Publicado em
25/04/2025
5º Diálogos Casa Comum foi palco de debate que contou com Eleilson Leite, da Ação Educativa e conselheiro da Revista, e Dri Reverso, da Edições Me Parió Revolução.
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“Nos territórios periféricos, a cultura é um reflexo de muitas ausências que se fazem presente: de oportunidades, de acesso à educação de qualidade, de espaços convivência, de direitos fundamentais. Quando ela emerge nessas quebradas, ela não só denuncia essas ausências, mas cria alternativas: a música, a poesia, o rap são meios pelos quais as pessoas conseguem contar suas histórias e construir coletivamente.”
A frase potente foi apenas uma entre muitas outras falas de Dri Reverso, assistente editorial, produtora e integrante da Edições Me Parió Revolução, um selo independente, organizado e criado por mulheres periféricas. Juntamente com Eleilson Leite, coordenador do Programa de Cultura da Ação Educativa, organização da sociedade civil, com sede em São Paulo e conselheiro da Revista, compôs o debate de lançamento da 12ª edição da Revista Casa Comum, realizado durante o 5º Diálogos Casa Comum, nesta quinta-feira (24).
A dupla conduziu um debate que colocou a cultura no centro da discussão, tecendo relações com a cidadania, pertencimento, resistência, políticas públicas, garantia de direitos, a retomada do setor cultural no Brasil, entre outros pontos. Tudo isso inspirado pela temática central da 12ª edição da revista, que afirma: “Cultura é transformar e resistir.”
A cultura como elemento indispensável para os seres humanos
Eleilson deu início ao bate-papo com uma missão desafiadora: definir o que é cultura e por que esse é um direito fundamental que deve ser garantido a todos. O coordenador pontuou que a cultura não consta entre os direitos sociais consagrados – como saúde e educação, por exemplo -, mas que é fundamental para a sobrevivência dos seres humanos.
“Antonio Candido [sociólogo e crítico literário brasileiro], ao definir a literatura enquanto linguagem de direito humano, dizia que o ser humano é incapaz de viver sem fabular. A gente precisa de histórias. O rádio é muito usado para isso, com os podcasts. As pessoas gostam de ouvir histórias e não suportam viver sem uma fabulação”, explicou.
Cultura: conexão entre passado, presente e futuro
Já Dri Reverso compartilhou com o público que a cultura é o elemento que liga o passado, presente e futuro de um povo, na qual se expressam os valores, a memória e o direito de existir com dignidade.
Partindo dos aprendizados de sua trajetória, ela reforçou a importância de que a cultura construída em diferentes espaços sociais seja observada, reconhecida e valorizada.
“A forma como a gente fala, borda, é expressão legítima de saberes que foram marginalizados, mas que estão sustentando a vida. Os modos de fazer, viver e criar são patrimônio histórico, o que inclui os ‘corres’ dos coletivos, as festas das ruas, as rodas de conversa, o papo que rola dentro das vielas. Isso é cidadania na prática. É dizer que você importa, que sua voz tem valor. O Brasil precisa, sim, reconhecer a potência de quem constrói a cultura nos territórios.”
A retomada do setor cultural no Brasil
Um dos grandes debates trazidos por essa 12ª edição da Revista diz respeito ao processo de retomada do setor cultural no Brasil, um dos campos que mais sofreu durante a pandemia de Covid-19.
Depois de um período de desmonte e rebaixamento do Ministério da Cultura (MinC) ao título de secretaria dentro de outros Ministérios, Eleilson celebrou o momento de retomada não só do MinC, mas de políticas públicas que observam o campo cultural com atenção. A reportagem Em Destaque da edição traz, por exemplo, um quadro resumo com as principais políticas públicas da área, como o Plano Nacional de Cultura, o Sistema Nacional de Cultura, a Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura, a Lei Paulo Gustavo, entre outras.
Em sua fala, Eleilson relembrou a reflexão de Gilberto Gil, que disse: “É preciso acabar com essa história de achar que a cultura é uma coisa extraordinária. Cultura é ordinária!” e resgatou que apenas em 2003, quando o músico assumiu o posto de Ministro da Cultura durante o governo Lula, é que a cultura passa a ter um arcabouço de políticas no Brasil.
Outro ponto de destaque do debate foi a relação que o especialista estabeleceu entre democracia, cidadania e cultura. Para Eleilson, a relação entre cultura e política diz respeito ao sentido mais radical e literal da democracia, algo que vem da base e da organização dos trabalhadores.
A cultura nas periferias que responde as ausências
Dri Reverso compartilhou com o público algumas de suas percepções e aprendizados dos quase seis anos que atua enquanto arte-educadora. Para a assistente editorial, a cultura por meio da literatura abre portas para que jovens reconheçam as próprias histórias e se empoderem para contar suas narrativas. “A literatura periférica para mim é um instrumento de luta e de transformação.”
Tudo isso tem a ver com a leitura que Dri faz sobre todo o tipo de cultura que é produzido nas periferias do país. Ela defende que a cultura é tão pulsante nas periferias, pois é uma forma de resposta direta aos silenciamentos e as ausências historicamente impostas a esses locais.
E convoca: “Valorizar essas manifestações culturais não é só um ato de reconhecimento, mas de justiça social, mostrando que a produção periférica é fonte de saber.”
Fique por dentro
O 5º Diálogos Casa Comum está disponível no perfil do Instagram da Revista Casa Comum para quem perdeu o encontro ou deseja revê-lo.
Já a 12ª edição está disponível na íntegra em PDF, juntamente com a Trilha de Saberes. Baixe gratuitamente e fique por dentro.
O acesso à cultura é um direito, previsto na Declaração Universal dos Direitos Humanos e na Constituição Federal de 1988. Não diferente de outras áreas, a população precisa lutar por sua garantia. Como políticas públicas e a atuação da sociedade civil têm lidado com esse cenário?
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