o Caderno 2 de Incidência e Participação Social e Popular.
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Sisteminha que alimenta
Em alinhamento com a experiência da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), encontra-se o Sisteminha, nome carinhoso dado à unidade demonstrativa do Sistema Integrado Alternativo para a Produção de Alimentos, situado na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) do Meio-Norte no Parnaíba (PI).
O projeto foi idealizado para testar e comparar as ações de transferência de tecnologia que envolvem simultaneamente indígenas, extensionistas e moradores do entorno do órgão público. “Essa é uma ferramenta de combate à fome e à pobreza utilizada desde 2008 no Brasil, África e América Latina”, afirma Luiz Guilherme, membro da Embrapa.
O Sisteminha traz várias possibilidades para quem deseja transformar, por exemplo, o seu quintal ou a sua terra em um local produtivo. O diferencial dessa iniciativa é a pessoa conseguir produzir ou criar animais de forma miniaturizada, como um pequeno tanque de peixe, com custo baixo, e que contribui para a família se alimentar de forma recorrente com uma proteína.
Para as pessoas interessadas, a Embrapa oferece um curso gratuito, de forma online e dividido em 11 módulos. Durante as aulas, os alunos aprenderão desde a criação de porquinhos-da-índia até a produção de vegetais.
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Voz aos camponeses
Com importantes iniciativas como essas, é necessário comunicá-las para que cheguem a mais pessoas e as inspirem. Jovens em ComunicAção é uma ação desenvolvida pela Alternativas para a Pequena Agricultura no Tocantins (APA-TO) junto à juventude camponesa do extremo norte do estado, região conhecida como Bico do Papagaio.
Em 2015, o primeiro passo dessa atividade foi a formação de um grupo de jovens, com módulos presenciais e atividades nas próprias comunidades. Ao longo de seis encontros, os participantes discutiram o exercício da comunicação e passaram por oficinas de escrita, fotografia e vídeo. Em suas casas, no campo, a juventude experimentou a produção de diversos conteúdos. A primeira pauta foi a divulgação de práticas agroecológicas aliadas à geração de renda.
Atualmente, aqueles iniciantes na comunicação integram o Grupo de Trabalho (GT) de Juventudes Rurais do Bico do Papagaio, criado a partir do próprio desejo de se organizarem. A APA-TO contribui com o apoio e assessoria, mas a coordenação do coletivo é desenvolvida por 15 pessoas da localidade. São quilombolas, acampados, assentados, quebradeira de coco, agricultores familiares. Uma diversidade de identidades camponesas que busca a inserção juvenil nos movimentos sociais e realiza um trabalho de formação com as bases de suas comunidades.
“Eles mesmos percebem que as ferramentas de comunicação são um caminho para a organização das juventudes. A diversidade de jovens que compõe o GT ajuda a fortalecer uma teia de saberes e de articulação”, aponta Yuki Ishii, da coordenação do programa mulheres e juventude da APA-TO. Neste ano, a entidade já pensa em novas ações de educomunicação voltadas para esse público.
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