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24/11/2023

Revista Casa Comum lança 7ª edição com debate sobre a urgência do agir ecológico diante da emergência climática 

Realizado em 23 de novembro, bate-papo online reuniu entrevistados da edição que pautaram temas como branquitude e diferentes tipos de racismo, agroecologia, ecologia política e o fato de que estamos, todos, interligados diante da crise do clima.

‘Estamos num estágio irreversível de falência como planeta ou há ainda esperança de mudar o quadro emergencial em que nos colocamos?’ Essa é a provocação que abre mais uma edição da Revista Casa Comum. O sétimo volume, lançado em um debate online no dia 23 de novembro, traz o tema Planeta em colapso: a urgência do agir ecológico. 

O evento, transmitido ao vivo pelo canal do YouTube da Revista Casa Comum, contou com apoio da Paulus Social e da Abong, além de produção do Estúdio Cais – Projetos de Interesse Público.

Mediada por Moema Miranda, integrante do Serviço Franciscano de Justiça, Paz e Ecologia (Sinfrajupe) e assessora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), além de membro do conselho consultivo da RCC, a roda de conversa contou com a participação de: Felipe Milanez, ecologista político, professor da Universidade Federal da Bahia e coordenador do grupo de trabalho Ecología(s) Política(s) Desde El Sur Abya/Yala, do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais; Vivian Delfino Motta, pesquisadora e professora do Instituto Federal de São Paulo (IFSP) da cidade de São Roque (SP) e pesquisadora do Núcleo de Estudos em Gênero, Raça e Agroecologias (NEGRAS); e Carmem Silveira de Oliveira, psicanalista e consultora internacional em direitos de crianças e adolescentes. 

“Falar do planeta é falar de nós e também daqueles que não são humanos. Segundo o Observatório Europeu Copernicus, o mês passado foi o outubro mais quente da história, com previsões de que 2023 seja o ano mais quente já registrado. Tivemos uma onda de calor em setembro, que se repetiu agora em novembro, na semana passada, quando a sensação térmica no Rio de Janeiro ultrapassou os 50 graus às 8h da manhã. Tudo isso faz parte do contexto das mudanças climáticas”, iniciou Fabio Paes, coordenador de advocacy do Sefras e da Revista Casa Comum. 

Ecologia política e o estágio de ‘colapso’ 

Enquanto mediadora, Moema deu início ao debate apontando que hoje não é possível olhar para o lado e fingir que a questão ecológica não existe, tamanha sua urgência. Moema citou que a ecologia ganhou uma figura de extrema relevância, o Papa Francisco, que tem desempenhado um papel fundamental em alertar para a urgência da questão climática, bem como promover um processo de conversão em direção a uma relação melhor com a natureza. 

Moema diferenciou, ainda, que não é possível responsabilizar toda a humanidade pela questão climática, mas que é inegável que a crise do clima tem, em seu cerne e razão, a ação humana. 

Na sequência, Felipe Milanez comentou sobre o termo colapso, usado por ele em sua entrevista à matéria de destaque da 7ª edição, para explicar que o aumento de emissões de gases leva ao chamado colapso, por exemplo, dos sistemas de chuvas e do aumento de temperatura na Terra, que permitem a vida humana e de tantas outras espécies. 

“Ultimamente, parece que nos demos conta, com as notícias trágicas, que as mudanças climáticas já estão aí e não são apenas mudanças. Elas são muito mais trágicas para a habitabilidade no planeta”, apontou Felipe. 

Essas alterações, acontecendo de forma acelerada e intensificada, perturbam, portanto, a possibilidade de continuidade de existência. 

Apesar de acreditar que a humanidade teria condições de se adaptar a uma curva drástica de que se necessita diante da atual situação do clima, Felipe aponta que essa não tem sido a tônica de encontros como as COPs, as Conferências do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), que têm abordado medidas mais paulatinas, que focam no que ele chama de ‘pseudo-adaptação’.  

É nesse contexto que Felipe aponta o capitalismo enquanto um sistema vigente ‘da acumulação pela acumulação’, enquanto um objeto de estudo da ecologia política, que tenta construir a análise de que esse foi um sistema historicamente construído. 

“O planeta não vai comportar a vida humana se continuarmos jogando carbono na atmosfera.” 

Comportamento depredador 

A psicanalista Carmen comentou que existe na psicanálise a ideia de raízes do comportamento depredador do ser humano. 

O comportamento competitivo fez parte da luta pela vida do ser humano, o que se fez necessário em um contexto de escassez, na pré-história. Entretanto, nos últimos séculos, o cenário não é de escassez de alimentos, mas sim de abundância, o que não ofereceria motivos, portanto, para pessoas tão competitivas, que acumulam cada vez mais.   

Carmen comentou, entretanto, sobre processos que reforçam essas marcas e comportamentos de forma atualizada para os dias atuais. 

Carmen comentou, ainda, que todos nós, enquanto humanidade, chegamos a um ponto em que os rastros de morte deixados no planeta por esse comportamento destrutivo nos colocam quase num impasse: ou consideramos que é muito tarde para intervir ou que há muito pouco a ser feito ainda. 

O papel e responsabilidade da branquitude 

Vivian deu início a sua exposição no debate com uma provocação potente: “Entramos numa perspectiva de pensar o quanto nós, povos esquecidos e escravizados, temos de responsabilidade em ensinar nossos colonizadores a como salvar o planeta”. 

Pensar, portanto, em uma perspectiva do colonialismo e patriarcado, segundo Vivian, demanda a necessidade de uma reflexão sobre como chegamos até a situação atual. “Nós não chegamos aqui do nada e nem ontem. Quem escolheu o caminho para chegar nesse colapso?”  

Pesquisadora e ativista da agroecologia, Vivian aponta que trata-se de uma utopia enquanto projeto de uma nova sociedade, que não existe ainda. Atualmente, o que existem são comunidades que resistiram em seus territórios ancestralmente ameaçados. 

Vivian aponta que a sobrevivência desses grupos e comunidades ameaçados, o que acontece também nas periferias brasileiras, majoritariamente compostas por pessoas negras, não está garantida, e que, em ordem de sobreviverem, é necessário que colaborem entre si. 

Fique por dentro 

O vídeo de lançamento pode ser visto na íntegra neste link

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