Publicado em
29/01/2025
Vozes em Ação que integra o Em Destaque da 11ª edição da Revista Casa Comum apresenta as perspectivas Christiane Pitanga e Iago Jenipapo.
Por Karynna Luz
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Christiane Pitanga incentiva a educomunicação como ferramenta de participação cidadã
Ampliar a democratização do acesso às ferramentas de comunicação e usar essas tecnologias de forma pedagógica no processo de ensino-aprendizagem. Essas são as duas frentes de trabalho de Christiane Pitanga, doutora em Educação e professora de Jornalismo na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), e pesquisadora no campo da educomunicação.
Christiane Pitanga. Foto: Arquivo pessoal
A primeira frente de sua atuação, focada na educação midiática, busca capacitar comunidades a entender e usar ferramentas de comunicação de maneira crítica, responsável e criativa. Christiane defende que a democratização da comunicação só se concretiza quando as pessoas têm condições de produzir seus próprios conteúdos, refletindo suas realidades e culturas, em vez de serem meros consumidores.
Já o seu segundo nicho de trabalho envolve a aplicação da educomunicação em ambientes de aprendizagem, como contextos em que ferramentas midiáticas podem ser usadas para facilitar o aprendizado de disciplinas específicas. Para ela, ao produzir conteúdos midiáticos, as pessoas não apenas compreendem o tema em estudo de forma mais profunda, mas também desenvolvem habilidades que os preparam para uma participação cívica mais crítica.
Entre os projetos destacados por Christiane está a parceria com a Casa de Umbanda Coração de Jesus. Nessa ação, sob sua supervisão, alunos do curso de jornalismo da UFU colaboraram com os membros da Casa na criação de vídeos educativos, voltados a esclarecer aspectos da religião e enfrentar preconceitos.
Outra iniciativa relevante em sua trajetória é o projeto “Ciência na Ponta do Lápis”, que promove o letramento científico de alunos do Ensino Fundamental. Nessa prática, os estudantes de jornalismo orientam os adolescentes a produzir reportagens a partir de visitas a laboratórios científicos, como forma de fortalecer a conexão entre a ciência e a comunicação no processo educativo.
A professora ressalta que a educomunicação é um instrumento poderoso no combate à desinformação, especialmente entre os jovens.
“A leitura crítica dos meios é a grande ferramenta para de fato tentar combater a desinformação, pois assim vamos mostrar a ênfase da abordagem dada à imagem que foi trabalhada, à manchete e a tudo o que envolveu o conteúdo da mídia.”
No contexto de ensino-aprendizagem, especificamente, os principais desafios para integrar práticas educomunicativas incluem a formação adequada dos professores e o acesso às tecnologias como computadores e celulares, fundamentais para a realização dessas atividades.
Por isso, a educadora acredita na importância da colaboração entre instituições de ensino e veículos de mídia, sugerindo que essa parceria pode enriquecer a formação dos alunos e até mesmo restabelecer a confiança do público nos veículos de comunicação.
>> Conheça: bit.ly/RCC_11_26
Iago Jenipapo reflete sobre a luta por visibilidade indígena nos meios de comunicação
Na Lagoa Encantada, em Aquiraz, no Ceará, está localizada a Escola de Cinema Indígena Jenipapo-Kanindé, a primeira do gênero no Nordeste brasileiro. Lá, começou a trajetória de Iago Costa Silva (ou Iago Jenipapo) na comunicação.
Em 2018, Iago ingressou na Escola de Cinema Indígena Jenipapo-Kanindé, um projeto pioneiro fundado pela Associação de Mulheres Indígenas Jenipapo-Kanindé. A instituição, voltada inicialmente para a formação de cineastas indígenas, foi uma oportunidade-chave para que Iago pudesse mergulhar no mundo audiovisual. A partir das aulas, oficinas e experiências práticas, o jovem teve seu primeiro contato com ferramentas de comunicação visual.
A partir daí, seguiu buscando diferentes formas de capturar e retratar as histórias, as tradições e o cotidiano de seu povo. “Eu realmente me apaixonei pela fotografia, pela edição e por toda essa conjuntura”, afirma. Devido ao envolvimento, ele percebeu o potencial do cinema e da comunicação como ferramentas de resistência e preservação cultural.
Atualmente, aos 22 anos, o jovem fotógrafo e comunicador social reconhece o poder da comunicação comunitária na preservação e valorização das culturas indígenas, a partir de uma atuação que começou em seu próprio território. Hoje, ele não só trabalha como social media na prefeitura de Aquiraz, mas também atua como monitor na Escola de Cinema Indígena Jenipapo-Kanindé, formando novas gerações de jovens comunicadores. “Em 2024, me tornei monitor, deixando de ser apenas aluno, e agora ensino outros jovens indígenas, compartilhando o que aprendi.”
Iago Jenipapo quando era aluno da Escola de Cinema Indígena Jenipapo-Kanindé. Foto: Arquivo do Povo Jenipapo-Kanindé
Integrante do Conselho de Jovens Leitores (CJL) do jornal O Povo, Iago desempenha um papel crucial na amplificação das vozes indígenas em um veículo de comunicação tradicional. Ele conta que, por muito tempo, as narrativas estiveram nas mãos de pessoas não indígenas, que os retratavam de forma preconceituosa. Essa realidade mudou nos últimos tempos, segundo ele, com a crescente presença de profissionais indígenas nos meios de comunicação.
“Hoje, podemos mostrar que somos advogados, médicos, professores e que não estamos isolados. […] A gente precisa realmente estar nesses espaços para se defender.”
Sua atuação no CJL é um exemplo de colaboração direta na construção de narrativas mais justas sobre as demandas e lutas dos povos indígenas, além de uma oportunidade ímpar de resistência e mobilização. Essa autonomia na produção de narrativas é o que Iago pensa ser o ideal para todos os jovens indígenas comunicadores, pois contar suas histórias sem a necessidade de intermediários é uma forma de fortalecer a identidade cultural e garantir que as futuras gerações mantenham vivo o legado ancestral.
O jovem destaca que a mídia tradicional pode ser um importante aliado na defesa dos direitos indígenas, especialmente em contextos de ataque a terras, territórios e tradições. Ele também vê nas novas gerações de comunicadores indígenas a continuidade dessa luta, e espera que todos possam continuar a se envolver na comunicação social para proteger suas culturas.
>> Conheça: instagram.com/iagojenipapo
O direito à comunicação é peça central na luta pela democratização da sociedade e na promoção da cidadania. Em um mundo cada vez mais marcado pela desinformação, vozes emergentes da comunicação comunitária e da educomunicação demonstram a importância de garantir que todos os cidadãos possam ter acesso às ferramentas midiáticas, ter papéis na luta pelos direitos humanos e no combate às narrativas excludentes.
Artigo para a editoria Em Perspectiva da 11ª edição da Revista Casa Comum.
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