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Publicado em

31/10/2023

Repórteres Sem Fronteiras lança relatório sobre ataques à imprensa na Amazônia 

No período de um ano, foram registrados 66 casos de ataque à imprensa, envolvendo agressões físicas, assédio e ameaças, na área da Amazônia Legal

Por Maria Victória Oliveira

Entre 30 de junho de 2022 e 30 de junho de 2023, a Repórteres Sem Fronteiras (RSF) registrou 66 casos de ataques à imprensa, entre agressões físicas, assédio e ameaças, nos nove estados que compõem a Amazônia Legal: Amazonas, Pará, Maranhão, Mato Grosso, Rondônia, Roraima, Tocantins, Amapá e Acre. 

Esse é apenas um dos cenários hostis à prática jornalística apresentado pelo relatório Amazônia: Jornalismo em Chamas, uma iniciativa da Repórteres Sem Fronteiras (RSF) lançada em setembro de 2023. A publicação aponta que são muitas as ameaças, pressões e ataques a comunicadores comprometidos em veicular notícias sobre questões e temas socioambientais na região, o que leva até mesmo a uma ‘autocensura’.  

As violações incluem: 

> tentativas de impedimento de cobertura (35 casos); 
> ameaças (9); 
> ameaças de morte (6); 
> ataques à segurança da informação (5); 
> processos judiciais abusivos ou decisões judiciais arbitrárias (4); 
> invasões ou atentados contra a sede de meios de comunicação (3); 
> casos de perseguição/vigilância (2); 
> atentado a tiros contra jornalista, roubo de equipamento, detenção e caso de restrição de acesso à informação (1). 

A extensão do território 
A Amazônia Legal ocupa uma área de 5 milhões de quilômetros quadrados, o que corresponde a 61% do território nacional. Nessa região, vivem cerca de 30 milhões de pessoas, o que, por sua vez, corresponde a 14,7% da população do país. 

Assuntos proibidos 

Dividido em quatro capítulos – Um ambiente hostil ao jornalismo, “Um alvo no peito”, Proteger e fortalecer o jornalismo local e E agora? -, o documento traz, no primeiro capítulo, um subtópico com os assuntos ‘proibidos’ na região. São temáticas que, caso noticiadas, expõem os jornalistas a intimidações, como a invasão de terras indígenas e o agronegócio. 

Entre os 66 casos de investidas contra a imprensa registrados pela RSF no período de junho de 2022 e junho de 2023, mais da metade estava relacionada a questões políticas, sendo 10 diretamente conectadas a reportagens sobre agronegócio, mineração e povos indígenas. 

Entre os principais assuntos proibidos estão: política nacional/eleições, política local, meio ambiente/agronegócio/garimpo/mineração, direitos humanos e segurança pública. 

Fonte: Amazônia: Jornalismo em Chamas 

“Um alvo no peito” 

Um caso que ganhou notoriedade mundo afora e colocou a violência na Amazônia ainda mais em pauta foi o assassinato do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira, em junho de 2022. 

“Dom Phillips estava realizando entrevistas, acompanhado por Bruno Araújo Pereira, para escrever um livro intitulado Como salvar a Amazônia, quando os dois foram atacados no Vale do Javari – segunda maior terra indígena do Brasil, próximo às fronteiras com o Peru e a Colômbia. Somente após dez dias de buscas, seus restos mortais foram encontrados na floresta, mutilados e incendiados”, explica trecho do relatório, que aponta o assassinato como “um dos episódios mais chocantes já registrados na região e revela a dimensão da violência em áreas de difícil acesso na Amazônia.” 

A publicação traz, ainda, nomes de outros comunicadores que também receberam ameaças. Assim como o jornalista britânico, Ueliton Bayer Brizon, diretor do site de notícias online Jornal de Rondônia, foi morto a tiros em 2018, assim como Jairo Sousa, apresentador da Rádio Pérola FM, morto em junho do mesmo ano. Ambos denunciavam irregularidades e corrupção local. 

Fonte: Amazônia: Jornalismo em Chamas 

Fique por dentro 

Além de ter um capítulo inteiro dedicado à proteção e fortalecimento do jornalismo local, o relatório elenca, ainda, cinco pistas para o desenvolvimento de políticas ativas que podem contribuir com o avanço de um ambiente mais favorável para o jornalismo comprometido com as questões climáticas na região.

  1. Defender uma informação confiável, independente e plural no centro dos programas de proteção ao meio ambiente na Amazônia;
  2. Desenvolver políticas de prevenção e proteção de jornalistas que trabalham com temas sensíveis na região;
  3. Promover um ecossistema midiático plural e financeiramente sustentável;
  4. Fortalecer programas de educação midiática e de combate à desinformação na Amazônia;
  5. Ampliar o trabalho de monitoramento de casos de ataques à imprensa na Amazônia realizado pela RSF. 

O relatório Amazônia – Jornalismo em Chamas pode ser acessado na íntegra neste link. Leia, ainda, a reportagem produzida sobre o tema pela Repórteres sem Fronteiras. 

Apoio
A Rede Nacional de Proteção de Jornalistas e Comunicadores (link), com participação da RSF, é uma articulação entre organizações da sociedade civil com jornalistas e comunicadores de todo o Brasil. 

Caso jornalistas e comunicadores sofram algum tipo de ameaça, violência ou violação de direitos, a rede pode ser acionada e receber a denúncia, de forma segura e privada. Juntamente com a vítima, encaminhamentos são propostos para sanar a problemática.

As denúncias podem ser enviadas neste canal (link).

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