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24/06/2025

Brasil registra menor taxa de homicídios em 11 anos; no mesmo período, mais de 312 mil jovens foram mortos

Atlas da Violência 2025 mostra que a Região Sul contabilizou os menores índices de assassinatos. Armas de fogo são as protagonistas nos homicídios de crianças e adolescentes.

Redação

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Em 2023, o Brasil registrou o menor índice de homicídios: foram 45.747, o que equivale a 21,2 casos por 100 mil habitantes. Comparado ao ano de 2022, a retração foi de 2,3%. Os dados integram o Atlas da Violência 2025, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP)

A publicação mostra que os menores indicadores de homicídios por 100 mil habitantes estão localizados nos estados da Região Sul, além de São Paulo, Distrito Federal e Minas Gerais. Já as maiores taxas de mortes se concentram nas regiões Norte e Nordeste. O Atlas mostra, no entanto, que estados como Acre, Pará, Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe reduziram a escalada da violência.

Produzido por um colegiado de pesquisadores, o Atlas aponta fatores diversos para a redução geral dos casos de assassinatos no país, como a transição demográfica da população rumo ao envelhecimento – que começou primeiro e com mais intensidade nas regiões Sudeste e Sul; a trégua na rivalidade entre as duas maiores facções criminosas presentes no país; e a chamada “revolução invisível” nas políticas de segurança pública locais, nas quais o planejamento, o foco no resultado, o uso da inteligência e as ações de prevenção social dão lugar à política baseada, sobretudo, no policiamento ostensivo.

Metodologia

O Atlas da Violência tem como objetivo retratar a violência no Brasil, principalmente a partir dos dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde. As informações sobre homicídios são analisadas a partir de perspectivas como gênero, raça, faixa etária, sexualidade, pessoas com deficiência, indígenas entre outras.

No período analisado pelo Atlas – 2013 a 2023 -, 2.124 crianças com até quatro anos foram mortas. Ainda neste recorte de tempo, 6.480 crianças entre cinco e 14 anos e 90.399 adolescentes entre 15 e 19 anos foram vítimas de homicídios.

De acordo com a publicação, em todas as faixas etárias, a arma de fogo aparece como protagonista: 83,9% dos adolescentes entre 15 e 19 anos e 70,1% das crianças de cinco a 14 anos foram mortas com o uso desse tipo de arma.

Ao longo dos 11 anos pesquisados, 312.713 jovens entre 15 e 29 anos foram assassinados(as). O dado corresponde a uma média de 78 mortes por dia entre 2013 e 2023. A juventude é quase a metade de todas as vítimas de homicídio no Brasil.​

“Para dar noção da dimensão dos números, é como se a população de Vitória, a capital do Espírito Santo, desaparecesse do mapa”
Atlas da Violência 2025​

A série histórica analisada (2013-2023) destaca que os jovens do sexo masculino foram as principais vítimas de homicídio, sendo 94% do total de mortes.

Os dados da atual edição do Atlas da Violência mostram as principais formas de violência que atingem meninas e mulheres ao longo da vida, veja:

  • 0 a 9 anos – predominam os casos de negligência​
  • 10 a 14 anos – destaque para a violência sexual​
  • 15 a 69 anos – prevalecem as agressões físicas​
  • 80 anos ou mais – a negligência volta a se intensificar​

Nos onze anos pesquisados, 47.463 mulheres foram assassinadas no Brasil. Apenas em 2023, os registros apontam para 3.903 mulheres vítimas de homicídio, o que representa uma taxa de 3,5 mulheres por grupo de 100 mil habitantes do sexo feminino. 

No país, os assassinatos de mulheres acontecem onde elas deveriam se sentir mais seguras: em suas casas. O Atlas cita os dados de registros policiais publicados no 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, de 2024, os quais mostram que entre os crimes de feminicídio, 64,3% dos casos aconteceram dentro de seus lares. 

“Apesar da tendência de queda geral nos homicídios (incluindo vítimas do sexo feminino e masculino) ao longo dos últimos onze anos, quando olhamos para o comportamento das taxas ao longo dos anos, é possível observar que a redução foi mais expressiva na população em geral do que entre as mulheres – ainda que, em números absolutos, tradicionalmente os homens sejam os principais envolvidos em crimes letais intencionais”, ressalta trecho da publicação. 

De acordo com o Atlas, em 2023, pessoas negras – pretas e pardas – tiveram 2,7 vezes mais chances de serem vítimas de homicídio do que pessoas não negras. Confira alguns dados que detalham essa realidade:

  • Em 2023, o risco de uma mulher negra ser assassinada foi 1,7 vezes maior do que o risco de uma mulher não negra; 
  • No mesmo ano, foram registradas 2.662 mulheres negras vítimas de homicídio, o que representa 68,2% do total de homicídios femininos;
  • Ainda em 2023, foram registrados 35.213 assassinatos de pessoas negras no Brasil, uma variação de -0,9% nos números absolutos em comparação a 2022;
  • A taxa de homicídios de pessoas negras em 2023 foi de 28,9 por 100 mil habitantes, com variação de -2,7% em relação a 2022, enquanto a taxa de assassinatos de pessoas não negras foi de 10,6 em 2023, -1,9% comparado a 2022.

O Atlas da Violência enfatiza que os números, no caso das mulheres, evidenciam o trágico encontro entre a cultura patriarcal e o racismo estrutural, ambos fortemente enraizados no Brasil. 

Conforme o Atlas, há um aumento nos registros de casos de violência contra pessoas LGBTQIAPN+. Entre os anos de 2022 e 2023, os casos de violência contra homossexuais e bissexuais registrados no sistema de saúde aumentaram 35%, enquanto os casos de violência contra pessoas transsexuais e travestis aumentaram em 43%.

Os autores e as autoras da publicação observam, no estudo, que a produção de dados a respeito da população LGBTQIAPN+ no Brasil é limitada, sendo os dados do sistema de saúde uma das únicas informações oficiais sobre o tema. “Como já informado, eles não indicam motivação do crime, ou seja, não é possível afirmar que os casos de violência contabilizados se originaram na LGBTfobia”, justifica o Atlas. 

Acesse aqui o Atlas da Violência 2025 na íntegra.  

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*Com informações do Atlas da Violência

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